Fiz inscrição para essa prova no inicio de 2014 sem muita convicção se faria, decidi muito com ajuda do meu técnico Sinoca e pela dica do cara que me colocou nas trilhas o André.
Era a segunda edição desta prova que é considerada a mais difícil do Brasil. Para termos ideia, entre subidas e descidas acumulavam mais de 6000 metros, tínhamos pela frente 4 montanhas entre elas: o Morro dos Perdidos com 1.476m, o Morro Araçatuba com 1675m e entre elas uma montanha com 1.355m e outra com 1.200m.
Para deixar a prova ainda mais interessante, a mesma dava 1 ponto para o Ultra Trail du Mont Blanc, uma das principais provas do mundo do trail. Para participar dessa prova os atletas precisavam fazer uma pré-inscrição, comprovando que haviam feito alguma prova de montanha. Reparei que essa maratona conseguiu reunir além de vários atletas profissionais além de muitos ultramaratonistas “cascas grossas”, enfim só tinha gente preparada.
Tinha estudado bem os detalhes dessa prova cumprindo a risca todo o plano de treinamento, era sabido que a maior parte do percurso era formado por trilhas extremamente técnicas com subidas íngremes e descidas insanas. Na sua primeira edição em 2013, essa maratona já impôs respeito, o clima foi de frio intenso e de tempo fechado e quando eu olhava os resultados percebia o “tamanho” da encrenca que teríamos pela frente, podía ver que um dos maiores ultras do nosso País o Chico “gente fina” Santos, havia fechado os 44km com 5h:49 horas e apenas 16 precursores encararam o desafio. Sabia que tinha que exercer alguns dos mandamentos dos ultras: planejamento, paciência, humildade e força!
Saímos de São Paulo rumo a Curitiba, eu, a Nãna corredora da Upfit e a Cris da Redcalangos e lá encontraríamos o Fernando que já foi o meu “anjo da guarda” já falei dele por aqui no post do KTR e a Giovanna sua fiel escudeira. A previsão do tempo no início da semana tinha nos mostrado entrada de uma frente fria com chuva um dia antes da prova. Como eu monitorava o tempo todos os dias…, a minha esposa me falava para parar de olhar essa previsão, pois esse negócio muda toda hora rs…, no fundo eu sabia que aquela informação mudava alguns itens do planejamento e se a previsão se confirmasse isso me deixava um pouco mais apreensivo… falo dessa forma, pois lembrava das imagens do que foi a prova em 2013. Mas chegando em Curitiba , o que víamos era um dia frio mas com um lindo céu de brigadeiro.
É chegada a hora…como tínhamos ficado no centro de Curitiba combinamos de irmos em comboio até arena de largada que ficava cerca de 50 minutos dalí. Acordamos as 4:20am juntamos as nossas coisas, tomamos um café rápido e lá fomos nós pegar estrada.
Naquele momento a temperatura no relógio do carro era 1,5C, sentia a Nãna muito calma e tranquila ao meu lado e no banco de trás uma ofegante Cris, talvez um pouco ansiosa por causa da temperatura e da viagem que não acabava.
Chegamos na arena ainda no escuro nós ouvíamos as ultimas instruções sobre a checagem do material obrigatório, entre eles e talvez o mais “chatinho” era o de vestir a camiseta da prova por cima de qualquer coisa que estivéssemos vestidos, tudo obviamente por uma questão de segurança, pois passaríamos por áreas particulares.
Passamos pela checagem de equipamentos: lanterna de cabeça, corta vento, mochila de hidratação, cobertor de emergência e apito. Desejamos boa sorte uns aos outros e foi emocionante ver que ao nosso lado, grandes feras que estavam prontas para voarem, entre eles: o Sinoca (Northface), Chico Santos (Kaylash), Gilliard, Cleverson, Leonardo Meira, Leonardo Torres, Paulo Barbosa, Tiago Sassi, Gabriel, enfim só canela fina.
Enfim havia clareado e procurei a Nãna para dar um caloroso boa sorte, procurei-a por alguns segundos e a encontrei lá no fundinho, quietinha na boa, talvez se perguntando e torcendo para que nenhuma dor a incomodasse durante o percurso, pois vinha de um bom período sem correr, apenas pedalando, largou em última, fez a metade da prova praticamente sem dor alguma completou os 22km abaixo das 5 horas que o tempo de corte.
Voltando a minha largada…, comecei devagar procurando o aquecimento ideal, não sentia os meus pés e ao mesmo tempo ainda travava um pequena briga com os meus trackpools (vamos chama-los de “pauzinhos”) pois fazia muito tempo que não os usava. Era um tal de “assoviar e chupar cana” ao mesmo tempo, ajustava altura dos pauzinhos, outra hora era o ajuste da mochila, enfim os 6 primeiros km serviram para praticamente isso: aquecer e ajustar, aquecer e ajustar. Via alguns rostos conhecidos indo num ritmo parecido com o meu, aquilo era de certa forma um conforto para mim. De longe avistei uma mulher, uma loira cabelo solto e que corria com um estilo todo peculiar, praticamente sem nenhuma proteção contra o frio, pensei com os meus botões ou essa mulher é do sul do País ou é gringa (vendo seu nome na classificação final concluí que trata-se de uma gringa com sobrenome Hilmman, finalizou a prova em segundo lugar feminino).
No ataque ao morro dos Perdidos, pude perceber o quão bela seria aquela corrida, pois para onde quer que olhássemos tínhamos uma imensidão verde que ia até a linha do horizonte. O sol dava o ar da sua graça e a sensação é a de que corríamos com um ar condicionado ligado rs. Pude perceber também a preocupação da organização com os atletas, pois haviam socorristas e staffs por inúmeros pontos do percurso, além de uma marcação perfeita das trilhas, isso sem dúvida nenhuma nos passou a certeza de que eram profissionais que cuidavam da prova. Como havia chovido muito no dia anterior, logo na primeira trilha fechada com 4.5km de prova levei o primeiro “capote”…tratei de rir daquela situação e falar em voz alta…bem vindo a sua prova começou rs atingi o cume do Morro dos Perdidos e ali comecara a primeira descida, primeira parte num single track onde eu acabei passando a gringa e mais alguns atletas e de longe fiquei perseguindo um atleta longelineo um cara mais alto do que eu, alternávamos as posições até chegarmos numa descida de uns 2km de estrada de terra, onde podemos ficar lado a lado e trocarmos algumas palavras…ele: ”sensacional a sua bandeira do Brasil isso sim é que ser brasileiro” eu disse “muito obrigado, adoro carrega-la acho que me dá sorte”, me perguntou ainda se eu fazia corrida de aventura, daí eu disse que não, só prova de montanhas. No final dessa descida, entramos num single track e não demorou muito para avistarmos a cachoeira dos perdidos uma beleza da natureza.
No km22 tínhamos o tão temido corte da prova, assim que me aproximava dei de cara com o Fernando “anjo da guarda” saindo para continuar a sua prova, acabei passando com 3h:02m sabendo que a segunda perna seria muito mais difícil que a primeira.
Acabei cometendo um pequeno erro naquele momento, tomei uma sopa para tentar me esquentar, mas ela acabou fazendo um “baticubum” no meu estomago…nessas horas a gente fica refletindo…por que diachos você tomou aquela sopa sendo que em nenhum treino você testou algo parecido? Preciso solucionar esse problema era só o que pensava, recorri ao bom e velho sal de frutas, dei uns “arrotões” e logo aquele mau estar passou.
A prova se desenrolava morro acima, fui ultrapassado por uns 10 atletas, corredores amigos que vira e mexe um perguntava ao outro como estava. Mantive a concentração e administração da minha hidratação, pois já não tinha mais tanta agua e precisava cuidar para que não acabasse numa área sem agua. No alto do morro Araçatuba no km30,7, pude me reabastecer com um pouco d´gua e a partir dali começava a descida.
Toda corrida tem o seu momento de decisão e a trilha coloca cada corredor no seu devido lugar.
Como um cabrito das montanhas, fui atacando as descidas tentando poupar os meus quadríceps, fui passando alguns colegas na medida em que a descida perdurava. Ainda continuava administrando a minha agua e na primeira oportunidade em que cruzei por um rio, enchi as minhas duas garrafinhas como num pit stop de uma Ferrari rs.
Avistei a placa do km40 e continuei ganhando algumas posições, quando foi no 42km e para a minha alegria avistei o Fernando e brinquei com ele, Fala aeeeeeeee Fernandooooooo adivinha quem chegou ??? ele putz Cição, dei uma virada no pé e está me incomodando…disse a ele: “bora” terminar essa bagaça juntos”… por fim era um dando apoio pro outro, ele abria nas subidas e eu nas descidas e assim terminamos literalmente juntos como top 20. Fomos recebidos por nossas esposas, naquele momento eu sabia que a Nana tinha ido super bem até o km22, achando por bem não forçar (decisão sábia, eu a admiro muito por ter essa consciência e já foi me dizendo que em 2015 vai voltar para fazer os 44km) e a Giovanna que o recebeu com um longo abraço.
Dalí em diante era torcer e esperar pela “Anna Frost Brasileira” a nossa guerreira Cris Faccin, o mestre Sinoca Top 10 na prova já havia se trocado e almoçado rs me perguntara: e ai Cição o que você acha? Eu disse: Não tenho dúvida que ela vai terminar bem e feliz pois o percurso é simplesmente lindo e as trilhas estavam ótimas para correr . Não deu outra, com 9h:01m ela completou a prova em 6 lugar sorrindo e bestificada com a beleza e organização da prova prometendo que no ano que vem voltaria.
Fiquei muito emocionado, pois aquelas horas de prova traduziram meses de treino e dedicação acordando cedo faça chuva ou sol. Lidando por muitas vezes com as dores, mas nunca perdendo o foco!!!
Parabéns a todos os guerreiros que encararam a Maratona dos Perdidos – dura, linda, técnica e bem organizada!
Distância: 47km
Tempo: 7h:11m
Colocação: 17 geral e 4 na Categoria
Tenis: Salomon Contragrip
Track and Pool: Leki
Meia: Compresport
Corta vento: Northface
Faixa: BUFF
Mochila de Hisdratção: Salomon 12l – Slab
Setlist: “maratona dos perdidos” (base rock and roll galo véiiii)
Coach: Marcelo Sinoca
Personal: Gabriel Duarte
“Pau no cat” e bons treinos!!!
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