A mais dura prova de trilha estava prestes a acontecer no meio de uma paisagem paradisíaca no extremo sul de Minas Gerais na cidadezinha de Passa Quatro. Essa prova foi desenhada com muito cuidado pela Kailash de forma a atrair a nata dos atletas de trilha do País e os amantes de corrida de montanha.
Na medida em que a data da prova se aproximava podíamos acompanhar pelas redes sociais o alto nível dos atletas que iam confirmando suas participações. Sabíamos que os melhores estariam lá: Chico Santos, Ivan Pires, Iazaldir, Décio Campos, Cintia Terra, Rosália, Tessália entre outras feras do trail brasileiro. Era uma oportunidade de ouro para ficar de perto desses atletas e poder conversar um pouco com eles.
A prova aconteceu no dia 26/04 sob um céu azul lindíssimo. Tratava-se de um importante treino para a prova que faremos no Mont blanc em Agosto e lá partimos eu, Nana, Edinho, Cris e Thiago rumo ao desafio. Saimos do nosso hotel cedo e nos deslocamos até a saída das Vans ou melhor das “Kombozas”. Levamos 40 minutos morro acima até o Refugio Serra Fina onde estava localizada a arena, com o seu lindo pórtico tombado achei diferente “roots”.
A largada estava programada para as 11:00am, nós chegamos por volta das 10:00 ou seja tínhamos tempo para checar os últimos detalhes antes da partida. A medida que os minutos passavam a energia ia aumentando e as rodinhas de amigos, caras conhecidas iam se intensificando. As feras estavam todas ali e a diversão estava prestes a começar. Com mais experiência no grupo, convidei o Thiago para fazer essa prova em dupla comigo podendo assim compartilhar com ele o meu conhecimento. O que tínhamos em mente? Sabíamos que a prova seria dura e que teríamos que ser conservadores na primeira perna e inteligentes na segunda perna pois teríamos pela frente 2.500 de subidas acumuladas em 30km.
Depois de um breve aquecimento, tomamos o nosso lugar na largada logo atrás do primeiro pelotão com intuito de não pegarmos fila no single track. Nosso grupo se abraçou e a celebre frase foi dita: “vamos nessa galera, divirtam-se”. Ao toque da sirene lá fomos nós rumo ao topo do primeiro cume do Capim Amarelo – 1.500m morro acima, tivemos quase 3km de corrida quando logo a piramba apareceu. E a sensação que a prova tinha começado de fato havia chegado, os passos eram firmes, mas a sensação de que as panturrilhas estavam sendo fritadas era imensa. Como havíamos combinado eu puxaria a subida (pois sou mais lento que o meu parceiro) e o Thiago nos puxaria na descida assim não morreríamos. Na metade da subida e antes da primeira corda um fato pitoresco aconteceu. Vejo o Ivan Pires passar por mim (o melhor atleta brasileiro no último Cruce), seguido de perto pelo Virginio “o rei das montanhas” , além do Iaza e outros feras com experiência naquela região. Conversando com o meu parceiro chegamos a conclusão de que os feras, pelo menos uma meia dúzia deles haviam se perdido no meio da trilha (pensei no meu intimo, “poxa devia ter tirado uma foto) aqueles feras atrás de mim só numa situação como aquela rs.
Ao chegarmos no segundo ponto de corda notei que a Cintia Terra estava com dificuldades para subir, voltamos um pouco e ajudamos a transpor não só aquele mais inúmeros outros obstáculos.
Fomos chamados de anjos da trilha por ela, isso no fundo isso me comoveu pois acredito que podemos correr bem em qualquer terreno e mesmo assim sermos gentis com o próximo.
Alcançamos o cume do capim amarelo e demos de cara com um amante de defensor da natureza o Luiz Gambá que anotava os nossos números de peito enquanto partíamos para descida. Surgiram os tombos, os escorregões, as seguradas nas arvores e assim fomos nós até a passagem pela arena com 3h01m de prova.
Naquele momento tivemos uma assistência vip do diretor da prova, o Tani “pai do Pedro” que nascera a poucas horas. (acho que o Tani nunca mais esquecerá deste dia, pois nasceram 02 filhos que ele concebeu: O Pedro e o KTR rs). Investimos 08 minutos nessa parada para nos abastecermos e enchermos o meu camel back, pois tinha na minha mente o briefing da prova brilhantemente palestardo pelo Rafael Campos, dizendo que não haveria agua nessa segunda perna. Enchi as minhas garrafinhas e meu camel e lá fomos nós. Logo de cara e sem muito respiro começamos a subir, subir, subir. Nessa subida interminável me deparei com o meu primeiro desconforto, uma dor no estomago que não me deixava comer nada sólido. Gentilmente o meu parceiro me perguntava e ai Cição vc está bem “véi”? (mantive a calma e engoli o choro e disse: estou bem sim vamos em frente). Pedi pro Thiago pegar uma sal de frutas que sempre carrego na minha mochila pois sabia que aquilo poderia acontecer, mas como falhas acontecem tinha esquecido de colocar o sal de frutas na minha mala. Definitivamente sou um cara abençoado, não demorou muito nos deparamos com o Fernando atleta top (amigo querido que conheci no cruce de los andes), que carregava uma garrafa de coca cola, na maior cara de pau, pedi um gole..aquela coca cola eu tomei com tanta alegria e satisfação que o alivio foi imediato e com o perdão da expressão soltei uns dois “arrotões” e voltei a viver na prova rs.
Na medida que o tempo passava a inclinação aumentava bem como os pontos de acessos com cordas, era como se estivéssemos escalando uma parede, ajudávamos um ao outro a transpor as principais barreiras. Ao chegamos ao cume do Tijuco Preto, já estávamos de corta vento pois a temperatura tinha caído drasticamente e não demoramos muito começamos a descer, perdi as contas de quantos tombos eu levei (detalhe usei o tênis errado para este tipo de prova). Ficávamos pensando no restante do nosso grupo: Nãna, Edinho e a Cris além dos demais atletas que passarem por aqui durante a noite irão sofrer um pouco mais que a gente pois sem luz natural a corrida fica bem mais técnico.
Puxei um pedaço da descida e depois o Thiago começou a nos puxar, lá no fundo eu escutava a voz da locutora oficial da prova e víamos o sol se pondo devagarinho nas montanhas. Daí eu soltei uma pérola ao meu parceiro: “Today no headlamp MTF” pau no gato…Baixou o Kilian Jornet no meu parceiro a fera começou a descer numa velocidade animal e negativamos a segunda perna com 2h59. Fechamos a prova em 5h59m, confesso que fui as lágrimas por correr com um grande amigo que o esporte colocou na minha vida.
E para fechar acabamos sendo premiados com o segundo lugar na categoria e fomos ao pódio. Ganhamos troféus, medalhas, coletes de Finisher além de um din din que trocamos por materiais da patrocinadora máster do evento.
Só tenho que agradecer ao meu parceiro Thiago pela paciência, aos meus amigos mais do que especiais: Cris Faccin e Edinho. Um salve pro Fernando (sua coca cola) salvou a minha vida rs. A minha linda esposa, por curtir na mesma intensidade esse esporte que eu amo tanto, além é claro de dedicar essa prova ao meu coach: Sinoca.
Prova: KTR – Kailash Trail Run
Distância: 30km
Tempo de Prova: 5h:59m
Meta: Chegar em até 6h:30m
Tempo: Céu Azul no inicio – Nublado e Frio no Final
Equipamentos:
Mochila: Salomon
Relógio: Garmin
Tênis: Salomon S-Lab (não funcionou pra mim naquele terreno pois estava bem molhado). Deveria ter usado o Salomon Speed Cross 3
Bandana: BUFF (essa me ajudou com o frio e com o suor)
Meia: Compreesport
Óculos: Frogskin
Hidratar: Exceed, R4, Agua
Alimentação: Sandubinhas, Pure de Batata, Gel Accel, Capsulas de Sal e BCAA
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