Na preparação para os dois próximos desafios: a maratona dos perdidos considerada a mais difícil do Brasil e pro mont blanc me colocou cara a cara com um treino considerado por mim um divisor de águas. As orientações sobre o treino foram:
Serão 30k com com quase 3000+ sendo 14k de travessia Marins x Itaguaré + 16k de estradas de terra ate chegarmos no ponto inicial do treino “estacionamento”.
Horários: temos que considerar que são quase no mínimo 3h a 3h30 de SP ate o inicio do treino, mas eu pensei em iniciar o treino ainda de noite, para ter a maravilhosa sensação do amanhecer na montanha…
Alimentação e Hidratação: Vamos ter entre 7h20 a 9h de duração, então logística para comidas e suplementos para esse período e vamos ter um ponto de agua no inicio e outro no km14 e no estradão vamos achar muitas casas nas quais podemos conseguir agua…. Iniciar o treino com no mínimo 1,8lts de água.
Equipamentos “sugestões”: tênis com grip para terrenos com muita pedra, calça lycra ou meias/caneleiras de compressão, boné ou buff, óculos escuros talvez faça muito sol, protetor solar, mochila 15lts a 20lts, anorak, camiseta manga longa “capim estará alto” e se sairmos ainda a noite… vamos precisar de head lamp.
Segui a risca as orientações e lá fomos as 4 da manhã rumo a base do Pico dos Marins que além de mim, contávamos com as presenças dos amigos atletas da Northface Running Club: Ejiro (um japonês good vibe e como um bom japa altamente focado e cumpridor a risca das orientações acima. Super cuidadoso e parceiro nas trilhas sendo gentil com todos o tempo todo tenho certeza que aprendeu muito nessa experiência. O Jimmi, atleta amante da natureza, me transpareceu ligeiramente tímido, onde a sua timidez era quebrada quando ajudava um parceiro a transpor um obstáculo ou para sacar do seu celular para tirar fotos daquela incrível manha nas montanhas. Edu, atleta que vem ganhando experiência e força em suas passadas a cada treino, praticamente cumpriu todas as funções durante a nossa jornada: correu, apoiou, tirou fotos, trilhou novas trilhas e me acompanhou durante a nossa corrida. E para completar a lista, tínhamos mais 02 grandes grandes amantes da natureza: o Sinoca meu coach (campeão da jungle marathon) e a Cris “Anna Frost” brasileira (5 colocada nos 50k de ilha bela).
Galera “good vibe” já na base do Pico dos Marins – foto by Sinoca
Ao chegarmos no morro do careca o dia já estava clareando e ambos soltaram os primeiros comentários: ela: “gente olha que visual maravilhoso” ele: “te falei que valeria muito a pena largar mais cedo”. Particularmente já conhecia a subida até o pico dos Marins, mas depois dali não conhecia nada. A meta era contemplar a natureza, focar nos passos do Coach me divertindo e fazendo forca. Sabia que era uma oportunidade de aprender a ler cada vez melhor as trilhas por onde passávamos. Larguei com a minha mochila “abarrotada” de água, gel, pacoquinha (que eu amo) exceed, pão com azeite e sal, cápsulas muitas, etc.
“Enfrentamos subidas insanas, trilhas com aquele “maledito” capim amarelo, que mais parece um chicote ao tocar em qualquer parte do seu corpo, muitas pedras, alguns caminhos por precipícios e descidas altamente técnicas”.
Procurei grudar no Sinoca observando seus movimentos e a forma como a sua corrida fluía naquele caminho cheio de raízes, buracos, troncos. Fui administrando a minha água, pois sabia que só poderia encher as minhas garrafinhas no final da descida de Itagaré. O tempo foi passando e na medida que nos enfiávamos nas trilhas mais chicotadas recebíamos daquele capim, nós homens sofríamos calado e a Cris guerreira exaltava suas emoções com os seus “Ai ai ai ui ui” escutamos pelos menos uns 400 ai ai ui ui rs. A cada clarão ou a cada lugar com pedra servia como um alivio para as pernas.
“concentração máxima na descida” – foto Edu
O tempo passou e finalmente chegamos na descida que nos levaria fonte de água e ao inicial da estrada. Perguntei ao Sinoca se tinha como alguém se perder dali em diante e a resposta foi a melhor que poderia ouvir, disse-me que não teria como e lá fui eu na “bota” do meu coach. Pude analisar cada movimento naquela que sem duvida era uma das descidas mais difíceis que já havia feito, eram armadilhas feitas pelas raízes, buracos, curvas fechadas, chão escorregadio. Por alguns momentos chegamos a conversar sobre planos a, b e c que temos que ter para enfrentarmos uma descida como aquela.
No final daquela descida fomos brindados por um belíssimo rio de água limpa, onde pudemos nos hidratar e esperar pelos demais amigos. Ali enquanto esperávamos, carregamos as baterias, acalmamos a nossa adrenalina com o barulho da água e por fim acalentamos o nosso estomago com um delicioso xburger frio, repartido meio a meio pelo meu coach, foi um verdadeiro banquete dos Deuses.
Clique e Veja como foi a Hidratacao
Não demorou muito o restante do pessoal começou a chegar: primeiro o Ejiro, que demonstrava um desconforto estomacal importante, seus lábios estavam longe da cor normal e na sequencia o restante da turma deu o ar da graça. Já tinha pego instruções com o Sinoca de como voltar até a base do Pico dos Marins e ele como um verdadeiro cavalheiro das trilhas ficou com Ejiro bem como o Jimmi e disse-me que pediria resgate a Ju outra atleta do Northdface runnning club.
Até então, eu o Edu e as Cris não sabíamos ao certo se eles continuariam, só viemos a descobrir de fato quando cruzamos pela Ju na estrada. Demos continuidade em nossa corrida onde por vários momentos dividíamos a responsabilidade de puxar a liderança do grupo, sabíamos que tínhamos um bom tempo de corrida pela frente já estando com as nossas pernas “massacradas” pelo sobe e desce nas montanhas.
“a exuberante natureza e como ficamos pequenos no meio dela” – foto Edu
Em certos momentos riamos já em outros momentos o silêncio era ensurdecedor, ouvíamos apenas o barulho do vento nas árvores ou os pássaros. Pelo caminho encontrávamos a população local, andando a cavalo ou caminhando ao lado de seus burricos carregados de capim. Fomos marcando os kms e chegamos no final praticamente exaustos. Fui marcado pela frase do Ejiro: “Cicao você corre muito, muito mesmo, admiro você” me senti honrado com aquela frase, que certamente cai como uma luva para todos que fizeram aquele treino. Não posso deixar de citar frases ou rápidos momentos que me marcaram: os aí aí aí ui (pelo menos uns 400) da Cris que sem dúvida fez um grande treino, o nosso fotógrafo, repórter e comentarista Edu, Ejiro sempre calmo e parceiro, Jimmi pequeno guerreiro, a calma e a energia na condução do grupo o nosso mestre Sinoca sem deixar de citar o apoio que a Ju deu.
Eu isso aí.. “vence quem erra menos ou percebe o erro antes e logo reage” , Klever Kolberg
Bons treinos e pau no gato!!
Cição
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