La trás, indicado pelo meu técnico Marcelo Sinoca, eu havia feito a inscrição para a segunda edição dos 100k do Ultra Trail Torres del Paine. Porem, a direção do Parque não permitiu que a prova se desenvolvesse a noite! Acredito que tomaram essa decisão pelo fato de existirem muitos animais dentro parque, entre eles, guanacos, pumas, huemuls, zorros que parecem pequenas raposas, cavalos entre outros.
Acredito que por essa razão, ao invés de termos uma prova mais longa, passaríamos a ter três interessantes desafios, sendo: no sábado os 50km percorrendo o circuito W e no domingo, teríamos 1km vertical no melhor estilo skyrunning (onde os atletas sobem 1.000m em 4km), para você ter uma ideia do que estou falando, quando subimos o Pico do Jaraguá, aqui em São Paulo, temos um ganho de elevação de mais ou menos 250 metros em 4,5km) e por fim restariam os 25km atravessando campos de neve, trilhas altamente técnicas e muito vento.
Do aeroporto de Punta Arenas, até a largada da prova, no Hotel Las Torres, tínhamos pela frente 330kms, sendo 230k pela Estrada Fin del Mundo e mais 100k pela estrada dentro do Parque Nacional de Torres del Paine. Estrada esta, que por não raras as vezes batia um vento de mais de 100km por hora, chegando a me dar um “medinho” rs.
Nas 72 horas que antecederam a prova, tive a oportunidade de correr nas cercanias do hotel Rio Serrano, afim de testar as minhas roupas de frio e sentir a energia de um lugar belíssimo, fazia um dia ensolarado sem nenhuma nuvem no céu.
Apesar de o regulamento permitir o uso de bastões, decidi que não usaria em nenhuma das provas, não sei porque, era uma forma de homenagear o meu técnico, correria apenas com as forcas das minhas pernas e do meu coração.
No dia da prova, acordamos as 5 da manha, tomamos um transfer do hotel, junto com um casal de corredores canadenses e mais um grupo de turistas que iriam conhecer o parque.
No caminho até a largada, eu vivia uma mistura de pensamentos e sensações, será que enfrentaria o temido vento? Como seria o caminho? Quantas decisões teria que tomar? Haveria muita navegação para fazer? Enfim, o caminho até o hotel Las Torres serviu de introspecção.
Lá tive a honra de trocar algumas figurinhas com o Fernando Nazário (ultimo campeão da prova), além de cumprimentar os demais profissionais que estavam por perto, chilenos, argentinos, atletas europeus e americanos.
Fomos pra largada e me posicionei bem lá no fundo do pelotão, largando em ultimo. Momentos antes do inicio, o Fernando me chamava para alinhar com ele lá na frente, prontamente agradeci mas preferi ficar lá trás.
Acho que pra mim, isso de certa forma funciona, pois na medida em que a prova vai se desenvolvendo a minha corrida também vai se encontrando.
Um fato curioso aconteceu no dia anterior, costumeiramente, leio todas as noticias que saem sobre a prova e foi com enorme surpresa que lendo uma das matérias de um blog chileno sobre os favoritos, me deparei com o meu nome como uma das possíveis surpresas. Achei estranho e fiquei imaginando como “diacho” ele havia parado ali. A única resposta que encontrei, foi provavelmente ter tido o meu nome citado pelo amigo Fernando Nazário.
Logo nos primeiros 5km, a prova disse ao que veio, demos de cara com uma piramba gigantesca, a tropa de elite como era de se esperar havia tomado a dianteira. E tudo isso, acontecia no meio de um vale lindíssimo com corredeiras e inúmeras pontes de madeira para serem atravessadas.
Neste momento, ja me encontrava no meio dos corredores. No 4km, já estava posicionado entre os 15 primeiros e na minha frente, ia com passos firmes o ultramaratonista de Brasília de nome Fabio. Parecia mais um atleta russo do que um brasileiro, devido a sua cor de pele e de seus olhos, tinha uma forca absurda. Mesmo aquele tipo de corrida não sendo a sua praia, o mesmo vinha aplicando toda a sua experiência adquirida nas ultras feitas no asfalto, a destacar (Spartatlhon prova de 250km na Grécia). Vínhamos num ritmo forte, ele acabou dando uma topada numa raiz por volta do 9km e resolveu dar uma segurada, perguntei se estava bem, ele me disse que sim e assim continuei firme na prova.
A partir dali, não tinha como não reparar que haviam na minha frente 8 atletas, 2 americanos, 1 brasileiro, 3 chilenos, 2 argentinos. Aquilo de certa forma, havia mexido comigo e por um segundo ao sair da trilha, tive que pular uma linha inferior de sustentação de uma barraca, e acabei não me dando conta que existia o fio na parte superior, resultado, bati o meu olho direto com tudo e naquele momento achei que tinha sido o fim da prova pra mim tamanha era dor que sentia.
Com a visão meio prejudicada, continuei firme pois me sentia leve e forte, tudo estava perfeito, tempo, alimentação e hidratação funcionando super bem. Até o 25km , éramos eu, um americano e um chileno que corríamos praticamente juntos!
Na primeira descida com muitas pedras e que exigia uma técnica mais apurada, acabei passando o americano que ia na minha frente (atleta patrocinado pela nike) e a partir dali havia colado de vez no chileno que viria passar somente no 34km.
Dali pra frente, acontecia algo que nunca havia vivenciado, liderava o segundo pelotão e corria de cara pro vento, muito perto da tropa de elite. Aquilo novamente mexeu comigo, acima de tudo agradecia a Deus, por estar ali com saúde e fazendo algo que amava.
Como essa corrida é de semi navegacao, por um momento achei que estava perdido, pois corria muito tempo sozinho e havia passado por algumas bifurcações. Ao ver um dos mapas da trilha o mesmo indicava que o Refúgio Paine que era o fim da prova estava perto, cerca de 3km, mas o meu garmin não apontava nem 40k, daí pensei comigo: “fudeu, passei por alguma bifurcação e nao vi, vou ser desclassificado, que merda, tanto treino pra nada”
Cheguei até pensar em voltar até o último posto, afim de consertar o meu erro. Desta forma, sairia mais honrado pois assim faria os 50k do circuito W. Prometi que iria seguir adiante mais 2k e senão achasse alguma indicação de que estava no caminho certo, acabaria desacelerando.
Fiquei muito feliz, quando finalmente encontrei um fotografo da prova e o indaguei se estava no caminho certo, ele me disse sim, este é o caminho certo, mas ainda assim, fiquei na duvida devido a proximidade do Refugio Paine. Comecei avistar a chegada, e ainda a duvida pairava no ar!
Quando encontrei um pc um pouco antes da linha de chegada, o mesmo me orientou que teria que pegar a trilha que nos levava ate o Mirador Grey (ponto que da para ver uma imensa camada de gelo).
Nunca na minha vida, pensei que ao passar perto da linha de chegada e receber uma noticia deste tipo me deixaria tão feliz! Segui firme para os últimos 10km da prova que consistia subir 5k e voltar pelo mesmo caminho. Fui contando os corredores um a um, quando eu cheguei no Grey era o 6 no geral.
Pensei meu Deus que demais! Cruzei a linha de chegada em lagrimas, por inúmeras razoes, mas lagrimas de felicidade! Acabei sendo o primeiro na categoria e subindo no pódio com a bandeira do Brasil!
O KM vertical e os 25km aconteceram no domingo após um minuto de silencio em homenagem ao corredor argentino. Foi uma prova diferente, morro acima com alto nível de inclinação, até 3,5km havíamos tido um ganho de 500m, e os 500m finais tivemos o ganho dos últimos 500metros de elevação. Cruzei o km vertical com 1h04m sendo o 11 no geral e 1 na categoria.
Para que iria fazer os 25km, deveria continuar na rota demarcada, passando pela montanha coberta de gelo e uma descida altamente tecnica, como muitas pedras e cheia de raízes, cruzei os 25km para 3h:45m em 9 no geral e também em primeiro na categoria.
A festa poderia ter sido melhor senão fosse a perda de um jovem atleta argentino por parada cardíaca! Rezei por ele mesmo sem saber quem ele era. Antes da premiação foi feito um minuto de silencio e naquele momento não havia um vento e nenhum barulho que pudesse ser percebido.
Fiquei feliz por mais essa experiência na minha vida mas profundamente chateado pela perda de um jovem atleta.
É isso ae pessoal! Aqui vale uma reflexão? Como vão os seus treinos? Possui uma orientação de um profissional? Como esta a sua saúde? Quando foi a ultima vez que você foi a um clinico e pediu os exames necessários para a prática esportiva?
Abraços
Cicão
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