Falta pouco pra largada. Estamos em uma ultramaratona em honra à Majestosa Pacha Mama, que nos leva a conhecer a Quebrada de Humahuaca, a cultura e os sabores de um povo que vive cercado por montanhas coloridas…
Situada no norte da Argentina quase na fronteira com a Bolívia, Patrimônio da Humanidade na categoria Paisagem Natural, foi essa a região que escolhi pra realizar o segundo desafio do ano.
Procissões, ritos e costumes… O quadrante atrai muitos turistas pela beleza das suas montanhas e também pela culinária. Humahuaca, ao lado de Tilcara e Maiamará, mantém antigas celebrações de fé e de culto aos ancestrais – a se destacar a procissão da Semana Santa em Tilcara, que põe mais de 50 mil peregrinos seguindo entre a cidade (2.450m de altitude) e a Igreja Al Abra de Punta Corral (3.800m).
Pacha Mama – A força das lembranças
Sei do medo de esquecer os detalhes desta história, do que significa esse rompimento de barreira – não apenas pela distância, nem porque se trata de uma prova de auto-suficiência.
É possível compartilhar algo depois de mais de um dia correndo? O que sentimos? O que vivemos?
Às vezes, ficamos na dúvida se o ato de compartilhar fará com que as pessoas consigam sentir o que sentimos. O vento na cara, o sol de rachar, o chão seco e o ar rarefeito que insiste em não preencher nossos pulmões. Podemos tirar fotos, fazer um ou outro vídeo, mas nada será igual à emoção que se vive ali.
Não será possível fazer com que os olhos dos outros chorem como os nossos chorarão, nem que o coração de cada um bata como os nossos baterão. Talvez isso seja demasiado forte pra nós, talvez a gente queira apenas de um olhar de aprovação diante de algo que estamos prestes a fazer.
Precisamos que as pessoas que nos amam aprovem nossos feitos, dos quais elas inclusive fazem parte, direta ou indiretamente. O compartilhar, portanto, carrega a esperança de se sentir acolhido por essas pessoas, pois são elas que nos dão força pra acordar no dia seguinte e continuar.
Também acontece de a memória ser traiçoeira fazer a gente se sentir bem, esquecer as dores e os percalços da trilha, lembrar só das partes eufóricas. Assim como deixamos pra lá os treinos péssimos, quando o que mais queríamos era voltar pra cama e descansar o resto do dia, e que lembramos fácil daqueles dias em que tudo se encaixou perfeitamente.
E temos sempre a sensação de que estamos piores do que no ano anterior, que não será possível alcançarmos as metas colocadas. A questão é que vamos ficando ansiosos só de pensar nisso.
Capilla del Abra de Punta CorralA montanha dá todo o tempo necessário pra que a gente esteja só com a gente mesmo. Isso é bom. Ao mesmo tempo, ela nos inunda de emoções que pedem pra ser compartilhadas – afinal de contas, nunca estamos realmente sozinhos no caminho.
A hora da largada se aproxima. Tenho desenhado em minha mente boa parte do percurso: postos com água, postos de controle virtuais, altitudes mapeadas…
(Continua…)….texto feito a 4 mãos, dois corações e muito por mim e pelo Marcelo Sinoca…
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