Fui convidado pela internet para fazer essa maratona, um tempinho antes de ir para o Mont Blanc e desde o primeiro momento disse sim. Tratava-se do aniversário de 40 anos do Gui Pádua, um cara gente fina pelo qual só tinha escutado falar pela televisão e pelas redes sociais. Para os amigos terem ideia de quem é esse meu amigo, agora quarentão, além de ser ultramaratonista, ele foi campeão mudial de skysurf, recordista latino americano de permanência em queda livre mai de 3 minutos, entre outras façanhas.
Para me acompanhar nessa viagem, convidei dois amigos para correrem essa prova na categoria dupla: o Daniel e o Thiago Mini Cooper ambos já citados nos meus posts. Foram prudentes na escolha, haja vista que ambos estavam voltando aos treinos. Saímos de SP e partimos rumo a Cassia em Minas, rodamos por 400km até chegarmos ao nosso hotel.
A sensação de sair de uma cidade grande e ficar uma cidadezinha onde as pessoas colocam suas cadeiras do lado de fora de suas casas e ficam proseando, me deu uma sensação de tranquilidade e de que ali as horas passavam bem devagarinho.
Ficamos num hotel situado bem numa pracinha onde dava para escutar os fiéis cantando ao final de uma missa que estava sendo celebrada na igreja. Largamos as nossas coisas nos quartos e lá fomos nós para a pracinha, afim de comermos algo e obviamente tomar um vinho branco bem gelado.
Coisas simples que guardamos em nossas memórias. Era naquele lugar em que as coisas aconteciam na cidade de Cassia. As crianças brincavam de um lado pro outro, os jovens passavam de mãos dadas para namorarem e alguns bares colocavam suas mesas do lado de fora, para que as pessoas pudessem tomar a sua “loirinha bem gelada” e jogar conversa fora rs.
O dia “D” ou melhor o dia “C” de Calor Insano havia chegado.
A prova largava às 9 da manha e isso me deixava com uma “pulga” atrás da orelha, fiquei pensando com os meus botões “vai fazer um sol e um calor africano”. Partimos em comboio até a fazenda do Gui Pádua e para variar o GPS nos traiu por duas vezes, fazendo com que nós tivéssemos os nossos momentos de um puro rally pelas estradas de barro até que chegássemos a fazenda do Gui Pádua.
Som bombando e logo de cara encontro a Cinthia Terra, uma das principais corredoras de montanha do nosso País e não demorou muito dei de cara com a Fernanda Maciel uma das corredoras mais “casca grossa” do Planeta, admirada e respeitada em todo mundo. Entre as façanhas de Maciel, ela simplesmente correu o caminho de Santiago de Compostela (cerca de 800km), foi 4º lugar no UTMB deste ano e vice campeã mundial de corridas de montanha.
No alinhamento da largada eu olhava pros lados e só via os “chassi de grillo”, ou seja, corredores no melhor estilo queniano. Tão logo a buzina tocou, de cara os “canelas fina” dispararam e eu fiquei no segundo pelotão que era liderado pela Fernanda Maciel, pegamos um single track onde a sequencia eram de atletas conhecidos: Daniel da Trail Runners Brasil, Cesar do Núcleo Aventura, Eu e a Cintia Terra da D-Run.
Bom galera, ao final do km4 me aproximei da Fernanda e a partir dali fui observando os seus movimentos, as suas passadas, a sua hidratação e por fim como ela conduzia a sua corrida. Particularmente foi um aprendizado riquíssimo, tudo isso durou até o 10km, pois dali em diante, com o sol fritando as nossas cabeças pensei comigo, se for continuar no ritmo dela não terminarei essa prova. Não demorou muito a Cinthia também me passou além do Seu Cássio corredor “roots” de Pratapolis que antes de correr os 42km, ele havia pedalado 50km até o pórtico de largada, detalhe: a bike não era nenhuma Specialized, era o melhor estilo “barra forte” quem tem mais 30 anos de idade sabe bem do que estou falando.
Antes de chegar na metade da prova estava com a sensação de que não daria para continuar, o dia estava lindo o meu setlist colaborava comigo, mas o sol africano não dava trégua e por muitos momentos sequer ventava. Ao chegar no km21 encontrei as meninas se hidratando e pensei: continuo ou não. O Daniel e o Mini Cooper, me deram um super incentivo para que eu seguisse em frente. Pensei com os meus botões “Putz estou com bolhas nos pés, o calor que só aumentava e Cição, você nunca desistiu de uma prova, será que chegou o momento? Nessas horas a gente descobre o poder que a nossa mente tem, pensei na minha família e no meu pai (para variar o velho estava lá comigo) e decidi quer saber??? vou continuar e curtir.
Olhei para a minha mochila, vi o quanto eu tinha de comida e tive ajuda da Maciel para encher a minha camel momento especial cá entre nós receber ajuda e o incentivo de uma das melhores corredoras do mundo por si só é demais, fechei a mochila e dei sequencia na minha prova.
Sozinho enfrentei inúmeras subidas e descidas e de vez em quando dava uma olhadinha para trás para ver se vinha alguém. Corri no meio dos cafezais, entramos numa cidadezinha de Pratópolis e acredite até o prefeito estava ajudando na hidratação dos atletas, corremos por uma linha férrea desativada sinistra (não passaria ali de noite nem com 4 headlamps NAO rs), e assim os kms foram passando.
Cheguei no km 40 e tinha um posto de água, indaguei o staff de quantos kms faltavam e para a minha surpresa ouvi o que não esperava.
Num bom e velho jeito mineiro um senhor me disse: “só mais um cadim, tá acabando mais uns 4 ou 5 kms você chega”. Comecei a rir por dentro, esse “cadim” de mineiro engana.
Os kms foram passando 41, 42, ….46,5km onde finalmente dei de cara com a faixa que indicava a entrada da fazenda do Gui Pádua e onde dali a um tempinho o pórtico de chegada apareceria.
Naquele momento escutava a musica Home do Phillips Phillip a mesma que tocou na largada do OCC no Mont Blanc algumas lágrimas caíram de felicidade, pois pude ser finisher da maratona mais roots que já corri na minha vida. Não sabia em que posição havia terminado e confesso que aquilo não me interessava.
Tão emocionante quanto a prova, foram as palavras do Gui Padua ao chamar aqueles que subiriam ao podio. Afinal de contas, a maioria eram seus convidados e ele Gui era conhecedor do pouco da historia de cada um. Eu fui chamado para subir no 3º posto e para minha surpresa o Gui disse a todos que eu tinha sido o primeiro atleta a ser convidado para fazer a prova me senti honrado.
O segundo colocado levou o Gui as lagrimas, e a emoção começava a tomar conta quando descrevia o modo como o Edicarlos ganhava a vida e treinava como um atleta dedicado. E a apoteose veio na descrição do primeiro colocado o Antônio Carlos, atleta MTF (traduzam da forma que quiserem) de uma simplicidade impar. O que faz o Antônio Carlos especial, o mesmo trabalha na roça, seus músculos são cunhados na carpinagem. Seguem as palavras dele ao Mini num bate papo logo pela manha. Como voc~e foi na sua ultima prova? “Xii rapaz eu fiz maratona e quebrei terminei com 2h:40m” putz isso porque quebrou rs.
Mas naquele momento o Gui Pádua tomado pela emoção deixou as lágrimas caírem sem medo, numa velocidade talvez maior que as suas aventuras no céu fazendo com que todos que estavam ali ficassem emocionados.
Quero registrar neste post o meu feliz aniversário ao Gui Pádua, dar os parabéns pelo seu projeto social e referendar essa prova como sendo uma maratona “roots” com uma good vibe que pouco nós vemos por ai.
Bons treinos e pau no cat!!!
Cicão!!
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