Ultra Trail du Mont Blanc – parte final

Publicado em 17 de setembro de 2014

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Como num parque de diversões, eu e o atleta catalão descíamos rumo a Trient num ritmo alucinante (ver video link abaixo), passamos por vários atletas chegando no posto de controle com 2h:57. O Virgílio segundo melhor brasileiro na prova até aquele momento, havia passado com 2h:31. Acabei encontrando o Tani que para a minha surpresa me filmou, além do Sandrao que me deu um super incentivo dizendo que eu estava muito bem.
video descida

Sabia que para chegar em Catogne, tínhamos a piramba mais íngreme da prova, chegaríamos a mais de 2.000 metros de altura. Segui firme passo a passo ladeira acima, fui ultrapassado por 3 mulheres, uma americana, uma alemã e outra não consegui distinguir a nacionalidade que aliás, está última foi a 3 colocada na prova, todas subiam como uma leveza e facilidade de dar inveja em qualquer cabrito montanhês, pensei comigo “a trilha coloca cada um no seu devido lugar” ri por dentro sabe? (como tenho mais de 40 lembrei daquela musica: “dizem que a mulher é um sexo frágil? mas que mentira absurda rs!)

Calor Africano
Rio de agua transparente – Uma delicia!!!

Enquanto isso, o corredor catalão acabou sucumbindo na subida, sabe aquele momento quando o atleta sai da trilha, usa os bastões como apoio, abaixa a cabeça e respira profundamente? Foi o momento em que as 3 mulheres passaram por ele, assim como eu. Sofríamos com o calor, com a subida, mas passava por isso em alto estilo, pois a nossa direita contemplávamos a beleza do Lac Blanc (um lago suspenso no alto da montanha) uma maravilha da natureza.

sem palavras - preciso dizer alguma coisa?
sem palavras – preciso dizer alguma coisa?

Passamos por Catogne e me lembrei que havia passado por ali em 2010 de madrugada embaixo de chuva torrencial, só que desta vez era com um puta sol. Na minha opinião esse posto de controle, é um dos mais lindos da prova pois fica no alto da montanha.
Começava ali mais uma descida agora rumo a Vallorcine no km 34. Cheguei em Vallorcine as 12:47pm, fiz uma parada rápida que durou cerca de 9minutos, ajustei mala, limpei o lixo que carregava, me reabasteci e tirei as pedras que entraram no meu tenis que estavam me incomodando. Foi nessa parada que tive noticias das meninas e ambas estavam bem. Aquela noticia me encheu de energia para continuar seguindo num ritmo forte para o meu padrão de corredor. Mais uma vez encontrei o Tani da Kaylash (que nesta prova da apoio e suporte para os atletas patrocinados pela marca, o Manzan que andava até entao entre os 10 e o Virgilio entre os 20. Naquele momento ele me disse Cicao, você é o 4 brasileiro e TOP100.
Próxima parada era ladeira acima em Col des Montets, aqui eu confesso que passei rapidamente já tendo em minha mente que o último posto de controle ficava também no topo da montanha.
O alto do morro La Flégère no km 45, tinha uma subida de chorar e mais uma vez fui ultrapassado por alguns atletas. Internamente brigava comigo para tentar manter um ritmo no minimo decente.
Meu estomago começara a reclamar, dividi o pouco da água que me restava nas minhas 2 garrafinhas, em um deles coloquei sal de frutas e no outro água, tomei o que restava em ambos o que não era muito e rapidamente resolvi algo que podia me atrapalhar.
O Calor aumentara, as panturrilhas fritavam e para ajudar a minha água acabara. Demorou um bom bocado até que na metade da subida passamos por corredeira de água, na qual eu não tive duvida, enchi uma das minhas garrafinhas e matei a minha sede.
Não da para esperar ate o próximo posto, o meu lado competitivo falava mais alto no meu intimo.  A historia de saber que era Top100 havia mexido comigo..subia o mais rápido que podia, mas não era o suficiente, a briga ali era comigo apenas.
Finalmente cheguei no topo da ultima subida, exatamente na posição 100. Sabia que a partir dali seria um campo de diversões pra mim, pois a minha técnica de descida tinha evoluído. Esvaziei o conteúdo da minha camel back, recarreguei as garrafinhas pela metade, tomei um gel, enfim, talvez tenha sido a minha parada mais rápida, demorei uns 2 minutos (padrão profissa ou total maluco beleza) rs.
Nessa parada ja era sabedor que as meninas estavam indo super bem, longe dos tempos de corte e isso me deixava muito mais tranquilo para finalizar a prova em alto estilo.
A descida…o renascimento do Cição!
Comecei a minha descida rumo a Chamonix, no meu campo de visão num primeiro momento não havia nenhum outro atleta. Desci que nem um cavalo galopante, aumentei o som e só pensava comigo “você vai dar tudo o que tem agora, usa todo o combustível que você têm, sem esquecer de se divertir”.
Na medida que entrei na primeira parte da trilha, comecei avistar alguns dos atletas que haviam me passado na subida. Me lembrava dos treinos da mata câmara, das trilhas de Itagaré, Japi, Reflora, enfim o que havia aprendido. Os meus pés flutuavam, e um a um ia passando pelos atletas, não sabia ao todo quantos mas sim eu havia passado por muitos.
Na segunda parte da descida, fui ultrapassado por um atleta que mandou um sonoro obrigado quando abri passagem, deve ter visto minha bandeira na mochila. Ele manteve um ritmo forte e gostoso, resolvi acompanhá-lo a uma distância segura. É algo magico pois no caminho vários caminhantes nos incentivavam!
Chamonix – a Apoteose que todo ultra sonha
É difícil descrever a sensação ao chegar em Chamonix, a cidade esta lotada e as primeiras palmas eu já começo a escutar, junto com Bravo, Supérrrr. A emoção toma conta do ambiente de tal forma que as minhas lagrimas começam a tomar conta! Torco para ver algum rosto conhecido na chegada, vejo o Tani antes da ultima curva e ao entrar na reta no qual podemos ver o pórtico ouço um grito Brasillllll.

Chegada em Chamonix - Sensação Unica!!
Chegada em Chamonix – Sensação Unica – Vibração – Energia!!

Cerro os meus punhos e solto um grito de felicidade. Missão cumprida!!!  Ganho a minha camiseta de finisher, mas confesso que poderia ser um colete, pois afinal de contas todos somos finishers de uma prova histórica.
Logo depois de pegar a minha camiseta, fui pagar a minha promessa, entrei na igreja, rezei o meu pai nosso e a minha ave maria. Penso no meu pai para variar, nas minhas filhas. Fui caminhando pro apartamento devagar ainda sentindo o sabor daquela conquista.
Ativei o meu celular, e comecei a ver os tempos da Nana e da Cris. Não demorou muito o Sandrao chegou me deu um puta abraco e com lágrimas nos olhos ainda envolvido pelo o ambiente que cerca a prova.
Recebemos a msg de que a Cris passara pelo ultimo posto e pensei eita mulher “porreta” já está chegando, tomei um banho rapidinho, peguei a bandeira do Brasil e la fomos nos esperar pela Cris e pela Nãna. Nao demorou muito, ela adentrou o corredor, demos um grito e entregamos a bandeira a ela. Ela conduziu a bandeira, como o Vanderlei Cordeiro em Atenas depois de terminar a maratona. Com os 2 bracos pro alto ela foi percorreu os últimos metros com o simbolo máximo da nossa nação flamulando por Chamomix.

Momento único vivido pela Cris - Anna Frost brasileira!!
Momento único vivido pela Cris – Anna Frost brasileira!!

A chegada da Nana foi majestosa pois de todos nós, foi a que treinou menos por causa de dores em seu calcanhar. Ela com foco, determinação e muita garra, entrou Chamonix voando, pegou a bandeira das minhas mãos e foi como se tivesse fazendo treino de tiro cruzou o pórtico de largada e como não acreditasse ficou por ali alguns minutos curtindo o sabor da sua vitória pessoal. Sou testemunha da sua dedicação e foco!

Chegada emocionante - bandeira nas mãos, joelho machucado devido ao esforço. E eu de tietando ao fundo!!!
Chegada emocionante – bandeira nas mãos, joelho machucado devido ao esforço. E eu de tietando ao fundo!!! enfim essa foto tem sentimento!

Afinal de contas, nos preparamos, sofremos, choramos e fizemos tudo o que podíamos para dar o máximo nessa prova.
Quero agradecer a todos que nos apoiaram. Todos que fizeram com que nós pudéssemos chegar até aqui e realizar mais este sonho. Particularmente penso assim: por mais individual que seja a corrida, a cada prova, é como se todos estivessem ali comigo, o Gabriel com a sua eficácia em me deixar os meus músculos preparados para a pancadaria de uma prova de montanha, o Sinoca por montar os meus treinos e desenvolver a minha técnica de montanha, o Liaw por cuidar das minhas dores, a minha mãe que sempre reza por mim, ao meu querido pai e a Nana a minha amada esposa que aguenta os meus “mimimis”, além de todos os demais amigos e admiradores deste esporte tão fantástico. Sei que onde quer que estejam todos, sem dúvida nenhuma torcem por mim.
E você ? já correu hoje? tem um sonho? então coloque foco, dedique-se que vai conseguir!!
Bons treinos!!
 

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