Eu não corro para ganhar a vida. Treino para correr em montanhas e fazer provas de longa distância. Em muitos aspectos, isso é uma delícia. As coisas exigidas por este hobby são, na maioria das vezes, as que eu mais amo fazer. Posso correr, percorrer trilhas, escalar montanhas e viajar pelo mundo. É o tipo de hobby que sempre sonhei em ter e quero mantê-lo por um longo tempo. Sinto que sou o cara mais sortudo do mundo.
Mas ser um corredor “amador” não é nada fácil. Trabalhando em um emprego formal, cumprindo horários, resta a mim, assim como para outros milhares, treinar nas extremidades do dia e aos finais de semana. Tudo isso é bem divertido, apesar de necessitar de tempo, esforço e dedicação.
A única coisa que os meus familiares e os meus amigos me pedem, geralmente, é que eu vá bem nas corridas. Isso não é uma coisa tão razoável de pedir, pois cada prova é uma prova, cada treino é um treino. Não que eu me sinta forçado a fazer algo, mas me cobro em realizar um certo número de corridas com qualidade. Por mim e por eles.
Não existe pressão alguma vinda do lado de fora, mas uma pressão que vem do meu interior. Estou em casa – é 1h da madrugada -, tentando processar as provas que realizei neste ano e pretendo compartilhar todas aqui neste espaço. Muitas coisas vão passando pela minha mente. São intensas as emoções que atravessam o meu coração.
Me sinto mal quando me inscrevo para uma prova e desisto sem nem ao menos ter ido competir. Aquela pressão interna aparece de forma cavalar. Eu me sinto mal por não terminar o que comecei. Valorizo os corredores que, se estão num dia mau, optam por desacelerar e acabam terminando a prova no meio ou final do pelotão. No final do dia, eu quero ser o tipo de pessoa que termina o que começa, pois o desafio é mais do que ganhar.
Trata-se de experimentar as diferentes variáveis que uma corrida de montanha pode apresentar.
E me sinto mal por decepcionar meus familiares e meus amigos. Quando eu disse que não tinha conseguido terminar o CCC, em 2010, as perguntas eram sempre “Oh! Por quê? O que houve? O que aconteceu?”. Não porque eles não me apoiaram ou deixaram de acreditar em mim, mas não sabiam, até então, o motivo do fim da prova, já que essa foi uma corrida totalmente diferente, na qual a montanha deu as cartas e poucos conseguiram ir adiante.
Por isso, fiz da corrida de trilha um estilo de vida e não uma obrigação que me garante o sustento. É se é por puro prazer, me sustenta, mas de outras formas: de inspiração, de garra e de dedicação. E se todos nós optarmos por dedicar algum tempo e esforço para atividades que nos interessam, teremos sim o sustento, mas de nossas necessidades interiores.
Hoje sou incrivelmente feliz por ter a oportunidade de realizar um sonho em um nível amador, mas com uma agenda de semiprofissional. E quero acreditar que tanto eu, quanto as pessoas que acreditam em mim, possamos melhorar a cada dia.
Por fim, minhas experiências até agora me mostraram, que os melhores aprendizados vêm de falhas, por isso não tenho medo de seguir em frente, sempre esperando ser brindado com alguma sabedoria, seja no curso dos meus treinos ou nas exigentes provas de montanhas.
Sorte (na vida e nas corridas) para você que teve paciência de ler até aqui. ; )
Eu não corro para ganhar a vida
Publicado em 29 de outubro de 2013
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