Na minha preparação para os 100k da Mongólia – Sunrise to Sunsite, escolhi fazer os 42km do KTR de Campos do Jordão. Vários amigos que fizeram em 2015 rasgaram elogios, me dizendo que a prova era tão dura como o KTR de Serra Fina, também pudera o slogan dos caras é “A Natureza fez o percurso e o KTR preparou o desafio”.
A energia era excelente a família inteira ia correr, as kids na prova dos pequenininhos, o Fernando nos 12k, a Nana e a Jôjo nos 22k e eu e a Cris nos 42k. A minha filha Rebecca de 6 anos estava empolgadíssima em correr com outras crianças, já a Valentina disse que não estava muito afim de fazer força rs.
Assisti atentamente o briefing da prova no Hotel São Cristóvão e ali pude perceber como a diretoria da KTR preza pela segurança dos atletas, tudo era dito nos mínimos detalhes sem abrir espaço para nenhuma dúvida. Tão logo a palestra terminou, fomos descansar.

Sentindo a energia daquele amanhecer no alto do Pico Itapeva
Alto do Pico Itapeva – foto Juliana Salviano – TRB

Antes do sol nascer, ainda de madrugada, nos dirigirmos até Arena da prova, que por sinal é uma das mais lindas que já vi no Brasil. Situada no alto do Pico do Itapeva, conseguíamos ver toda a cadeia de montanhas ao nosso redor, literalmente estávamos acima das nuvens.

Uma das arenas mais linda do Brasil - KTR
Uma das arenas mais linda do Brasil – KTR

Ao lado da Cris e do Fernando fomos os primeiros atletas a chegar na arena, ao lado do Sinoca e da Juliana sua esposa, ajudamos a montar a barraca da assessoria TRB. Não estava tão frio o quanto imaginávamos. Fizemos belíssimos registros do lugar enquanto isso aos poucos o movimento de atleta aumentava.
A prova longa passava pela arena por volta do km16 e afim de fazer uma transição mais ágil me programei para usar duas mochilas, uma para a primeira parte da prova e outra para final.
A boa ideia acabou caindo por terra pois tão logo vesti a minha primeira mochila, logo percebi que havia um vazamento no meu compartimento de água e de cara abortei a ideia de correr com ela. Enfim, não estava totalmente equilibrado, vinha de uma semana difícil, havia dormido muito pouco e precisava ter que encontrar o meu equilíbrio “flow” durante a prova, coisa que não seria fácil.
Fui para largada, pedindo proteção a mim e aos amigos que ali estavam, depois de alguns abraços, as lágrimas vieram aos olhos, pensei comigo, mas já? Segura a tua onda pois você terá algumas boas horas de corrida pela frente.

Visual da Largada
Visual da Largada

O sol surgia no horizonte e centenas de fotos eram tiradas por atletas e familiares, ali do meu lado, as feras do trail nacional, uns mais conhecidos outros menos. Tão logo a buzina tocou, lá fomos nós, despencamos morro abaixo. Antes do primeiro km, passou por mim voando baixo, o Chico Santos, que sem dúvida nenhuma, vive uma das melhores fases da sua vida no trail, na sequência passou por mim Espartana Leticia ‘AROOO” Sartori esbanjado potência.

Anota a placa, Chico Santos voando!!!!
Anota a placa, Chico Santos voando, Leticia no calcanhar e logo a minha frente o Jiu.

Ainda sem encontrar o ritmo ideal, as pontas dos meus pés estavam duras de frio e a minha água ainda não havia descongelado, entramos num single track, tratei de me concentrar. Olhava atentamente onde estava pisando, pois, qualquer desatenção poderia ir pro chão. Percebi um fair play por parte de todos os atletas durante aquele trecho, ninguém forçou nenhuma passagem, todos eram conhecedores de que haveria muita prova pela frente. Durante a descida encontramos o Tani diretor geral da prova que pedia cuidado aos atletas com aquela parte que estava bem lisa.
Os quilômetros foram passando e na minha frente ia o Juliano, atleta humilde, gente fina demais vindo de Minas Gerais, seus bastões eram formados por dois bambus, emborrachados na ponta com o máximo de cuidado, feitos por ele mesmo e tão leve quanto os bastões mais modernos, pensei comigo a “inteligência roceira” faz diferença.

Jôjô sempre esbanjando simpatia mesmo nos maiores perrengues!
Jôjô sempre esbanjando simpatia mesmo nos maiores perrengues!

Nos primeiros 25 minutos de descida aconteceram algumas coisas interessantes, de atleta cortando caminho, da 2 colocada que havia se perdido, do próprio Juliano que tirou os olhos da trilha por um segundo e “catapuf” foi pro chão e felizmente não se machucou até a minha ida para a dianteira deste segundo pelotão. Isso aconteceu até dar de cara com uma cerca onde haviam fitas na cor amarela da ktr, pensei que era um bloqueio e que tínhamos que subir, ledo engano, aproveitei fiz um “pipizinho” o atletas que vinham atrás tomaram a dianteira passando por baixo das fitas. Encontrei um frasco contendo capsulas de sal e bcca´s que algum atleta havia perdido, justamente ao passar pela cerca.
Perguntei ao Luiz Torres atleta que está se preparando para os 105k da Ultra dos Perdidos e o mesmo falou que não era. Reencontrei o meu ritmo e ao passar por alguns atletas, continuei perguntando se aquele frasco que havia achado era de um deles. O engraçado foi que um dos amigos acabou brincando comigo respondendo assim “Ahhh esse frasco aee deve ser do Chico Santos” pensei comigo: se for do Chico ferrou pois nunca irei alcança-lo rs.
A primeira Parede
Encontramos com o primeiro posto médico, um dos médicos, usava o autofalante da ambulância para perguntar a cada atleta se estávamos bem. Começamos a subir um morro descampado e ao olhar para cima pensei: cacete, estávamos acima das nuvens e agora vamos ter que subir uma verdadeira parede.
Ao passar por mais um atleta, finalmente havia encontrado o dono do frasco, o mesmo me agradeceu muito por ter feito a gentileza de ter levado até ele com certeza faria falta. A subida era bruta, e o segredo era ter: paciência, força e foco. As minhas pernas respondiam bem, controlava a minha evolução pela altimetria que o meu relógio me apontava, 680m, 720m, 810m, 940m, 1010m, e assim sucessivamente até chegar a 1.700m, quando a mata abriu surpresa, demos de cara com mais um morro, este descampado, era uma outra mini parede.

Sobe sobe sobe
Sobe sobe sobe

Ao terminar a subida, alguns fotógrafos faziam registros de nós atletas, duro mesmo era fazer uma cara de não “sofrência”.
Já conseguia ver a arena e as pessoas incentivando os atletas. Ouvindo o incentivo dos amigos e principalmente das minhas filhas “Vamos Papai, vamos”, atingi o cume com 2h:31m depois da largada, passei na tenda da TRB e as minhas coisas estavam separadas, tirei a minha segunda pele joguei dentro da mochila e vesti uma camiseta mais leve.

Momento inesquecível e emocionante - beijo da minha filha Rebecca sob o olhar da minha outra filha!
Momento inesquecível e emocionante – beijo da minha filha Rebecca sob o olhar da minha outra filha!

Começava a sentir o meu estomago e pedi um sal de frutas (cometi um erro de não ter colocado no meu kit de emergência), acabei não achando e resolvi seguir em frente. Não quis demorar muito ali parado, entre ganhar um beijo das minhas filhas e se alimentar passaram 4 minutos. Passei pelo pórtico tive a minha mochila verificada e continuei.
Não demorou muito e aquele bendito urso marrom subiu nas minhas costas, caminhei um pouco pois sentia a minha mochila muito pesada, pois acabei recarregando com tudo que tinha direito, água, comida, gel fora os itens obrigatórios (lanterna de cabeça, 2 pele, anorak, etc).
Tão logo mais uma descida começou, tentei encontrar um ritmo confortável. Foi mais de 1 hora despencando morro abaixo, acabei dando uma virada no meu pé, mas é o tipo de coisa que acaba acontecendo. Usava as arvores como apoio e sempre pensava nos planos a, b , c e d afim de tomar as melhores decisões, tentando evitar alguma surpresa que por ventura a natureza pudesse me impor.

Crisinha ladeira abaixo!
Crisinha ladeira abaixo!

Na metade desta descida, encontrei um atleta de Ubatuba que havia parado para se alimentar, não demorou muito ele me alcançou, conversamos um pouco, ele comentou comigo que havia sido campeão do desafio das serras, disse-me que estava sofrendo muito e que havia pensado em parar na arena e que a esposa dele não havia deixado, pensei comigo, se correndo assim você está sofrendo, imagino você estando bem, deve voar esse “lazarento rs”.
No final da descida encontramos um staff que anotava os números de cada atleta que passava, e junto com ele havia um cooler cheio de Guaranita, mandei uma para dentro e dali começamos a subir. Novamente o mesmo e velho esquema, saímos de uma altura de 640m e iriamos até 1.875m.
A Segunda parede
Diferente da primeira subida, senti o meu estomago mais do que nunca, enjoos e comecei a perder forças. Perdi qualidade na minha locomoção e por algumas vezes pensei em vomitar e simplesmente parar e descansar. Usava os troncos das arvores como alavanca para subir, o tempo ia passando e as minhas coxas davam sinais de que a qualquer momento poderiam ter câimbras, administrava as minhas capsulas britanicamente, mas não sentia que elas faziam efeito.
Numa última tentativa, tirei a mochila das costas e andando abri a mochila na esperança de achar um sal de frutas, este movimento foi o suficiente para tomar um escorregão e ir para o chão. Procurei, procurei e nada, pensei comigo, agora é força mental, para ir até o fim desta subida. As câimbras aumentaram, fiz duas rápidas massagens e na sequência peguei um punhado de batata frita, e coloquei na boca, foi difícil de engolir, porém foi o suficiente para que as dores cessassem.
Naquela altura da prova, a minha corrida era igual a de um carro 1.0 na ladeira, devagar quase parando. Felizmente o relógio apontava mais de 1750m de altitude, havia chegado finalmente numa região descampada. Já quase no alto de Campos do Jordão, um staff indicava o caminho a seguir, ali e tão somente ali senti um equilíbrio na prova, comecei a cantar o Rappa “Se os meus joelhos não doessem mais, diante de um bom motivo, que me traga fé, que me traga fé” abria os braços, sorria, dava uns gritos, por um momento achava que a prova estava terminando, só que não, não demorou muito e um outro staff indicava a entrada de uma nova trilha.
Lugar gostoso para correr, mas depois da pancadaria que havia enfrentado até ali, a minha corrida não estava do jeito que gostaria, passei um atleta e fui ultrapassado por outro, olhava no relógio e pensei calma Cição sua meta é chegar em até 8 horas, você está treinando para a Mongólia, olhava o relógio e já tínhamos 7h:10m de prova.
Olhava as fitas e corria entre elas, numa bifurcação já sozinho entrei a esquerda e vi de “rabo de olho” um staff vindo do lado direito, dei uns dois gritos, indagando: “o caminho é este??? Ele me disse, sim. Aliviado segui em frente e ao final da trilha, beirando uma cerca havia um staff indicando que a prova estava acabando, na última subida, escutei a voz do Fernandinho me incentivando, perguntei se estava acabando rs a minha família e os meus amigos me esperavam gritando e incentivando.

Fernandinho voou baixo foi 4 no geral na prova curta e primeiro na categoria.
Fernandinho voou baixo foi 4 no geral na prova curta e primeiro na categoria.

Havia prometido ao Mini que dedicaria essa prova ao Vitor seu filho que acabara de nascer, peguei o celular na mão e só deu tempo de gravar, algumas palavras e senti a energia da galera.

foto que fala, a chegada da Nãna acompanhada da Rebecca
foto que fala, a chegada da Nãna acompanhada da Rebecca

Completei a prova em 17 no geral e 4 na categoria com 7h:33m, isto é o que menos importa, o que valeu foi a minha força mental para seguir em frente mesmo passando por alguns perrengues.

chegada estilo Cição (sempre saltando lembrando dos tempos de volei)
chegada “estilo Cição” (tem um significado, um dia vou escrever sobre)!!

Missão dada Missão cumprida!
Aprendi nessa prova que não devemos subestimar os detalhes da preparação pré prova. Cometi muito pequenos erros que tiraram o meu equilíbrio mas que serviram de mais um grande aprendizado. Sentir a energia de todos os atletas, das assessorias, da Ready4 e no final do dia no petit comité com os amigos realmente não tem preço.
“As subidas são onde nascem os campeões, onde os caminhos tortuosos levam as melhores vistas do amanhecer”
(Vitor esse post também eu dedico a você, um dia espero que leia, talvez você não vai entender, mas espero estar vivo para lhe contar essa e outras muitas história)
É isso , se você chegou até aqui é porque gosta deste esporte e tem paciência rs
Bons treinos e pau no cat!
instagran: cicao_paunocat
Cição

Finalmente havia chegado o grande momento, estavam todos alinhados para a largada, quando o Stepan diretor da prova começou a contagem regressiva, uma calma fora do comum baixou em mim, passei por baixo do pórtico escutando um VAI CIÇÃÃÃÃÃOOOOOO, era Lú da Readyfor dando aquela força, foi um gás a mais para ir frente. De cara, o primeiro pelotão imprimiu um ritmo tão forte como numa prova de 10km, que a primeira vista parecia ter uns 30 atletas, eu vinha no segundo pelotão, logo atrás de um chileno.

Parte alta da prova
Parte alta da prova – foto by Carola Fresno

De cara fomos colocado nos campos do fiord, corríamos por uma linda trilha que adentrava uma linda floresta. Ao estudar o mapa sabia que não demoraria muito teríamos uma primeira subida, e com 8km estaríamos no acampamento alto, o chileno que vinha na minha frente adotara um ritmo forte no plano, mas não repetia o mesmo ritmo nas subidas, isso fez com que eu o passasse em uma das subidas.
O frio era intenso, mas até quele momento não chovia, passávamos por alguns atletas que faziam os 160kms, eu pensava, caracas esses caras passaram a madrugada inteira correndo, são brutos demais, fiquei  muito feliz que cruzei  o Kledir, atleta parceiro da assessoria TRB que encarava os 160km, estava com a cara boa, nos cumprimentamos rapidamente e cada um seguiu focado na sua estratégia, ele sempre me fala que eu o inspiro, que nada, ele que inspira todos nós.
Na floresta e senti algo estranho caindo do céu, algo que não era chuva, achei que fosse pólen ou algumas flores que pudesses estar caindo das arvores chacoalhadas pelos ventos, não era nada disso, era NEVE, o que até então era previsão, se tornava real, estava nevando. Tratava de me hidratar de 20 em 20 minutos e de comer para manter o meu corpo aquecido, dica essa vinda do meu técnico (Cição, coma sem medo).

Inicio da floresta
Inicio da floresta

 
Terminado a floresta entramos em alta montanha, o frio era tão intenso, que tratei de proteger rapidamente todas as extremidades, naquele momento havia entendido porque todos os itens obrigatórios realmente são OBRIGATÓRIOS, até o óculos de sol constava na lista, vocês devem estar se perguntando, porque diachos um óculos de sol com esse tempo? Pois bem se não fosse isso, eu teria imensa dificuldade de correr em campo aberto com aquela tempestade de neve vindo na direção contra.
Eu só pensava em me manter focado e ao mesmo tempo me imaginava o quão pequeno nós somos frente a força da natureza. É claro que a montanha não queria nenhum intruso e eu só pensava em sair dali o mais rápido possível dali, Vários pensamentos passavam pela minha cabeça, me sentia um Waldemar Niclevitz, por vezes um Kilian Jornet, pensei comigo, CARALHO que louco é isso, correndo bem em alta montanha, navegando com qualidade para não se perder. Mandava boas vibrações para os atletas que vinham atrás, torcia para que os mesmos se mantivessem calmos para enfrentar aquela parte da prova que sem duvida nenhuma era a mais desafiadora.
fiord cicao
Passei pelo PC mais alto da prova (leia-se um barraca com dois montanhistas fotografando os atletas que me perguntaram se estava tudo bem comigo), respondi com um sinal de positivo e segui em frente, tentei fazer pegar um vácuo de um outro atleta e me revezar com ele afim de enfrentar a forte nevasca, mas o ritmo dele era bem mais forte que o meu. Confesso que não sei quanto tempo levei nessa parte da prova (até da para saber, mas não quero ver isso nesse momento), mas quando saí de lá, senti um tremendo alivio e muito feliz de ter tomado as decisões certas.
Ao sair da montanha entramos numa floresta com o temido charco, sabe aquela sensação de ora correr num colchão de mola, ora correr numa areia movediça, sim, essa parte foi bem técnica, alcancei um argentino e ao passa-lo “PIMBA” fui de cara no chão.
O cara me perguntou se estava bem eu disse SI SI SI COMO NO? Ri de mim mesmo e segui amarradão na prova, tentando traçar um raciocínio logico de como encarar aquele tipo de piso, para mim era uma incógnita, por vezes atolava a minha perna até o joelho, por outras pulava sem parar.
Seguimos avançando, e a água do meu camel back havia acabado. Usando da minha água reserva que era a minha garrafinha que carregava na parte da frente da minha mochila, hesitei em me reabastecer por duas vezes, mas tão logo dei a primeira golada na garrafinha tratei de ir repondo a cada corredeira que via, (dica valiosa 3: havia estudado e confirmado com o meu técnico que no caminho teríamos vários pontos de água natural para se abastecer).
Numa prova de ultra distância tenho tempo de pensar em muitas coisas, por vários momentos pensava nas minha filhas, a minha doce Valentina e na sapeca e levada da breca Rebecca, sorrisos surgiam, misturados com lágrimas de saudades dos que se foram, não só os entes queridos, mas os amigos e uma amiga especial onde os kms em que percorria eram em sua homenagem.
Corria por uma trilha técnica que por vezes nos desafiava a pular troncos e escapar das armadilhas impostas pela natureza, era algo no qual os corredores precisavam estar preparados, de tão belo este lugar me lembre da floresta que aparece no filme Nárnia. Continuava na perseguição de dois corredores,  que mais tarde viria a saber que um deles, era da minha categoria. Poucos antes de chegar a Estancia Perales atravessamos um rio com agua até o joelho, onde uma equipe japonesa de televisão acompanhava um atleta símbolo do japão Kaburaki campeão e embaixador do Ultra Trail du Mont Fuji, não tive duvida, gritei ARIGATÔ rs e como todo povo nipônico, foram gentis acenando com as mãos.

Mister Kaburak
Mister Kaburaki

Estancia Perales km 49 – DROP BAG – 15 minutos investidos brilhantemente
Pouco antes de chegar em Perales vinha mentalizando (dica 4: dada pelo Nazário, Cição já mentaliza o que você fará no pC afim de não perder muito tempo). Cheguei na barraca e encontrei com dois atletas. Como já havia mentalizando o que faria nesse posto, foquei primeiro em trocar a tudo que estava molhado, de baixo para cima afim de não esquecer nada. Tirar o tênis foi o mais desafiador, pois um simples gesto de cruzar a perna era suficiente para as cãibras aparecerem, calcei um hoka que era o mais adequado para o longo estradão que teria pela frente, as meias, vesti um underwear que mais tarde me arrependeria rs, além de um calça e dois buFF´s, um deles que era alvo de uma singela homenagem a uma pessoa querida que tinha partido deste mundo 15 dias antes deste desafio. Cometi um erro de não ter colocado uma segunda pele e uma coca cola, no meu drop bag. Havia levado também uma segunda mochila, mas como a primeira estava com tudo tão bem encaixado, resolvi permanecer com a mesma, apenas pegando toda comida e suplementos possíveis existentes na reserva.
O staff me entregou um suco em caixinha, além de uma embalagem (dessas de sanduíches que pedimos pra viagem), quando abri dei de cara com arroz, salames, um ovo cozido e muito milho, não tive duvida, lembrei do meu amigo irmão comedor de milho Moddafoca Thiago “Mini Cooper”, e comecei a rir sozinho, queria ter tirado uma foto, mas o meu celular já não tinha muita bateria e a minha ideia era guardar o que restava para avisar a Nana tão logo chegasse perto da cidade.
Sai dali ainda fazendo digestão de tudo que acabara de comer, conversando com o meu estomago. Sabia que a partir dali a prova se tornaria mental, pura e simples. O Sol havia tomado conta do ambiente e nem parecia que a poucas horas havia enfrentando um clima inóspito. Tinha como estratégia percorrer cada 10km em 1 hora e meia, não sabia dizer se isto daria certo, porém, eu precisava acreditar nisso. Deixava para olhar o relógio a cada intervalo de 1 hora, lá pelo km 60 travei uma boa briga com um argentino, que me passava e que dali a pouco eu dava o troco, era meio como seleção brasileira e seleção argentina, rs isso deve ter durado uns bons 20 km, não consegui acompanha-lo mais, pois aquela brincadeira estava me tirando da minha estratégia.
No alto de uma subida havia chegado no antepenúltimo posto de controle de nome Estancia Puerto Consuelo. Tratei de me reabastecer com água e isotônico, e perguntei quantos atletas haviam passado, o staff me respondeu você é o 9, confesso que retruquei perguntando se ele tinha certeza do que dissera, pois no meu consciente haviam uns 30 atletas pelo menos na minha frente, a resposta foi a mesma, você é o 9. Aquilo acendeu uma chama dentro de mim, a cabeça pedia, “mantenha-se em movimento, não para”, dei um play no meu ipod e a música que tocava era “Running child little wild”, comecei a rir, pois mais selvagem que aquilo que estava fazendo era praticamente impossível, ventos, charcos, neve, rios.

mais uma tempestade pelo caminho
mais uma tempestade pelo caminho, estava bem divertido rs

O tempo foi passando, já havia invertido de posição das roupas na minha mochila, o anorak pela outra jaqueta e não demorou eis que surgiu a 5 tempestade de neve durante a prova. Agora o frio voltava com tudo, pois estando em campo aberto o vento era fortíssimo e a noite havia chegado. 
O meu estomago reclamava de novo, tratei de tomar um sal de frutas, mas mesmo com um certo mau estar não deixava de comer e nem de tomar gel a cada 1 hora, não podia de jeito nenhum invadir a minha margem de segurança. Já estava com a minha lanterna acesa, a tempestade de neve não havia terminado, olhava para trás para ver se não vinha ninguém, tive a impressão de ter visto duas lanternas correndo rapidamente em minha direção, aquilo me deu um ânimo para me manter correndo.
A estratégia era mais ou menos essa: “Cição, no começo da música você caminha forte e logo corre no restante da musica”….caminhando eu ouvia “nas favelas, no senado” daí começava correr até o final da musica “sujeira pra todo lado, ninguém respeita a constituição” e assim lá fui eu, passo a passo, correndo correndo.
Chegando no asfalto, me deparou com o ultimo posto, posto? Que posto? Havia uma mesa, com um barril de água e outro de Gatorade, e uma barraca que mais parecia estar abandonada, passei direto e entrei no asfalto, peguei o meu celular afim de avisar a minha esposa que estava perto de Puerto Natales, mas como temia o celular já não tinha bateria.
A parte final já no asfalto era um descidão em campo aberto com a cidade no fundo e a baía de Puerto Natales do lado direito, o vento gelado companheiro de toda jornada estava ali presente, procurava seguir as marcações azuis da prova, faltavam poucos kms, mas a sensação era que cada km demorava uma eternidade. Quando cheguei na cidade, meus olhos se encheram de lagrimas, os pensamentos das pessoas queridas, da família, e todos os que me apoiaram tomavam conta. Sabia como chegar na praça onde estaria o pórtico, esperava encontrar poucas pessoas, mas pessoas especiais. E lá estavam da TRB a querida Regina, não demorou e o casal Bianca e Pedro deram aquele carinho e mais especial recebi o abraço e o beijo da minha esposa falando: PQP você é foda mandou muitooo bem!!!
 

Finisher 100km - 9 lugar no geral e 2 na categoria com 12h:32m
Finisher 100km – 9 lugar no geral e 2 na categoria com 12h:32m

Recebi a minha medalha de um garoto, de bochechas rosadas de frio e dentro uma picape da organização a moça havia me falado que tinha sido segundo na categoria e o 9 no geral. Sonho realizado, ser finisher nessa que foi uma das provas mais roots do hemisferio sul, sem dúvida é algo grandioso.

A minha singela homenagem a minha amiga de anos de trabalho que partiu repentinamente!
A minha singela homenagem a minha amiga de anos de trabalho que partiu repentinamente!

Pensei muito na palestra do Dr. Gustavo, para enfrentar grandes desafios é preciso gostar de si próprio, a tal da SOLITUDE, é preciso ter FÉ, GARRA, é preciso sentir o FLOW, que pra mim significa estar em equilíbrio fisico, mental e sentimental. Os primeiros kms eu sofri muito, tratei de fazer uma limpeza na minha mente senão não conseguiria chegar, graças a Deus tudo deu certo.
 

já no dia da premiação
já no dia da premiação

 
TRISTE NOTICIA
Sim, infelizmente essa prova vitimou o atleta mexicano chamado Arturo, não penso aqui em apontar o meu dedo procurando culpados por essa tragédia, apenas trago uma reflexão. Corro ultramaratona desde 2009, conheço alguns diretores de provas que são amigos e ouvindo muitas das suas histórias, cheguei a conclusão de que trata-se de um meio onde pouco dinheiro se ganha ou na maioria das vezes o que se tem é prejuízo e dor de cabeça, enfim, essas pessoas fazem isso por amor ao esporte, mas que fique claro, que em qualquer prova, a organização tem que investir na segurança dos atletas. O que vi no Fiord foram erros de todos os lados, nos quais eu comento a seguir com os amigos leitores.
Sobre a organização, no momento da retirada dos kits, cada documento solicitado deveria ser averiguado, cada mochila de largada checada, como houve mudança de rota de ultima hora, a participação no congresso técnico deveria ser obrigatória sob pena de punição. No dia da largada, cada atleta deveria ter a sua mochila verificada novamente, e a direção de prova instruir de como estaria o tempo naquele momento. Os postos de controle indicados no mapa deveriam estar nos seus devidos lugares, coisa que não aconteceu pelo menos nos momentos em que corria. A zona de maior risco era conhecida e por isso, deveria haver um posto medico no inicio e outro no final da montanha, além de postos de apoio que deveriam estar no alto da montanha com montanhistas experientes, onde os atletas pudessem ser orientados e rastreados e por ventura socorridos.
Da parte dos atletas, sabemos que este esporte é relativamente novo e que muitos de nós nos aventuramos as vezes por ser legal, as vezes por fazer algo diferente, as vezes para ultrapassarmos os nossos limites. Vi atletas reclamando, da camiseta, do kit da prova, da medalha, blá blá blá, vi atletas, que se quer leram o regulamento da prova, não sabiam dos riscos, e que se quer conversaram com pessoas que fizeram a prova anteriormente, ficaram sem saber o que de fato precisavam para serem auto suficiente, diferente de uma prova de rua, a prova em montanha tem muito mais riscos.
Correr montanha é muito mais do que fazer fotos e postar nas redes sociais e marcar um monte de amigos, é preciso acima de tudo, entender o ambiente no qual estamos inseridos. Saber os seus riscos nos quais estamos envolvidos, nessa prova em questão, tratava-se da segunda edição e as possíveis falhas poderiam acontecer. Querem um exemplo? Lembro do meu técnico me avisando: “Cição não dependa da organização para comer”, só isto, já fez com que eu acendesse um sinal de alerta, larguei com a mochila extremamente pesada e lá mesmo no FIORD soube de brasileiro que passou fome no meio da trilha.
Independente de qualquer coisa, o mais importante na minha opinião, é que se invista em segurança e depois disto garantido se invista em outras coisas, da parte dos corredores, que façamos a seguinte pergunta: Por que diachos eu corro montanha? Por que diachos eu faço ultramaratona? se as respostas forem positivas e partirem do fundo do seu coração ok, passemos ao próximo estágio, o da razão, se pergunte: Eu fiz a lição de casa direito? Estudei , mentalizei a prova? perguntei aos mais experientes?

Capa do jornal local dando destaque para a triste noticia.
Capa do jornal local dando destaque para a triste noticia.

Que Deus conforte o Arturo e seus familiares.
Por fim…
O meu muito obrigado a que teve a paciência de ler até aqui. Os meus sinceros agradecimentos ao Gabriel Duarte meu instrutor de musculação, ao meu tecnico Sinoca, a Cris Crisinha Cristiane, minha parceira de corrida que enfrentou com brilhantismo seus medos sendo finisher nos 70k, a minha “cumadre” Jôjô que deitou o cabelo, perdeu um dente (que belezinha, tá tudo bem agora), aos amigos da TRB em especial ao Vinicius e Elmo, a Lu da ready for e por fim um abraço quentinho a minha familia em especial a minha esposa que disse palavras mágicas que foram o suficiente para manter a minha chama acesa “VOLTA PRA MIM”.
é isso aeee…that´s all
Cição
próximo desafio – Vamos ao KTR Campos do Jordão e depois para Ásia.

A largada aconteceria dentro do Parque Nacional de Torres del Paine em frente ao hotel Rio Serrano. O transporte com os atletas sairia as 6 da manha e o ponto de encontro era do lado da Igreja Maria Auxiliadora que fica na praça central de Puerto Natales, acordei as 4:50, tomei uma ducha morna afim de acordar os músculos, e rezando baixinho fui colocando peça por peça da minha vestimenta.

Torres del Paine
Torres del Paine

 
Passei hipoglós nos meus pés (dica preciosa 1: isso aprendi com a Cris Carvalho rip), meias especiais, tenis com trava da salomon, ideal para o primeiro trecho da prova e apesar do frio fui de bermuda Salomon na qual já estou acostumado e me dá mais segurança, vesti a minha segunda pele.
Tratei de tomar um whey protein, com pão lambuzado de nutella, ganhei um abraço bem quentinho da minha linda esposa e escutei um carinhoso e poderoso “VOLTA PRA MIM S2 S2”.
Ao descer no lobby do hotel me deparei com mais atletas que fariam os 100km, que estavam tomando um chá quentinho. Tomei um susto quando ao sair do hotel, o frio era tão intenso que parecia que havia tomado um coice, saquei do anorak afiim de me manter aquecido e a espera pelo ônibus deixavam todos em silencio e introspectivos tamanho era o frio que fazia e para piorar começou a chover.
 
Anjo da guarda de todos - Lu da Readyfor

Anjo da guarda de todos – Lu da Readyfor

Avisei as meninas que largariam pros 70k e pros 50k que caprichassem nos agasalhos pois o frio prometia ser um dos mais intensos. Sentia falta de um cafe quente e de um BUFF (Aquele lenço que vivo usando na minha cabeça) este segundo era pra cobrir o meu rosto, mandei um whatsapp para Luciana da Ready For que estava hospedada no Hotel Rio Serrano, para que me emprestasse um e que me conseguisse um cafezinho, as mãos tremiam aos digitar no celular.

Abraço do vice campeão da prova Nazário
Abraço do vice campeão da prova Nazário

Nessa uma hora e meia de transporte todos os atletas tratavam de tirar um ultimo cochilo, alguns mais exaltados vinham conversando. Chegamos no Rio Serrano e fui coberto de carinho, ganhei um abraço da Luciana e de seu marido Rubão, na verdade eu que dei, talvez pela adrenalina da prova já ter tomado conta da minha cabeça e do meu coração, imagina você, eu nem havia largado e os meus olhos estavam marejados, tratei de me controlar ao encontrar com os campeões de 2015, a Manu campeã dos 70km e o Nazário campeão dos 100km, ganhei um abraço energizante dele e da Manu um dica preciosa de ajuste da minha roupa substituindo a jaqueta termal pelo anorak.

dica valiosa vinda da bi campeã dos 70km - Manu Vilaseca
dica valiosa vinda da bi campeã dos 70km – Manu Vilaseca

A DECISÃO PELOS 100KM
Tinha em mente que a distancia certa para mim em 2016 seria os 100km, restava saber se encararia a Patagonia Run ou Ultra Fiord. Talvez tenha sido o ultimo atleta da assessoria Trail Runners Brasil a fazer a inscrição para esta prova, pois tinha muitas dúvidas se conseguiria me preparar para tamanho desafio. Não me esqueço do meu técnico Marcelo Sinoca falando para quem lhe perguntasse sobre a primeira edição e a resposta era categórica: “Não indico e nem recomendo a nenhum aluno. Os motivos não eram poucos: frio, chuva, fortes ventos e uma estrutura simples fizeram da primeira edição algo incrivelmente desafiador ao ponto de deixar os relatos de atletas experientes em provas cascudas como o Marcelo Sinoca e Manuela Vilaseca serem assustadores.

pensou correr aqui?
pensou correr aqui?

A escolha pelo Fiord veio através do incentivo da minha esposa que faria aniversário no final de semana da prova e pelo meu compadre Fernando Assumpção, restava agora conversar com o meu técnico, perguntei se haveria tempo hábil para me preparar para este enorme desafio, o mesmo foi categórico: “Cição lhe conhecendo, tenha certeza que deixarei você pronto para o Fiord”. O tempo foi curto e intenso, mas aproveitei cada segundo dos treinos, incluindo os memoráveis, como não me lembrar das várias vezes em que fui juntos com os parceiros e amigos de sempre ao Reflora, Pico odo Jaraguá, Serra do Japi, o ataque sinistro ao cume do Pico do Corcovado com a rodagem insalubre de 30 km de asfalto, além da travessia do Pico dos Marins a Itagaré com mais rodagem nos estradões de terra da cidade de Marmelópolis, ali eu ouvi do meu técnico “Cição você está pronto mentalmente e fisicamente”. Confesso que duvidava um pouco daquela certeza, mas não deixava transparecer.
A VIAGEM – TURBULÊNCIA NO CAMINHO
Chegar no extremos sul do Chile não é tarefa das mais fáceis. Partimos de São Paulo com destino ao Aeroporto mais ao sul do Globo Terrestre, localizado na cidade de Punta Arenas, Já na primeira parte da viagem, entre São Paulo e Santiago, enfrentamos uma turbulência de 25 minutos, ao ponto do carrinho que auxilia a tripulação a servir os passageiros ter ficado no meio do corredor. Confesso que passei um aperto naquele momento, o estomago veio a boca varias vezes e vi muita gente rezando para que aquela turbulência passasse logo. De Santiago a Punta Arenas tudo foi mais tranquilo, Cris, Adriana e eu tratamos de tirar um cochilo. Ao descermos em Punta Arenas ja no final da madrugada, resolvemos dar uma carona para a Vivian, vinhamos de um calor de mais de 30 graus e a partir dali a temperatura beirava zero grau. Ao pegar o carro que havia reservado, olho no marcador da gasolina que apontava abaixo de meio tanque, o rapaz da Hertz me tranquilizou dizendo que dava para ir até Puerto Natales, só que não rs pois a autonomia do carro dizia que dava para rodar 250km e a distancia até Natales indicava 263km. Eu fiquei quietinho na viagem toda afim de não assustar as meninas, mas na hora em que o último ponteiro da gasolina piscava há muito tempo e faltando uns 10kms para chegarmos na cidade, eu brinquei, “sabe aquele trotinho da planilha, acho que iremos fazê-lo daqui a pouco, pois já já teremos uma pane seca rs” As meninas ficaram meio assustadas, imagina você ter que ficar parado no meio da Estrada de nome “Rota del Fim del Mundo” com certeza não é uma sensação das melhores.

Puerto Natales
Puerto Natales

PUERTO NATALES – NOTICIAS DE ÚLTIMA HORA
Dizem que todo pessimista é um otimista bem informado, com a minha neurose de se planejar tem um pouco a ver com isso, estudava várias possibilidades de como fazer a prova, o que comer? o que vestir? além é claro dos equipamentos obrigatórios. Agora, estou aqui, sentado no lobby do hotel e admirando a baía de Puerto Natales, enquanto redijo este texto fica as coisas parecem simples, mas de fato não são. Qualquer elemento que por ventura você esqueça ou simplesmente abdique, você pode pagar caro durante as varias horas em que você passara exposto ao clima inóspito da Patagônia. Olhava a previsão do tempo todos os dias e havia 40% de chaces de nevar no dia da prova, ficava imaginando, eu que nunca havia visto neve, poderia vivenciar isso durante a prova.
Retiramos o kit no Espaço Nandu, uma mistura de loja, lanchonete que fica bem ao lado da Igreja principal de Puerto Natales ambos situados na Praça das Armas. Durante os ajustes da minha mochila e dos meus drop bags, surge a noticia da organização que devido as más condições do tempo e para a segurança dos atletas as provas de 100MI, 100km e 70km teriam parte de seus percursos desviados para a rota dos 50km. A partir daquele momento a estratégia havia mudado completamente, nos 100km os dois postos com comida quente deixaria de existir, só teríamos um e no km 49, neste posto poderíamos enviar um único drop bag com as minhas coisas: (roupa seca, tênis, etc). Essa parada principal é parecida com uma corrida de formula 1, onde o piloto tem uma estratégia para parar 2 vezes do no box e derrepente a estratégia muda para uma parada só, caso isto não tenha sido bem planejado o piloto pode parar no meio do caminho.
continua….
 

Quando você conhece o Seu Maeda e a sua pousada em Marmelópolis, todos os seus sentidos são ficam aguçados. A beleza do lugar, é um encanto aos olhos, o ar puro, é um convite para que respiremos profundamente e o paladar da comida servida em abundância em sua pousada, é uma mistura de comida brasileira com a nipônica simplesmente especial. E por fim, os nossos ouvidos são brindados com inúmeras histórias de um desbravador do montanhismo no Brasil, não dá vontade de parar de escutar as suas histórias de bravura e de verdadeira paixão pelo que faz. Abaixo a história do Seu Maeda. Natural de Nagasaki no Japão em 1941 e logo ao nascer mudou-se com seus pais para a cidade de Tinampo na Coréia do Norte.
Um desbravador do Montanhismo no Brasil - Sr. Maeda lenda viva
Um desbravador do Montanhismo no Brasil – Sr. Maeda lenda viva
Seu primeiro contato com a Natureza ocorreu aos cincos anos de idade quando, na companhia de sua cidade no histórico episódio da Guerra Fria quando os soviéticos invadiram pelo norte e que culminou com a formação de dois países. Apesar da tenra de idade foi possível acompanhar  o resto do grupo,, uma vez que já tinha possibilidades de caminhar e compreender as ordens de sua mãe de quando deveria ficar calado ao esconderem-se em algum lugar da rota de fuga. Abandonadas pelas suas mães pois iriam facilmente denunciar seus esconderijos além de comprometer a agilidade do grupo. Sua mãe assim como as outras mulheres cortou seus cabelos para parecerem homens e tentar evitar alguma violência por parte dos soldados soviéticos. O fim dessa caminhada só terminou ao cruzarem o paralelo 38  ao sul e pegando um navio de volta a Nagasaki. Não seria desejável a qualquer  um de nós termos uma caminhada dessa como “batismo” de “trekking” nos dias de hoje. Mas, parece que, apesar das dificuldades, caminhar por trilhas e dormir no meio da mata despertaram desde cedo no pequeno Maeda, essa necessidade instintiva de interação com a Natureza.  
Palestra do Seu Maeda - Museu que fica dentro da pousada com reportagens e equipamentos usados em suas aventuras
Palestra do Seu Maeda – Museu que fica dentro da pousada com reportagens e equipamentos usados em suas aventuras
Aos 15 anos entrou para um grupo de montanhistas escondidos dos pais. Formou-se em Técnico em Química em Nagasaki. Com medo de uma morte prematura numa dessas escaladas e juntamente com a situação difícil do Japão do pós-guerra, para o Brasil. Na verdade, sua ideia era ir para o Peru com nítidas “intenções montanhistas” na região dos Andes. Mas na época não havia essa opção disponível então resolver mesmo vir ao Brasil, pelo menos estaria bem mais perto  dos Andes. Por aqui enfrentou dificuldades. Estudou na Escola Técnica de Laticínios de Juiz de Fora (MG) . Depois foi morar na cidade de Lorena para trabalhar no Leite Paulista como chefe de produção de queijos e leite longa vida, sendo esta empresa primeira a lançar um leite deste tipo no país. Ter a linda Mantiqueira tão próxima foi muito gratificante. Em 1975 mudou-se para Campinas para trabalhar em uma companhia japonesa com Gerente industrial. Em 1987 fundou com alguns amigos Principais Históricos CEC (Centro Excursionista de Campinas). 1990 de Maio – Primeira Excursão a Machu Pichu – Peru 1991 de Junho – Segunda Excursão a Machu Pichu – Peru 1992 de Abril –  Reabertura da trilha entre Passa Quatro e Itamonte, Travessia da Serra Fina. 1993 de Abril – Abertura da travessia Marin SP (2421m alt.) e Itaguaré MG (2308m alt.) com 35 Km de distancia; aberta por mim e o Centro Excursionista de Campinas CEC. 1993 de Dezembro – Equipe CEC conquista o topo do Aconcágua 6950m: Argentina. 1996 de Fevereiro –  Parque Nacional Caparaó ES, Pico da Bandeira 2892m. 1996 de Junho –  Escalada em Neve. Cordilheira Blanca, Pico Pisco 6020 e Urus 6000m: Peru 1999 de Janeiro – Aventura em Torres Del Paine, Patagônia Chilena 2007 de Junho – Inauguração do museu Histórico de Montanhismo Maeda & CEC em comemoração aos 20 anos de fundação do CEC e 50 Anos de montanhismo do Sr. Maeda. 2008 de Março – reportagem da Rede Globo sobre Maeda, mostrando sua dedicação ao montanhismo e a natureza e também sobre o museu do Montanhismo e a trilha Ecológica da pedra Monta e Marinzinho. 2010 de Agosto – Filmagem do documentário “Caminhos da Mantiqueira” em homenagem aos 50 anos de montanhismo do Maeda, Apoio Governo de São Paulo e Proac. 2011 de Janeiro – Reportagem exclusiva do Jornal especializado “Mountain Voices” sobre a Pousada Maeda e a Trilha Marinzinho. Muitas das trilhas em que nós surfistas de montanhas passamos, Seu Maeda que abriu pela primeira vez.
Entrada da pousada do Seu Maeda!
Entrada da pousada do Seu Maeda!
É isso, muito respeito e vida longa ao Seu Maeda.   Cição Pau no cat  

Trilha do Pico do Corcovado de Ubatuba.

A trilha começa após o campo de futebol em uma estrada bem aberta, confesso que não me preocupei muito com este inicio pois estava com Fernandinho e com o Sinoca, ambos conhecem bem o local.

Lembro-me de cruzar duas vezes por um rio, e logo demos de cara com a trilha. A partir dali era morro acima sem espaço para respirar. Sinoca, meu técnico puxava o bando de corredores, atrás íamos Robles, Mini e Eu.

Como estávamos num grupo grande, o Fernando ficou com o segundo grupo neste inicio. A sensação que tinha, era que o meu coração sairia pela boca a qualquer momento. Na medida que atacava a subida, tentava me recordar se as subidas da Serra Fina, Pedra da Mina, Capim Amarelo ou do Pico dos Marins tinha um nível tão elevado.

Parti com pelo menos dois litros de água, mala cheia para um treino de 30km. No inicio da subida, o Sinoca resolveu verificar se estava tudo bem com o segundo pelotão, e a partir dali eu comecei a puxar o primeiro grupo. Não demorou muito, tive que por em prática um pouco do que havia aprendido nesses anos de trail, dei de cara com uma bifurcação, tomei o caminho errado indo para a esquerda, esta, levaria para um ponto de água, algo que naquele momento era desnecessário. Comecei um “rasga” mato junto com o Mini até voltar para a trilha correta.

Com 1h:23m de subida, chegamos na “Igrejinha” um monumento de pedra, e logo adiante nos deparamos com uma clareira ali apreciamos rapidamente a vista, tomamos um ar e fizemos uma rápida foto.

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Continuamos atacando a subida e desta vez mais inclinada e com 1h:54m nós alcançamos o cume do Pico do Corcovado, depois de ter passado correndo pela crista do Pico, infelizmente o tempo estava nublado o que não nos permitiu que tivéssemos uma linda vista.Se alguns ao menos respeitassem, não teria recolhido tanto lixo.

A parte “chata” é que durante toda a subida recolhemos muita sujeira deixada por pessoas que não respeitam a natureza.

Ali nós comemos, nos hidratamos e tratamos de descer, pois como o tempo estava nublado não tinhamos como apreciar o visual. A sensação de parte do treino finalizado nos encheu de alegria.

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Eu, Fernandinho, Mini e o Luis Robles felizes por alcançarmos o cume.

Como eu adoro uma descida, tratei de puxar a cavalaria morro abaixo. Não sei se de propósito, meu técnico disse-me: “Cição tenho alguns alunos aqui da região de Ubatuba, que falaram pra mim que se nós batêssemos o recorde desta descida do melhor corredor local, eles irão nos pagar um jantar. Respondi a ele, vamos nessa, vamos nos divertir. Dei passagem ao meu coach e o mesmo recusou, dizendo que queria me observar na descida. E lá fui eu, ritmo acelerado morro abaixo e com o meu técnico na minha jugular rs. Seguimos num ritmo frenético até o segundo riozinho, depois de alguns ralados fechamos a descida em 47 minutos, 3 minutos mais rápidos que os locais. sorrimos um para o outro e esperamos o restante da turma, dentro do rio.Descida do Corcovado 47 minutos – brutoooo!!!

A partir dali, tínhamos mais 18km pela frente através de estradas de terra, asfalto e trilhas margeando o mar. Na parte do asfalto “parte mais chata” foi uma pancadaria geral, Thiago e Sinoca puxavam o comboio de malucos seguidos de perto pelo Fernando e logo atrás, eu e o Luis Robles. Demoramos um pouco até chegarmos nas trilhas que margeavam as praias, com um visual belíssimo passamos por praias desertas e lugares que poucos turistas conseguem chegar.

Cada um de nós sofreu o que tinha que sofrer para terminar aquele treino, mas a sensação que tivemos quando terminamos foi a melhor possível. Que venham outros treinos tão dificeis quanto e tão divertidos quanto.

Eh isso!!!

Bonstreinos

The moment of truth for a runner happens at the start the line. This is the place where you realize that you must put one foot in front of the other as a method of transport to the finish line. The training is done and the test begins. The trail will not lie. The story will not lie! Torres del Paine was ‘the place’ that provided an ideal backdrop for my wild adventure.

Photo by Graciela Zanitti - Torres del Paine
Photo by Graciela Zanitti – Torres del Paine

Due to the incredulity of the mountains and landscape, Torres made it possible for me to connect nature with emotion. So, I have a fear! I always feel this and I think that it makes me alive. If you’re not doing things that scare you, you’ll never find out how great you can be. Even today, I continue to feel butterflies in my stomach. I recall thinking that I’ve done all that I could to get here, and now it‘s just about having fun on the trails that lie before me.

torres largada

And now it begins! It is 7am at the Hotel Las Torres with a temperature hovering around 7C. The good news: no rain and no wind. Behind the start line, I can see more than 100 trail runners from all parts of the world: Chile, USA, Canada, UK, Argentina, Brazil. My ritual: to start the race behind everybody.

A few moments before the race starts, I breathe deeply, find a special sound and think of my daughters Valentina and Rebecca.

The challenge of the ‘W’ circuit, required the routing of numerous up hills and down hills, crossing of many small bridges made from wood and the need for precise footing over the countless stones and tree roots.

Foto by Graciela Zanitti
Foto by Graciela Zanitti

Oh my God, there were so many that I had stay mentally focussed to make all the necessary decisions during the race. At the 4 km mark, I found myself running behind a Brazilian competitor. My legs felt strong and my head pushed me hard. I kept focus by concentrating on putting one step carefully in front of the other.

When up hills began, I slowed myself but felt good, while on down hills I would increase my speed. At 12 km, I recognize that only the top 10 competitors remain ahead of me. These positions are usually reserved for the professionals and I’m astonished by this information, but tried to not let it add pressure on my mind. I then catch sight of some runners ahead of me. They are the sixth and seventh males. This knowledge meant harder running for me, demanding significant balance and concentration to jump from rock to rock and root to root.

At each aid station, I would stop for a quick minute to eat and drink something, fill my backpack and get back on the trail. Near me, an American and a Chilean were running so fast and I ran with them for about the next 15km. At the aid station called “Refugio British”

I took the American guy and at 29 km’s, I passed the Chilean on a hard uphill. At this time in the race, I remained in the 6 position and only 10 minutes behind Fernando Nazario, last year’s champion of Ultra Trail Torres del Paine. Definitely my trail skills grew up!

Happy Moment
Happy Moment – Photo by ultratrailtrorresdelpaine

After passing through “Refugio Italiano” and running the next 6-9 km’s alone, I saw that the map showed me being close to “Refugio Paine” (aka the finish line). To be honest, I thought I took the wrong way. I was in such a hurry and not feeling comfortable.

Sometimes I even thought about turning back to the last aid station to see what I might’ve done wrong and thought it wasn’t fair!! My Garmin indicated 39km, so when I saw the volunteers next, I asked if I’m right or wrong. They said you’re right and that I had to run until the GREY point and then turn back toward the finish line.

I tried to see my wife but was unable to. In that moment, there was a mix of emotions inside of me; happy that I was going the right way, although sad because my wife may not get to see me. In all honesty, I found myself walking the next set of hills which is all part of the game.

Finally, the last check point appeared and rewarded me with the best panoramic view of the day. It was so f’ing beautiful. I’ve never seen glaciers and icebergs so close before. I saw the front runners ahead of me. One by one, they say “good job”. I ran the last 4km fast.

Grey

Deep down in my heart, I never expected to see this happen in my lifetime. Tears run down my face and I cross the finish line in 6h:23m, securing the 6th position overall and 1st my age category.

Yes the others races were also special! My first ever ‘Vertical KM’ race, I placed in 1st position and also 1st in my age category for the 25 km distance. My cute wife also competed in both of these races, finishing 2nd in her age category and 3rd overall in the 25 km distance.

Vertical KM - Skyrunning - Phto by Graciela Zanitti
Vertical KM – Skyrunning – Phto by Graciela Zanitti

I’m a different runner now! I dedicated these races to my coach Marcelo Sinoca, who taught me a lot about trail running. To me, Torres del Paine represented everything one may look for in trails, spirit and mountains. In terms of scenery, it’s just amazing.

Special Thanks: Fred my canadian friend and Lucia.

La trás, indicado pelo meu técnico Marcelo Sinoca, eu havia feito a inscrição para a segunda edição dos 100k do Ultra Trail Torres del Paine. Porem, a direção do Parque não permitiu que a prova se desenvolvesse a noite! Acredito que tomaram essa decisão pelo fato de existirem muitos animais dentro parque, entre eles, guanacos, pumas, huemuls, zorros que parecem pequenas raposas, cavalos entre outros.
torres caballos
Acredito que por essa razão, ao invés de termos uma prova mais longa, passaríamos a ter três interessantes desafios, sendo: no sábado os 50km percorrendo o circuito W e no domingo, teríamos 1km vertical no melhor estilo skyrunning (onde os atletas sobem 1.000m em 4km), para você ter uma ideia do que estou falando,  quando subimos o Pico do Jaraguá, aqui em São Paulo, temos um ganho de elevação de mais ou menos 250 metros em 4,5km) e por fim restariam os 25km atravessando campos de neve, trilhas altamente técnicas e muito vento.
torres grey
Do aeroporto de Punta Arenas, até a largada da prova, no Hotel Las Torres, tínhamos pela frente 330kms, sendo 230k pela Estrada Fin del Mundo e mais 100k pela estrada dentro do Parque Nacional de Torres del Paine. Estrada esta, que por não raras as vezes batia um vento de mais de 100km por hora, chegando a me dar um “medinho” rs.
Nas 72 horas que antecederam a prova, tive a oportunidade de correr nas cercanias do hotel Rio Serrano, afim de testar as minhas roupas de frio e sentir a energia de um lugar belíssimo, fazia um dia ensolarado sem nenhuma nuvem no céu.
Apesar de o regulamento permitir o uso de bastões, decidi que não usaria em nenhuma das provas, não sei porque, era uma forma de homenagear o meu técnico, correria apenas com as forcas das minhas pernas e do meu coração.
No dia da prova, acordamos as 5 da manha, tomamos um transfer do hotel, junto com um casal de corredores canadenses e mais um grupo de turistas que iriam conhecer o parque.
No caminho até a largada, eu vivia uma mistura de pensamentos e sensações, será que enfrentaria o temido vento? Como seria o caminho? Quantas decisões teria que tomar? Haveria muita navegação para fazer? Enfim, o caminho até o hotel Las Torres serviu de introspecção.
Lá tive a honra de trocar algumas figurinhas com o Fernando Nazário (ultimo campeão da prova), além de cumprimentar os demais profissionais que estavam por perto, chilenos, argentinos, atletas europeus e americanos.
Fomos pra largada e me posicionei bem lá no fundo do pelotão, largando em ultimo. Momentos antes do inicio, o Fernando me chamava para alinhar com ele lá na frente, prontamente agradeci mas preferi ficar lá trás.
Acho que pra mim, isso de certa forma funciona, pois na medida em que a prova vai se desenvolvendo a minha corrida também vai se encontrando.
Um fato curioso aconteceu no dia anterior, costumeiramente, leio todas as noticias que saem sobre a prova e foi com enorme surpresa que lendo uma das matérias de um blog chileno sobre os favoritos, me deparei com o meu nome  como uma das possíveis surpresas. Achei estranho e fiquei imaginando como “diacho” ele havia parado ali. A única resposta que encontrei, foi provavelmente ter tido o meu nome citado pelo amigo Fernando Nazário.

vista do km 43
vista do km 43 – foto by Graciela Zanotti

Logo nos primeiros 5km, a prova disse ao que veio, demos de cara com uma piramba gigantesca, a tropa de elite como era de se esperar havia tomado a dianteira. E tudo isso, acontecia no meio de um vale lindíssimo com corredeiras e inúmeras pontes de madeira para serem atravessadas.
Neste momento, ja me encontrava no meio dos corredores. No 4km, já estava posicionado entre os 15 primeiros e na minha frente, ia com passos firmes o ultramaratonista de Brasília de nome Fabio. Parecia mais um atleta russo do que um brasileiro, devido a sua cor de pele e de seus olhos, tinha uma forca absurda. Mesmo aquele tipo de corrida não sendo a sua praia, o mesmo vinha aplicando toda a sua experiência adquirida nas ultras feitas no asfalto, a destacar (Spartatlhon prova de 250km na Grécia). Vínhamos num ritmo forte, ele acabou dando uma topada numa raiz por volta do 9km e resolveu dar uma segurada, perguntei se estava bem, ele me disse que sim e assim continuei firme na prova.
A partir dali, não tinha como não reparar que haviam na minha frente 8 atletas, 2 americanos, 1 brasileiro, 3 chilenos, 2 argentinos. Aquilo de certa forma, havia mexido comigo e por um segundo ao sair da trilha, tive que pular uma linha inferior de sustentação de uma barraca, e acabei não me dando conta que existia o fio na parte superior, resultado, bati o meu olho direto com tudo e naquele momento achei que tinha sido o fim da prova pra mim tamanha era dor que sentia.
Com a visão meio prejudicada, continuei firme pois me sentia leve e forte, tudo estava perfeito, tempo, alimentação e hidratação funcionando super bem. Até o 25km , éramos eu, um americano e um chileno que corríamos praticamente juntos!
Na primeira descida com muitas pedras e que exigia uma técnica mais apurada, acabei passando o americano que ia na minha frente (atleta patrocinado pela nike) e a partir dali havia colado de vez no chileno que viria passar somente no 34km.
Dali pra frente, acontecia algo que nunca havia vivenciado, liderava o segundo pelotão e corria de cara pro vento, muito perto da tropa de elite. Aquilo novamente mexeu comigo, acima de tudo agradecia a Deus, por estar ali com saúde e fazendo algo que amava.
Como essa corrida é de semi navegacao, por um momento achei que estava perdido, pois corria muito tempo sozinho e havia passado por algumas bifurcações.  Ao ver um dos mapas da trilha o mesmo indicava que o Refúgio Paine que era o fim da prova estava perto, cerca de 3km, mas o meu garmin não apontava nem 40k, daí pensei comigo: “fudeu, passei por alguma bifurcação e nao vi, vou ser desclassificado, que merda, tanto treino pra nada”
Cheguei até pensar em voltar até o último posto, afim de consertar o meu erro. Desta forma, sairia mais honrado pois assim faria os 50k do circuito W. Prometi que iria seguir adiante mais 2k e senão achasse alguma indicação de que estava no caminho certo, acabaria desacelerando.
Fiquei muito feliz, quando finalmente encontrei um fotografo da prova e o indaguei se estava no caminho certo, ele me disse sim, este é o caminho certo, mas ainda assim, fiquei na duvida devido a proximidade do Refugio Paine. Comecei avistar a chegada, e ainda a duvida pairava no ar!
Quando encontrei um pc um pouco antes da linha de chegada, o mesmo me orientou que teria que pegar a trilha que nos levava ate o Mirador Grey (ponto que da para ver uma imensa camada de gelo).
Nunca na minha vida, pensei que ao passar perto da linha de chegada e receber uma noticia deste tipo me deixaria tão feliz! Segui firme para os últimos 10km da prova que consistia subir 5k e voltar pelo mesmo caminho. Fui contando os corredores um a um, quando eu cheguei no Grey era o 6 no geral.

Chegada dos 50k
Chegada dos 50k

Pensei meu Deus que demais! Cruzei a linha de chegada em lagrimas, por inúmeras razoes, mas lagrimas de felicidade! Acabei sendo o primeiro na categoria e subindo no pódio com a bandeira do Brasil!

Sky running - KM VERTICAL - Brutalidade máxima - foto by Graciela Zanitti
Sky running – KM VERTICAL – Brutalidade máxima – foto by Graciela Zanitti

O KM vertical e os 25km aconteceram no domingo após um minuto de silencio em homenagem ao corredor argentino. Foi uma prova diferente, morro acima com alto nível de inclinação, até 3,5km havíamos tido um ganho de 500m, e os 500m finais tivemos o ganho dos últimos 500metros de elevação. Cruzei o km vertical com 1h04m sendo o 11 no geral e 1 na categoria.
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Para que iria fazer os 25km, deveria continuar na rota demarcada, passando pela montanha coberta de gelo e uma descida altamente tecnica, como muitas pedras e cheia de raízes, cruzei os 25km para 3h:45m em 9 no geral e também em primeiro na categoria.

A Nana arrasou alcançou o 2 lugar no km vertical e o 3 lugar nos 25km ambas em sua categoria.
A Nana arrasou alcançou o 2 lugar no km vertical e o 3 lugar nos 25km ambas em sua categoria.

A festa poderia ter sido melhor senão fosse a perda de um jovem atleta argentino por parada cardíaca! Rezei por ele mesmo sem saber quem ele era. Antes da premiação foi feito um minuto de silencio e naquele momento não havia um vento e nenhum barulho que pudesse ser percebido.
Fiquei feliz por mais essa experiência na minha vida mas profundamente chateado pela perda de um jovem atleta.
É isso ae pessoal! Aqui vale uma reflexão? Como vão os seus treinos? Possui uma orientação de um profissional? Como esta a sua saúde? Quando foi a ultima vez que você foi a um clinico e pediu os exames necessários para a prática esportiva?
Abraços
Cicão
 
 
 
 

Mudanças ou escolhas em nossas vidas, muitas vezes surgem por causa das palavras que ouvimos. Escolhi dois personagens que fizeram os 50km do XTERRA da ILHA BELA e as suas histórias servem de inspiração.
Primeiro personagem é o meu amigo Thiago “Mini Cooper”, o fato dele ter passado a sua juventude na Ilha, fez com que ele criasse uma verdadeira ligação com aquele lugar. Após um dos nossos treinos, eu o indaguei: Mini, por que correr novamente no mesmo lugar? em certo momento, ele me confidenciou:
“Cição, nem sempre na minha vida, eu fui magro e atleta. O que fez com que eu mudasse de hábito, foi uma frase proferida por um amigo matreiro durante a minha adolescência, aqui mesmo na Ilha Bela.
Imagina você a seguinte cena: estávamos voltando da praia de Castelhanos quando o carro cheio de amigos acabou atolando. Esse meu amigo, proferiu uma frase que pra mim foi um tiro mortal no meu coração. Sem pensar duas vezes, ele descarregou a sua AK47 cheia de palavras que atingiram em cheio o meu peito:
“Coloca o “GELÉIA” na caçamba, que o peso dele será o suficiente para sairmos deste atoleiro” todos riram muito de mim e aquilo ficou na minha cabeça por um bom tempo. “GELÉIA”, era o meu apelido. Eu sabia, que a partir daquele momento, a minha vida teria que mudar.
Hoje, eu penso no bem que este meu amigo me fez. Cição, eu adoro fazer essa prova, pois toda a vez que passo por aquele lugar, seja subindo ou descendo, as palavras dessa história passam pela minha cabeça e isso me dá forças, para ir mais rápido e feliz. Hoje eu vejo como estou cuidando melhor de mim e sirvo de exemplo para a minha filha.

Gabi - Embaixadora do XTERRA Ilha Bela - Tem dúvida que um dia correrá ao lado do seu pai!
Gabi – Embaixadora do XTERRA Ilha Bela – Alguém duvida que um dia ela correrá ao lado do seu pai?!

Antes de saberem o final desta história, esperem para ver o que as palavras fizeram com a minha amiga Cris.
A Cris é conhecida pelos amigos mais próximos da corrida como a “Anna Frost brasileira”, a sua conexão com a corredora patrocinada pela Salomon, não veem só da semelhança física  nem da arte de criar e vender semi jóias.Vem também da semelhança das suas emoções em relação a família, as viagens e as dores que foram relatadas no curta “Home” que pode ser visto no canal Salomon Running TV no youtube.
A nossa guerreira brasileira, vinha sofrendo, já fazia algum tempo, na tentativa de alinhar a força da sua cabeça, com a força de suas pernas. Havia uma dissonância, entre o querer e o poder, pois tentou algumas vezes chegar ao fim de algumas provas, e não conseguiu sucesso.
Ela acabou optando pelo Xterra de Ilha Bela. Mas, porque Ilha Bela? Talvez pelo fato de ter sido a prova mais próxima, depois de ter ouvido do nosso treinador, que como um pai querendo ver o melhor pra sua filha, disse a seguinte frase: “Cris, quando é que o seu ano sabático irá terminar? Durante os treinos, ela comentava comigo:
“Cição, as palavras do Sinoca me deram forças para sair do meu ano sabático e o XTERRA será o meu ressurgimento, anota aí o que estou falando”. Eu percebi que as suas palavras tinham tamanha sonoridade, que entrariam por seus ouvidos,  passariam pelo seu coração e invadiriam a sua cabeça, de tal forma que não haveria como voltar atrás.
Eu creio que a força que a Crisinha possui vem da adoração e da ligação que ela tem por seus pais. O Seu Enos e principalmente a dona Cleide, que com garra e fé, enfrenta o de Mal de Parkinson.
Sinto que a corrida, faz uma conexão espiritual entre a Crisinha e a sua mãe, é como se ela corresse sempre em dupla, como se os passos que a sua querida mãe não pode dar, ela desse pelas duas.
Acho que deve ser por isso, que a Cris executa os movimentos da corrida, com tamanha beleza e maestria. No XTERRA de Ilha Bela, as lágrimas que desceram do seu rosto, durante muitos momentos da prova, refletiam a alegria e o amor desta conexão com a sua mãe. 
Sim, tiveram momentos de extrema dificuldade durante a prova, mas todos eles foram superados, graças a garra e o amor existente entre elas.

A ultima corrida até então que a Anna Frost brasileira tinha finalizado!! - Mont Blanc 2014
A ultima corrida até então que a Anna Frost brasileira tinha finalizado!! – Mont Blanc 2014

O final desta história, foi apenas o final de mais um capítulo, a Cris cruzou a linha de chegada em 5 lugar na classificação geral feminina e em 2 lugar na sua categoria, mas será que isto importou para a Cris?
Duvido, ela simplesmente ao cruzar a linha de chegada, mergulhou no mar e deve ter pensado:  Obrigado mãe, por mais um vez ter me dado forças para eu ter conseguido dar um fim no meu ano sabático e a ti que eu dedico essa medalha.
Já o meu amigo Thiago, cruzou a linha de chegada não como o adolescente com uns quilos a mais, mas cruzou a linha de chegada de mãos dadas com a sua filha Gabi. Foram 50kms e apenas 4 atletas chegaram a frente ex-GELÉIA.

Mini e a sua pau no cat kid Gabi!
Mini e a sua pau no cat kid Gabi!

No fundo sou eu que agradeço a esse amigo do Mini, por ter disparado a sua metralhadora de palavras. Ele deu ao mundo um atleta querido, humilde e especial.
Tanto a Cris como o Thiago, dizem que eu os inspiro, mas no fundo no fundo, são eles que me inspiram com as suas histórias de vida e superação.
E aí? Qual é a sua história de superação? quais foram as palavras que te motivaram a fazer algo por hoje? Aliás o que você fez por você hoje?
Abraços bons treinos e pau no cat!

O MEDO:
A minha volta a Perdidos foi incentivada pela minha esposa, que em 2014 não havia concluído e tinha prometido a si mesma de que voltaria neste ano para ser finisher. E sabendo do tamanho do desafio que enfrentaria em Perdidos, fiquei com uma pulga atrás da orelha, por mim e por ela, pois tinha muito medo de não chegarmos preparados para esta prova. Nos últimos dois meses, passamos por alguns perrengues na preparação para esta prova pois ambos estavam com dores nos joelhos.

Vista do Morrro de Perdidos
Vista do Morro de Perdidos

PRÉ-PROVA:
Durante a minha preparação, procurava sempre que possível trabalhar o meu emocional. Trabalhei com frases de incentivo e sempre recorria a elas, quando achava que estava ficando desmotivado. A Maratona dos Perdidos de tão desafiadora que é, garante 1 ponto para o UTMB (Ultra Trail du Mont Blanc).
Tinha um grande  incentivo em participar desta prova , pois um grupo de queridos amigos estaria lá. Uma noticia de última hora me deixou triste,  o meu grande amigo Thiago “Mini Cooper” por motivos profissionais acabou tendo que desistir de fazer a prova. Não deixei a “peteca” cair e olhando o copo cheio, acabei tendo um insight e acabei criando a hastag #minicorremosporvc, acho que no fundo, esse meu amigo nem percebeu essa singela homenagem, mas no fundo no fundo, ele se fazia presente.
Durante a semana da prova as informações que chegavam de Tijucas do Sul, não eram lá muito animadoras, chuva, vento e frio tomavam conta das montanhas. Nessas horas, a melhor coisa que fazemos é “ver o copo cheio”, saímos sexta cedo de São Paulo com destino a Curitiba, chegamos no aeroporto Afonso Pena, o clima era péssimo. Logo depois de retirarmos o nosso kit,  encontrei um dos atletas mais carismático e forte do Brasil, o Fernando Názario, campeão de Torres del Paine, pedi para tirar uma foto e por um bom tempo, ficamos ali falando de provas e do esporte que tanto amamos.
Tão logo a noite chegou o nosso grupo se reuniu para o nosso jantar. As muchachas puxadas pela: Cris “Anna Frost brasileira”, Giovana “Jôjô”, Nãna “Sósia da Julia Roberts” e a Pri “Fotógrafa da turma e parceira”. Disse pra mim, que grupo de amigos tem uma fotografa japonesa só seu ? rs e Los muchachos: Eijiro “Samurai das Montanhas”, Gustavão, correndo pela primeira vez em Perdidos e completando o time: Fernandinho e eu, ambos Finishers em 2014. Os semblantes  eram distintos, alguns tranquilos e outros um pouco mais tensos, também não era pra menos….Perdidos se aproximava e não tínhamos mais como voltar atrás…

A PROVA: 44km – 3.000m de ascensão – Tempo Limite 10horas – Tempo de Corte nos 23km 5horas!!!

Acordamos as 4 da matina, checamos todos os equipamentos e partimos. A primeira coisa que veio na minha cabeça foi como estaria o tempo? Será que faria o mesmo frio insano que fez no ano passado? Ou Será que vai chover? As preces de todos os corredores foram atendidas, pois partimos de Curitiba com um céu estrelado, sem nenhuma nuvem no céu, com uma temperatura de 13 graus. A prova acontece no município de Tijucas do Sul, pelo menos 1 hora de carro de Curitiba. Além da nossa prova, algumas centenas de outros corredores fariam os 13km no mesmo dia.
Fizemos os ajustes finais e fomos para a linha de largada, passamos pelo funil de checagem dos equipamentos obrigatórios (headlamp, jaqueta cortavento, manta térmica). Ainda de posse dos meus bastões, tinha muita dúvida se levaria ou não, pensei comigo: “Caramba Cicero, momentos antes da largada, você ainda não definiu isto? Que corredor é você, que não planeja as coisas com antecedência?” na última hora decidi não levar os bastões. Tratei de colocar na cabeça o seguinte mantra: “faz força, mas acima de tudo divirta-se”
Momentos antes da largada e como sempre faço, rezei baixinho pedindo proteção a todos os atletas e principalmente aos meus amigos que ali estavam. Abracei todos eles e como num passe de mágica, a contagem regressiva havia começado 10…9…8…continuei agradecendo a Papai do Céu e pedi a ele, que meu pai conversasse comigo durante a prova..7…6…5…4…olhei pros lados e lá estavam boa parte dos atletas mais “cascudos” do País (Miragaia, Ivan Pires, Cleverson “o Fantasma”, Leticia Sartori “Campeã” do KTR e vice campeã dos 90km de Agulhas Negras, etc) 3…2…1 FOOOOOOOOOOOOOOOOOOMMMMMMMMMMMMM!!!!
Quando partiu a cavalaria, o que se ouvia era o barulho da trilha que era formado pela respiração dos atletas e as passadas firmes. Ajustei o meu ritmo e percebi que logo nos primeiros kms, corria ao lado da Leticia Sartori, campeã da ultima edição da prova com 6h:48m. Pensei comigo: “Cição devagar com o andor que o santo é de barro”, você fez 7h15m ano passado, correndo com bastões e neste ano sem bastões e com o terreno muito mais técnico você quer andar no ritmo da campeã?? Sossega o facho cabra!!”

Eu e a bi-campeã da prova !!
Eu e a bi-campeã da prova !! Ainda limpinhos no inicio da prova!!!

É claro que cada prova é uma prova, cada momento é um momento, mas eu não tinha como não comparar a experiência que eu já tinha em Perdidos.

Nãna encarando a subida rumo ao cume dos Perdidos!
Nãna encarando a subida rumo ao cume dos Perdidos!

Na subida para o Morro dos Perdidos sai pela esquerda para fazer um “pipizinho” e achei o meu ritmo bem confortável e de fato este ritmo havia me colocado num ritmo que me colocava no segundo pelotão. Fui procurando tomar as decisões corretas. Sabia que um pouco antes do cume do morro dos perdidos havia uma pequena trilha bastante técnica, ali passei alguns atletas que saíram mais fortes do que eu, mas que tiveram um pouco mais de cautela para enfrentar aquele pedaço, atingi o cume de Perdidos com 52 minutos. Dali em diante enfrentaríamos um charco que por sinal estava bastante encharcado. Estava logo atrás de um pelote com 3 corredores.

Pura emoção - que registro do nosso Samurai Eijiro!
Pura emoção – que registro do nosso Samurai Eijiro!

Logo que entramos no primeiro downhill. Os corredores que estavam na minha frente erraram o caminho, pegando uma marcação errada a esquerda (uma fita branca velha), eu dei um grito avisando-os que eles erraram o caminho que o correto era seguir a fita vermelha (esse senso de navegação eu agradeço ao meu técnico Sinoca e ao Fernando). Fiz o que o meu coração achava que era certo, apesar que um deles logo de cara ficou meio puto comigo pelo fato de chamar atenção deles com um grito.

Pequena no tamanho mas gigante na trilha - Crisinha Fera!
Pequena no tamanho mas gigante na trilha – Crisinha Fera!

Passei a ser o líder deste pelote, cheguei até a me aproximar do Fernando no single track mas tão logo alcançamos a descida em estrada de terra o Fernando disparou e eu optei por ser mais conservador haja vista que tinha muita prova por vir e eu estava sem os meus bastões. Fui ultrapassado por dois atletas tão logo passamos por uma boiada que ocupava um pedaço da estrada.

Assim que acabou essa descida adentramos um novo single track, ali podemos ver cachoeiras e atravessar um belíssimo rio com ajuda de uma corda. Ao cruzarmos esse rio parecia que estávamos numa pista com óleo. Aqueles que não usavam o tênis apropriado tiveram que gastar muita energia para subir por aquele caminho, toda aquela chuva que por vários dias havia caído nas montanhas daquela região se fazia presente.

Os kms foram sendo conquistados um a um por vezes caminhando forte por outras correndo. Uma das dicas que aprendi nesses anos de corrida em montanha foi que um corredor experiente também anda na subida, mas este corredor anda com inteligência, com um propósito, que é o de não esmorecer na primeira dificuldade. E assim lá fui eu a cada subida.

Cheguei no km 23 com 3h05m de prova exatamente o mesmo tempo do ano passado. Lá dei de cara com o Fernando, Ivan Pires e outras caras conhecidas, não demorou um minuto eis que surge a Leticia (1ª colocada feminina). Ali era o momento de eu me dar de presente o que eu havia prometido. Saquei a minha mochila tirei meu xburger e devorei-o com um soft drink chamado coca cola…vocês conhecem? Rs
Um staff olhou pra mim e disse? Xburger? Eu disse: “aqui está o segredo do sucesso brouuu!! Tempo de parada 4 minutos, parti sem esmorecer rumo ao morro de Aracatuba.
Sabia que havia uma subida insana para ser enfrentada e um donhiill muito louco antes de encararmos a ultima subida que nos levaria ao Morro de Aracatuba (1.674m) o ponto mais alto da prova. Fui ultrapassado pelo Fernando, por um jovem corredor que corria com um shorts da Asisc. Procurava me mantr focado e subir forte de acordo com as minhas condições, tão logo o primeiro ataque acabou, começamos a descer Leticia e eu. Demos de cara com alguns corredores de eleite voltando reclamando de que não havia fitas de marcação.
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Num primeiro momento achei estranho, pois me lembrava bem que havia passado por aquela trilha no ano passado. Mesmo com uma duvida no ar eu e o Fernando resolvemos arriscar e continuar descendo sem marcação, alguns atletas voltaram e nós apostávamos em nossa intuição. Tomamos um meio banho de agua fria, quando demos de cara com uma porteira fechada (pensei “pqp” será que de fato estamos errados?? Resolvendo continuar morro abaixo, abrimos a porteira e continuávamos descendo naquele estilo “cheirando a enxofre” tamanha a pancadaria….a fila era mais ou menos assim: Fernandinho puxando o pelote, eu fugando no cangote, no meu calcanhar vinha a Leticia, atrás dela, o Ivan Pires e mais 3 atletas, imagina só a socação de bota que foi este pedaço da prova. Não demorou muito e as marcações voltaram. Dali tivemos a certeza de que algum mau intencionado tinha arrancado as marcações.
Saímos num estradão de terra, alcançamos o famosos milharal onde tivemos o nosso numero de peito picotado. Aproveitamos e avisamos a organização do que havia corrido e eles logo mandariam alguém naquele ponto para corrigir a marcação.
Naquele ponto encontrei o Miragaia, o mesmo havia tido alguma contusão e acabou desistindo da prova. Começara o ataque ao morro Araçatuba. Vejo a Leticia na minha frente pegar duas madeiras e fazer delas bastões que auxiliariam na sua subida. Eu pensei comigo, siga o mestre, acabei achando um pedaço de madeira e fiz o mesmo.  Para chegar no cume do Morro você precisa fazer 02 ataques, o primeiro por um single track muito íngreme e outro por um charco de uns 4 kms que ao longe você consegue ver o cume, mas enfrentar esse charco é um tremendo desafio. Cada passada muitas vezes você afundada seu pé até a canela, você consegue imaginar como é correr dessa forma?

Fernandinho segura aeee meu rei!!!
Fernandinho segura aeee meu rei!!!

Tão logo cheguei ao ponto mais alto da prova o Morro de Araçatuba, começaria ali a descida, eram cerca de uns 14km até a linha de chegada. A descida era bem técnica, conforme os kms foram passando eu ficava mais sozinho na trilha. Faltando uns 3km para o final enfrentamos um single track de barro puro, onde os atletas que tinham feito os 13km haviam passado antes dos atletas dos 44km. A situação era “periclitante”, simplesmente barro até a canela em todo trecho. Olhava pro meu relógio e o que me motivava era chegar antes das 7h:15m de prova. Logo que terminei esse trecho aos trancos e barrancos cheguei na estrada de terra e avistei os staffs que indicavam o caminho rumo ao pórtico de chegada.
Fui tomado pela emoção, deixei que o meu pai falasse comigo e as lágrimas não demoraram pra cair. Gostaria de compartilhar uma frase : “Valorize teu pai, tua mãe, tua família, teus amigos, valorize os que estão ao seu lado, a vida não avisa quando eles irão partir.’
OS AMIGOS:
Infelizmente a nossa guerreira Cris sentiu fortes dores na lombar e achou melhor parar no km23. pois como havia sido finisher em 2014 sabia que a segunda metade iria exigir demais dos atletas.

A emoção de ser finisher em Perdidos!!!
A emoção de ser finisher em Perdidos!!!

O primeiro a terminar a prova foi o Fernandinho um pouco acima de 7 horas, eu vim logo em seguinda com 7h:13m, o Gustavão foi batizado em alto estilo, pois conseguiu ser finisher dentro do tempo limite de 10 horas, o Eijiro o nosso “Samurai das Montanhas” realizou seu sonho também.

Alegria de ser Finisher - Fernandinho voou baixo !!!
Alegria de ser Finisher – Fernandinho voou baixo !!!

Gustavão e Luiz chegaram juntos - amigos da Trail Runners Brasil!
Gustavão e Luiz chegaram juntos – amigos da Trail Runners Brasil!

A chegada mais emocionante foi sem dúvida da Giovana que apesar de ter batido o tempo limite de prova manteve-se firme cruzando a linha de chegada com lágimas nos olhos, ela foi recebido por todo o grupo que a cobriu de carinho.

Chegada do Eijiro "Samuirai das Montanhas"
Chegada do Eijiro “Samuirai das Montanhas”

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Momento fã: Aqui um momento de destaque e orgulho, pois se teve alguém que tinha muita dúvida se seria capaz de terminar esse desafio, essa pessoa era Nãna. Lembro-me que na noite anterior a prova, num momento somente dela, escutei ela chorando baixinho, a leitura que fiz naquele momento, era como se ela pedisse aos céus, forças para terminar aquele desafio prometido há 1 ano atrás.

O seu rosto diz tudo! Superação vs Mimimi venceu: Superação!!!
O seu rosto diz tudo! Superação vs Mimimi venceu: Superação!!!

Sabem o que aconteceu? A Nãna não só foi finisher como foi  1 lugar na categoria, terminou de mãos dadas com outra corredora, ato mais simbólico e forte que existe no trail run.
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Bom gente, sinceramente nem sabia se iria escrever este post. Fiquei na dúvida, mas sinceramente, acabo achando que a minha maneira louca de relatar as minhas emoções podem servir de ajuda ou de inspiração para uma outra pessoa.
CURIOSIDADE DOS EQUIPAMENTOS:
TENIS: SALOMON S-LAB FEELCROSS -> Tênis com excelente grip, o que ajudou muito a encarar a subidas com muito barro.
MOCHILA: SALOMON S-LAB -> extremo conforto, fácil acesso para pegar as coisas.
MEIA: DRYMAX -> sempre tive muito cuidado com os meus pés, pois na única vez em que não tomei este cuidado quase desisti de uma prova. Mesmo correndo com os pés 90% úmidos não tive qualquer sinal de bolha.
BERMUDA: SALOMON -> o que me atria nas bermudas da salomon, são os vários bolsoa que ela possui, assim consigo carregar várias coisas durante a prova.
IPOD: Trilha sonora rock and roll, black music e 4 musicas (forrós em homenagem ao meu pai)
Parabéns ao Tourinho da TRC pela organização.
Sugestões:
1) o locutor tem que ser fera, é um momento único de cada atleta (chama o galo véio do Bonato de novo, ou convida a Fabi que faz locução pra Shubi);
2) o setlist precisa inspirar e envolver os atletas e quem esta na arena;
3) a premiação poderia ser do 1 ao 5 por categoria, mais reconhecimento, mais divulgação;
Agradecimento Especial: Ao Dr. Mauricio do Instituto Cohen, que em todos os momentos me ajudou a ver o copo cheio, tratando do meu joelho não só com a orientação precisa bem como com mensagens de incentivo. Definitivamente a forma como ele cuida de seus pacientes transcende a parte racional da profissão. Obrigado Mauricio!!!
galera trail

É isso aeee galera !!! Beijos bons treinos e pau no cat!!!