O penúltimo longão antes do Desafio das Agulhas Negras, foi pelo menos pra mim um divisor de águas. Perder este treino ou parar no meio estava totalmente fora de cogitação, digo isso pois não estava totalmente confiante na realização deste. A minha luta era decidir: a vitória ou a derrota? Ser um vencedor ou um fracassado? Muitas vezes me pego pensando, quantas vezes o meu cansaço destruiu as minhas pernas, me fez perder o meu senso de tomada de decisão ou simplesmente me fez querer parar. Para vencer mais esta etapa de preparação para os 80k do Desafio das Agulhas Negras, não podia depender somente das minhas pernas, mas sim da força da minha mente.
Largamos logo pela manha, dávamos as nossas primeiras passadas, ao mesmo tempo em que olhava pro chão e via o tênis do Sinoca, um northface, cercado por S-Labs, ouvia os nossos passos que pareciam uma marcha constante e determinada de que iríamos enfrentar muitos kms pela frente.
Quando nos preparamos para grandes desafios, nós ultramaratonistas não podemos temer o vento, a chuva, o frio, o barro, a lama, o quanto você vai subir ou descer. Mas confesso que agradeci muito a Papai do Céu por nos ter brindado com uma manha de céu nublado e de temperatura bem amena.
Fatos pitorescos aconteceram neste treino, ainda nos primeiros kms vínhamos conversando uns com os outros, passávamos por uma espécie de aquecimento das nossas “carcaças”. Sinoca, que estava ao meu lado falava com muito entusiasmo do percurso que faríamos, quando derrepente num piscar de olhos, o mesmo sumiu. Olhei para trás incrédulo e todos nós ríamos do “tombasso“ que ele havia levado, todos pensavam justo o nosso Coach tomou um rola e logo no inicio do treino, qualquer um de nós pode ir para o mesmo caminho mais cedo ou mais tarde.
Não demorou muito e a trilha fez a sua segunda vitima, Cris a Anna Frost Brasileira, acabou escolhendo um lugar para pisar e afundou sua perna direita até o joelho no mais puro barro preto. Essa primeira perna, nem era bem um single track, mas o caminho deixado por motoqueiros e jipeiros enganavam bem nós ultramaratonistas. Um coisa que aprendi com o meu técnico, é preciso sempre ter os planos “b”,”c” e “d” pois o a todo momento estamos tomando decisões nas trilhas. Parecia mesmo que seria o dia dos tombos, momentos depois que fez a escolha errada de caminho foi o Thiago Mini Cooper, era barro para todos os lados, só escutei a frase “Baralho Velhoooo, da uma olhada nisso” não tínhamos completado nem 1 hora de treino e 3 dos 5 que faziam aquele longão já tinham caído.
Depois de uns 8kms terminamos essa trilha e entramos numa estrada de terra rumo a Represa de Cotia. Sinoca, eu e o Mini formávamos um bloco, eramos seguidos a poucos minutos pela Cris e na sequencia pelo Dadi. Como o Dadi voltava de um bom período sem treinar, ele foi orientando a voltar da represa pro carro, pois assim o seu volume seria adequado ao seu momento.
Comecei a sentir alguns incômodos na minha coxa esquerda e sempre quando isso acontece, procuro tomar as decisões rapidamente e pensar de forma positiva. Mantras positivos fazem parte da minha preparação, as vezes o cansaço não deixa que eu encontre os meus mantras, tem uma frase do técnico Bernadinho que eu gosto muito (acho que é dele) que diz mais ou menos o seguinte: “A arte de se preparar tem que ser maior do que vencer”, sou réu confesso, eu AMO treinar e desistir não estava no meu script. Quer me ver cabisbaixo, sem energia é ficar sem treinar ou não cumprir o treino por completo.
Os quilômetros avançaram, o relógio já marcava mais de 15km rodados e no final da estrada de terra, entramos num pequeno single track. Sinoca e o Mini abriram e os perdi de vista, mas não demorou muito e demos de cara com a imensidão da Represa Alto de Cotia. Aquele era a hora de dar um até logo ao Dadi que voltaria pela estrada até a nossa base.
A meta a partir dali era contornar a represa rumo a outra margem sentido ao “Verde 2”. Conforme o tempo ia passando o terreno ficava mais técnico, mais difícil de correr. Por vários momentos me lembrei do Cruce de Los Andes de 2012, no ano que a programação de um dos dias apontava 40km e nos final desta distância tínhamos que contornar um lago imenso por mais 5km, atravessando pedras, por vezes entrando no lago com agua até o peito. Por um curtíssimo espaço de tempo, fizemos uma reunião para ver se continuávamos ou se voltávamos. Desta vez o Mini Cooper, falou em alto e bom som: “Vamos fazer essa P….com perrengue” Cerca de 2 ou 3km foram suficientes para consumir uns 50 minutos de tão técnico que era o terreno. Atravessamos com água na cintura, passamos por encostas com pedras pontiagudas, lisas e terrenos encharcados.
A partir dali entramos em um novo e lindo single track, me chamava atenção a quantidade de formigas na trilha, parecia que alguém havia destruído algum formigueiro tamanha a quantidade. No final deste single, chegamos na linha do trem que liga São Paulo a Cubatão, foram mais 1,5km correndo por cima de dormentes , até chegarmos no verde 2 cerca de 15kms de single track com estrada de terra. Todos nós estávamos fortes, nos revezávamos na liderança do grupo, geralmente o Sinoca e o Mini puxavam o trio, dávamos uma segurada no ritmo nas bifurcações afim de esperávamos a Cris que detalhe (estava muito bem focada). Por um momento só eu puxei o ritmo um pouco mais forte, e eles como são meus amigos me deram uma força dizendo que eu estava com o Opalão 6 canecos voando.
Comíamos e hidratávamos de acordo com a evolução do treino. Desta não só a minha estratégia de hidratação como a de todos deu muito certo. Na noite anterior congelei cerca de 1 litro de água na minha backpag e no dia seguinte completei os 500ml faltantes com água natural, resultado passei o treino interior bebendo água gelada, isso para um treino de longa duração venhamos e convenhamos é um LUXO. Com duas garrafinhas, uma com coca cola e outra com isotônico o meu corpo respondeu muito bem.
Terminamos o treino com uma felicidade extrema de missão cumprida.
É isso pessoal!!
Bons treinos!!
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