Leitor, pau no cat!

Publicado em 26 de setembro de 2017

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Eu acredito que as oportunidades aparecem quando decidimos superar os obstáculos. A vida é cheia deles, o que aumentam as chances de erro e de queda. O que muitos não fazem ideia é que o aprendizado pode morar ali, nos intervalos de descuido.
Bati à porta de um deles ainda jovem, quando tentava apanhar uma pipa no telhado. Justo num feriado em que minha mãe, muito católica, havia me dado ordens expressas para ficar quieto, em casa. Era Sexta-Feira Santa.
Típico dia de sol. Meus amigos todos brincando lá fora, na vila. Os minutos de diversão fugiam de mim. Com as pernas formigando de inquietação, não pensei duas vezes quando tive uma brecha: me lancei em mais uma aventura inconsequente para correr atrás do tempo perdido. Coisa de moleque! O resultado? Uma fratura exposta no braço, intensas sessões de fisioterapia e meses longe das quadras de vôlei, esporte que tanto amava.
Esse tempo de muito sofrimento me abriu os olhos para o valor da determinação. No primeiro obstáculo que topamos, teríamos dado ouvidos a um médico que queria me submeter a uma amputação. Minha vida seria um bocado diferente se minha mãe não tivesse interferido com sua obstinação costumeira e assinado os papéis para me tirar daquele lugar, em busca de quem realmente me tratasse.
Desde então, essa é uma palavra que levo para qualquer reunião, trilha ou para encarar provações pela minha família e pelas pessoas que eu amo: determinação. Com uma dose de coragem e um pouquinho de água no radiador, esse combustível me levou longe e colocou minha vida num rumo que me dá orgulho – montanha acima. Literalmente.
Lembro-me como se fosse ontem o dia em que essas letrinhas se tornaram um sobrenome para mim. Eu me preparava para minha segunda trailrun, em Chamonix, França. À época, meu treinador me puxava ao limite, com um planejamento de dar inveja a atletas semiprofissionais. “Força, Cissão, e pau no cat!”, ele gritava. E aquilo penetrava nos meus ouvidos como um brado retumbante. Vibrava os meus tímpanos e injetava potência extra ao meu coração, que fazia a máquina toda correr ainda mais.
Nós falávamos muito de força e determinação naquele tempo. Era do que se tratava aquela expressão, que após despertar muitos risos em mim e meus companheiros começou a pulsar em cada batimento e escorrer pelo meu corpo a cada gota de suor. Logo virou meu nome de guerra nas trilhas. E era de se esperar que alguns quilômetros depois também me alcançasse na vida pessoal e profissional. Afinal, o que não conseguimos conquistar quando focamos no objetivo com coragem e dedicação?
Minha mãe e o trailrun me ensinaram que os altos e baixos da vida nos cobram essa determinação. Diante desse conhecimento, seria injusto seguir nessa trilha sem antes compartilhar o que aprendi com todos os que acreditaram no meu potencial e com pessoas que, por algum motivo, podem se encontrar em intervalos de reflexão, órfãos de um sentido para se recompor e seguir em frente.
Com isso em mente, o tempo, que eu já dividia entre o tênis e os sapatos, ganhou novos companheiros: papel, caneta e tinta. E, como em qualquer corrida, passei meses me preparando e me lancei a uma das provas mais excitantes e desafiantes da minha vida: escrever um livro.

Emoção a flor da pele ao ver tantos amigos reunidos!
Emoção a flor da pele ao ver tantos amigos reunidos!

Correndo na Trilha dos Sonhos é a medalha dessa jornada. Suas páginas reúnem relatos e reflexões sobre a minha experiência no esporte, no trabalho e na vida familiar, demonstrando que a disciplina e a vontade de vencer tendem a nos levar longe. Compartilhar tudo isso é o jeito que encontrei de abrir veredas e inspirar as pessoas a percorrerem o mesmo caminho.
livro
A vista é incrível. A cada passo, a montanha se revela adiante. Mas se engana quem pensa que ela é o destino. O desafio é superá-la e seguir em direção à próxima. Assim, surgirão as oportunidades para realizar nossos sonhos.
Portanto, caro leitor, se você está prestes a cruzar a marquise de largada, ou se já está com os dois pés nessa trilha, força. E pau no cat!
 

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