KTR é conhecida como uma das provas de montanha mais duras do Brasil. Mas, sem sombra de dúvidas, pode ser intitulada também como uma das mais bonitas. Em 2014, conquistei um honroso segundo lugar, na extinta categoria de duplas junto com o meu amigo Thiago “Mini Cooper”.
Neste ano eu não tinha a menor pretensão de fazer essa prova, pois não sabia se ela entraria na minha programação para o Desafio dos 80K das Agulhas Negras em maio. A única certeza que tinha era de que iria acompanhar a minha esposa na sua jornada pelo KTR 2015. Ano passado ela havia levado 10 horas para finalizar, tamanha dureza do desafio.
O tempo foi passando e a data da prova se aproximando, os amigos mais próximos me perguntavam se eu iria participar ou não. Acompanhava com atenção as notícias nas redes sociais de que o evento iria contar com os principais atletas de trail do país e até mesmo atletas do exterior.
Chegando no fim de semana anterior ao da prova, percebo que a minha planilha de treino me reservava um longão de 30K. Então, pensei comigo: “agora juntou a fome com a vontade de comer”. Sem perda de tempo pedi ajuda do sempre gentil, Tani da Kaylash, que permitiu que eu me inscrevesse.
Partimos para a cidade de Passa Quatro e fomos direto retirar o kit da prova no Hotel das Hortênsias. Guardada as devidas proporções, vi uma organização impecável, digno de um evento internacional. Já na entrada, os atletas passavam por um pórtico gigantesco com o nome da prova. Havia setores para retirada de número, retirada de camiseta, checagem dos equipamentos obrigatórios e tudo que uma grande prova nos reserva.
Na medida que o tempo ia passando, o que víamos era um enorme agito por parte dos atletas, amigos e caras conhecidas. Todos aguardavam pelas orientações do diretor técnico da prova, Rafael Campos.
Na manhã do dia seguinte acordamos cedo, tomamos uma café reforçado e seguimos para a largada dos 26km. Pegamos um pouco de trânsito na subida, o que fez com que chegássemos faltando poucos minutos para o ínicio da prova.
A arena estava tomada por atletas. Dava para sentir a energia que pairava sobre nós. Imagine estar um lugar lotado de competidores, cercado por montanhas , uma mata verde infinita e, de quebra, estar alinhado atrás do mais belo pórtico de largada que existe no Brasil. Enquanto aguardávamos a buzina para partir, desejei sorte ao Fernando e a minha esposa. Fooooooooooommmmmmmmmmmmmm!!! Foi dada a largada.
Já tinha experiência suficiente para enfrentar as montanhas do Capim Amarelo com 2.526m e do Tijuco Preto com 2.256m, pois além da prova que havia feito, tive a oportunidade de ter treinado na região algumas vezes. Para se ter uma ideia da dificuldade da subida, seria quase a mesma coisa de correr em uma esteira com a inclinação constante acima de 10% por algumas horas.
Apesar de ter sido indagado de quanto tempo levaria para fazer a prova, estava com a estratégia na cabeça. Faria a primeira parte de maneira mais conservadora e a segunda apertaria o passo para aumentar o ritmo. A única certeza que tinha, era que se tomasse as decisões corretas durante toda a jornada, sairia melhor do que no ano anterior. O primeiro quilômetro foi uma pancadaria geral, todo mundo voando e eu ainda tentando encontrar o meu ritmo ao mesmo tempo que buscava me posicionar para evitar fila na subida.
A prova foi avançando e pelo meu relógio eu controlava o tempo de prova e a altimetria. Com essas informações eu saberia o quão distante estaria do ponto mais alto e o total de subidas e descidas restantes. Uso meu alerta mental de hora em hora para verificar se estou me hidratando, alimentando e tomando os suplementos necessários. Como havia chovido dois dias seguidos, o terreno estava escorregadio, as pedras lisas e em algumas partes havia cordas para que os corredores pudessem passar com segurança.
Pouco depois da metade da subida encontrei com o vegano, Pedro Lutti da Upfit. Ele não estava se sentindo bem, perguntei se precisava de algo, mas ele disse que dava para seguir. É protocolar, educado e faz parte dos modos da maioria dos ultramaratonistas ajudar o próximo. Espero que atitudes como essa nunca terminem.
Quando o relógio bateu 1h31, alcancei o cume do Capim Amarelo, dali em diante enfrentaria a primeira descida. Sabia que poderia desenvolver bem aquele trecho. No começo, peguei um trânsito por conta da trilha estar muito escorregadia e também pela falta de experiência de alguns atletas em enfrentar situações como aquela. Mas não podia reclamar, segurança sempre em primeiro lugar.
Sinto-me realmente bem, penso que tenho que aproveitar o máximo do tempo até a Toca do Lobo. No meio do caminho dou de cara com um atleta super carismático. Aquele do vídeo “Brutoooo Demaissss”, “Bruuutooo Demaisss”. Imagine só, o cara estava a mais de 2000m, só para incentivar os atletas. Além de seus gritos “Bruto demais”, “Ninguém quer ser feio”, ele distribuía gomos de mexerica aos corredores. Pqp! Achei isso espetacular, um super exemplo de parceria e amor ao próximo.
Sigo minha jornada e o suor começa a descer pelo o meu rosto e me sinto bem demais para reduzir o ritmo….
Continua….no próximo post!!!
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