Cheguei a Coldu Joly, o km 86. Pude fazer todo o processo de comer, me hidratar e sentar para ver, com calma, o que tinha acontecido com a minha lanterna reserva, foi quando descobri que ao cair o compartimento das pilhas se abriu, a sorte foi não perder nenhuma pilha. Resolvido este problema e consegui dar sequencia com nova iluminação. Nessa parada pude ver o meu celular e tinha recebido ligações de alguns amigos e mensagens em especial da Cris Faccin, companheira de treino, e do Daniel Dadi. É impossível não pensar em todos os amigos durante a prova, pois tempo se tem de sobra (rs).
O trajeto entre os quilômetros 86 e 95, foram de descidas e terreno plano, o que foi importante para soltar um pouco as pernas imprimindo uma velocidade maior. Um fato engraçado foi ter enfrentado uma neblina densa e de ter passado por um pasto cheio de vacas, que causavam uma sinfonia dos sininhos de seus pescoços (e não estavam nem ai para aqueles malucos corredores).
Cheguei de madrugada em Les Contamines, uma comuna francesa situada na região administrativa de Ródano-Alpes, e desta vez fui para a minha última troca de roupa. Estava bem frio e a minha equipe estava bem preocupada com a minha situação, pois já fazia um bom tempo que não nos víamos, desde o km 50.
Eu não tirava da cabeça uma estratégia de corrida planejada com o meu técnico, o Gabriel. Se eu chegasse ao km 95, nada mais iria me parar, chegaria em Chamonix de um jeito ou de outro, pois faltavam apenas duas subidas insanas e duas descidas destruidoras. As descidas eram as piores para mim, pois além de serem verdadeiros penhascos, eram formadas por pedras, muitas dessas soltas.
Lá veio ela, a subida insana no Km 99. Mas lá estão elas… da lua e das estrelas iluminando as montanhas, resolvi atacar a penúltima descida e por um segundo cometi mais um erro bobo, porém gravissimo: tirei os olhos da trilha por um instante para arrumar a passagem de agua da minha mochila e acabei pisando em um buraco, prendi meu pé, torci o tornozelo e bati forte a minha canela. Naquele momento pensei que o sonho tinha acabado pelo barulho que fez e pela dor que senti. Parei no mesmo instante, respirei fundo e aproveitei o corpo quente para continuar a correr, mesmo “manquitolando”.
Aqui tive mais uma prova de que toda atenção é pouca. Toda atenção é pouca.
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