O pior. O fim. O melhor.

Publicado em 17 de outubro de 2013

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A última subida, meus amigos, era um verdadeiro paredão de 3 km, demorei um bocado para conseguir chegar ao topo. Tinha que fazer mais força com uma perna do que com a outra isso e isso acabou me cansando bastante, o que poderia me prejudicar adiante, já que tínhamos ainda uma descida absurda composta, no início, por uma corda para que nos pudéssemos descer em segurança e, depois, por pedras. Por fim, seríamos agraciados por uma trilha estreita que findava numa ponte de madeira, aparentemente muito frágil (só aparentemente, mas balançava muito).

Km 102
Km 102

Àquela altura km104, já não gozava de forças para desenvolver uma velocidade da qual estava acostumado, fui ultrapassado por diversos Ultras. Tinha me programado para fazer toda essa prova em 25 horas, mas ao olhar o relógio percebi que não seria possível. E a estratégia era simplesmente cruzar a linha de chegada.

Km 109
Km 109

Às duras penas consegui alcançar o km 111, em Les Houches, e faltando 8 km para o fim, as minhas forças vinham do coração e não mais das pernas.
Dores surgiram em diversas partes do meu corpo, uma após a outra. Entrei na trilha que tinha como destino Chamonix e ainda consegui trotar por alguns kms quando, de repente, tive o melhor encontro da minha vida. Dei de cara com a minha esposa que veio ao meu encontro a fim de me apoiar. Uma mistura de emoção com alegria tomou conta do meu coração e algumas lágrimas surgiram. Ela me acompanhou até a chegada e pouco antes de entrar no centro de Chamonix, peguei uma bandeira grande do Brasil e me cobri como se fosse o meu manto sagrado.
Feliz com o final de mais uma descida.
Dali em diante, sabia que era a minha apoteose, a cidade já havia acordado, as ruas já estavam lotadas, as pessoas me aplaudiam e saudavam  me chamavam de campeão, gritavam Bravo!, Supérrr. A bandeira brasileira continuava me cobrindo e a cada passo que eu dava vinha um filme na minha cabeça: a minha mãe rezando por mim; lembranças do meu pai ainda vivo me dizendo “DIN (assim como ele me chamava), nunca desista do seu sonho”; das minhas palavras às minhas filhas Valentina e Rebecca: “Papai vai conseguir”; dos amigos que tanto me incentivaram e treinaram comigo (alguns deles, como o Edinho, Thiago, Daniel, Cris) e o André, que me colocou na vida das trilhas. E jamais poderia esquecer a minha equipe de suporte. A começar pela esposa que amo demais, que sempre me incentivou e esteve ao meu lado (inclusive em muitas provas), do meu técnico Gabriel (esse é o cara!), que tinha certeza de que eu conseguiria. Pensava também o quão orgulhosos essas pessoas ficariam de mim e, principalmente, o quanto eu estava orgulhoso de mim mesmo.
A cada pessoa que me saudava eu agradecia, e a cada mão que eu tocava eu me sentia como um herói. Faltava apenas uma curva fechada a esquerda, pensei “Meu Deus, eu consegui, obrigado”. Parei embaixo do pórtico final, frente à igreja de Chamonix, virei para o público e para a cidade e me curvei como se agradecesse ao Mont-Blanc a oportunidade que ele me deu de concluir essa que é a mais bela prova de trilha do mundo.
Ganhei um abraço emocionado do meu sogro, como parecendo não acreditar na minha chegada, minha sogra me esperava com um sorriso doce e recebi um beijo recheado de amor da minha esposa. Alguns brasileiros amigos estavam lá e registravam com fotos a minha emoção.

A emoção da missão cumprida. 119 km, 27h56.
A emoção da missão cumprida. 119 km, 27h56.

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