Já eram mais de 7 horas de prova e eu me sentia muito forte, foi quando cruzei pela primeira vez a minha equipe de apoio. Tinha chegado ao km 50, na comunidade francesa de Bourg St Maurice. Alí eu teria a primeira troca de roupa, encheria o compartimento de água da minha mochila, escovaria os dentes (você não sabe o peso que isso tem, rs. Amir Klink disse certa vez, ao perguntado do que mais sentiu falta em uma expedição na Antardida: “ter esquecido a minha escova de dente”). Em St Maurice foi uma parada rápida, pois além de não ter muitos corredores, tratei de dar agilidade às minhas ações, foram 31 minutos contra os 90 de 2010 (tempo gasto no km 50 no CCC).
A maior injeção de ânimo, no entanto, foi o fato de encontrar pessoas queridas, ouvir da sua família palavras de carinho é uma dose de calor e de incentivo que te faz recarregar as energias. Mas talvez ali, o fato de não ter dado atenção a um pequeno sinal de desconforto estomacal, poderia ter feito com que eu não tivesse tido problemas nos quilômetros seguintes. A ingestão de um simples sal de frutas seria uma boa solução, mas como estava energizado pela minha Equipe-Família, resolvi seguir em frente deixando para resolver este problema na próxima parada, 40 km para frente. Meu primeiro erro.
Sabia que dali em diante, a prova ficaria muito mais dificil. Já se passara os 50 km, tinha feito calor durante todo o dia e a temperatura iria cair tão logo o entardecer chegasse. Dei sequencia na minha estratégia até o quilômetro 66, em Cormet Roselend, era o posto de troca dos Ultras que tinham enviado suas roupas para a montanha via organização (talvez por dois motivos: esses corredores não tinham uma equipe de apoio ou, simplesmente, usaram demais esse recurso para dar sequencia a sua prova). Era um posto importante, pois podiamos nos alimentar, nos hidratar e, para quem precisasse, descansar um pouco.
Aqui algo bem inusitado aconteceu: chegando neste posto, dei de cara com um coordenador/ animador de prova que, ao ver que eu era do Brasil, começou a falar Brésilll ao microfone. E eu não tive dúvida, me aproximei do microfone e gritei para todos BRASIL IS HERE (rsrsrs), isso me fez encontrar alguns amigos, entre eles o Giovanni, conhecido de outras provas no Brasil, e o Decio, ambos extremamente gentis em suas palavras de apoio, além de terem segurarado a minha mochila enquanto eu comia e me hidratava. Pode parecer bobagem, mas quando se chega a um checkpoint, você fica meio desnorteado com tantas coisas que é preciso cuidar ao mesmo tempo, além de manter o foco na prova, por isso toda ajuda é sempre muito bem vinda.
Uma diferença importante das provas de rua e das ultramaratonas é que, nesta segunda, o respeito e a cooperação são muito mais importantes do que pontos e posição. É comum ver alguém “prejudicando” o seu tempo para auxiliar um colega de prova.
É muito justo dizer que o Décio é um corredor muito mais experiente do que eu, ele já fez o TDS e era sabedor do tamanho do desafio, as palavras dele foram de total acalanto quando disse: “Cição essa prova é dura meu velho, mais você está bem demais continue assim”. Já o Giovanni, um querido, me reconheceu como amigo da grande Paula Narvaez: “Você não é o Cição Pau no Cat?”.
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