Nas provas do Mont-Blanc, você não recebe uma medalha, mas sim um colete do patrocinador levando o nome da prova e FINISHER. Quando você possui um desses significa, simplesmente, que você chegou lá, findou uma das provas mais duras do planeta. EU CONSEGUI, SOU UM CAMPEÃO!
No momento de receber a “medalha”, a mulher que me entregou disse: “Parabéns você é um Campeão, merece receber esse colete. La Vest Tant Desriée”.
É meus amigos esse foi o meu relato do que aconteceu no Mont-Blanc. Se você leu toda a evolução chegou até aqui e conseguiu ler linha a linha, obrigado pela paciência. Se não leu tudo, continue acompanhando o meu blog, muitas coisas do meu universo de corridas e ultramaratonas ainda virão.
E lembre-se sempre: se você tem um sonho, lute por ele todos os dias até que vire uma realidade. Não importa quantos obstáculos você tenha que enfrentar.
Para tudo na vida, há um começo. ;D
Minhas grandes medalhas: minha esposa e meu colete.Meu resultado do UTMB: eu venci!
A última subida, meus amigos, era um verdadeiro paredão de 3 km, demorei um bocado para conseguir chegar ao topo. Tinha que fazer mais força com uma perna do que com a outra isso e isso acabou me cansando bastante, o que poderia me prejudicar adiante, já que tínhamos ainda uma descida absurda composta, no início, por uma corda para que nos pudéssemos descer em segurança e, depois, por pedras. Por fim, seríamos agraciados por uma trilha estreita que findava numa ponte de madeira, aparentemente muito frágil (só aparentemente, mas balançava muito).
Km 102
Àquela altura km104, já não gozava de forças para desenvolver uma velocidade da qual estava acostumado, fui ultrapassado por diversos Ultras. Tinha me programado para fazer toda essa prova em 25 horas, mas ao olhar o relógio percebi que não seria possível. E a estratégia era simplesmente cruzar a linha de chegada.
Km 109
Às duras penas consegui alcançar o km 111, em Les Houches, e faltando 8 km para o fim, as minhas forças vinham do coração e não mais das pernas.
Dores surgiram em diversas partes do meu corpo, uma após a outra. Entrei na trilha que tinha como destino Chamonix e ainda consegui trotar por alguns kms quando, de repente, tive o melhor encontro da minha vida. Dei de cara com a minha esposa que veio ao meu encontro a fim de me apoiar. Uma mistura de emoção com alegria tomou conta do meu coração e algumas lágrimas surgiram. Ela me acompanhou até a chegada e pouco antes de entrar no centro de Chamonix, peguei uma bandeira grande do Brasil e me cobri como se fosse o meu manto sagrado.
Feliz com o final de mais uma descida.
Dali em diante, sabia que era a minha apoteose, a cidade já havia acordado, as ruas já estavam lotadas, as pessoas me aplaudiam e saudavam me chamavam de campeão, gritavam Bravo!, Supérrr. A bandeira brasileira continuava me cobrindo e a cada passo que eu dava vinha um filme na minha cabeça: a minha mãe rezando por mim; lembranças do meu pai ainda vivo me dizendo “DIN (assim como ele me chamava), nunca desista do seu sonho”; das minhas palavras às minhas filhas Valentina e Rebecca: “Papai vai conseguir”; dos amigos que tanto me incentivaram e treinaram comigo (alguns deles, como o Edinho, Thiago, Daniel, Cris) e o André, que me colocou na vida das trilhas. E jamais poderia esquecer a minha equipe de suporte. A começar pela esposa que amo demais, que sempre me incentivou e esteve ao meu lado (inclusive em muitas provas), do meu técnico Gabriel (esse é o cara!), que tinha certeza de que eu conseguiria. Pensava também o quão orgulhosos essas pessoas ficariam de mim e, principalmente, o quanto eu estava orgulhoso de mim mesmo.
A cada pessoa que me saudava eu agradecia, e a cada mão que eu tocava eu me sentia como um herói. Faltava apenas uma curva fechada a esquerda, pensei “Meu Deus, eu consegui, obrigado”. Parei embaixo do pórtico final, frente à igreja de Chamonix, virei para o público e para a cidade e me curvei como se agradecesse ao Mont-Blanc a oportunidade que ele me deu de concluir essa que é a mais bela prova de trilha do mundo.
Ganhei um abraço emocionado do meu sogro, como parecendo não acreditar na minha chegada, minha sogra me esperava com um sorriso doce e recebi um beijo recheado de amor da minha esposa. Alguns brasileiros amigos estavam lá e registravam com fotos a minha emoção.
A emoção da missão cumprida. 119 km, 27h56.
Cheguei a Coldu Joly, o km 86. Pude fazer todo o processo de comer, me hidratar e sentar para ver, com calma, o que tinha acontecido com a minha lanterna reserva, foi quando descobri que ao cair o compartimento das pilhas se abriu, a sorte foi não perder nenhuma pilha. Resolvido este problema e consegui dar sequencia com nova iluminação. Nessa parada pude ver o meu celular e tinha recebido ligações de alguns amigos e mensagens em especial da Cris Faccin, companheira de treino, e do Daniel Dadi. É impossível não pensar em todos os amigos durante a prova, pois tempo se tem de sobra (rs).
O trajeto entre os quilômetros 86 e 95, foram de descidas e terreno plano, o que foi importante para soltar um pouco as pernas imprimindo uma velocidade maior. Um fato engraçado foi ter enfrentado uma neblina densa e de ter passado por um pasto cheio de vacas, que causavam uma sinfonia dos sininhos de seus pescoços (e não estavam nem ai para aqueles malucos corredores).
Cheguei de madrugada em Les Contamines, uma comuna francesa situada na região administrativa de Ródano-Alpes, e desta vez fui para a minha última troca de roupa. Estava bem frio e a minha equipe estava bem preocupada com a minha situação, pois já fazia um bom tempo que não nos víamos, desde o km 50.
Eu não tirava da cabeça uma estratégia de corrida planejada com o meu técnico, o Gabriel. Se eu chegasse ao km 95, nada mais iria me parar, chegaria em Chamonix de um jeito ou de outro, pois faltavam apenas duas subidas insanas e duas descidas destruidoras. As descidas eram as piores para mim, pois além de serem verdadeiros penhascos, eram formadas por pedras, muitas dessas soltas.
Chegando em Les Contamines, km 95, 3:14am. Tempo de prova: 20h14. Apoio fundamental vinda da equipe.
Lá veio ela, a subida insana no Km 99. Mas lá estão elas… da lua e das estrelas iluminando as montanhas, resolvi atacar a penúltima descida e por um segundo cometi mais um erro bobo, porém gravissimo: tirei os olhos da trilha por um instante para arrumar a passagem de agua da minha mochila e acabei pisando em um buraco, prendi meu pé, torci o tornozelo e bati forte a minha canela. Naquele momento pensei que o sonho tinha acabado pelo barulho que fez e pela dor que senti. Parei no mesmo instante, respirei fundo e aproveitei o corpo quente para continuar a correr, mesmo “manquitolando”. Aqui tive mais uma prova de que toda atenção é pouca. Toda atenção é pouca.
Hora de voltar à prova. Dei de cara com mais subidas insanas e descidas destruidoras de pernas. Perto da região de Lagite, Km 74, o meu estômago começou a tentar me derrubar e para ajudar eu tinha que enfrentar mais uma ‘belíssima’ subida. As minhas forças praticamente sumiram e por muitas vezes fui ultrapassado (esse não é um fato relevante numa prova desta distância), e o fato de não conseguir acompanhar o ritmo dos demais nas subidas começou a me preocupar.
Estava sofrendo demais e confesso que cheguei ao ponto de pensar em desistir. Repetia mentalmente “você precisa pensar em uma solução rapidamente”. Busquei energia num pedaço de pão, chocolate, um mix de frutas secas com amêndoas e coca-cola (cuidadosamente guardada desde a última parada, justamente para me ajudar caso a dor no estômago seguisse). Chega um momento depois de muitas horas de prova, em que a gente não aguenta mais ingerir gel de carboidrato e, para piorar, um dos itens que mais funcionaram comigo durante os treinos, que era a ingestão de pure de batata, não tinha saído nada bom no hotel.
O que me restava? Comecei a rezar. Primeiro baixinho. Começou a esfriar e coloquei a jaqueta corta vento, começou a chover. Era hora de começar a rezar em voz alta. Eu e muitos outros corredores (rs). Estava claro pra mim que não era vergonha pedir aos céus uma ajuda. E rezei. Rezei com todas as minhas forças.
O tempo foi passando e para “ajudar”, a bateria da minha primeira lanterna começou a dar sinais de que iria acabar. Parei, abri a mochila, peguei a lanterna reserva e a mesma caiu no chão. Coloquei na cabeça, guardei a outra e comecei a correr. Em 5 min. de corrida, a nova lanterna se apagou (era só o que me faltava naquele momento). Ligava novamente, mas ela só ficava acesa por alguns momentos e depois se apagava. Parei novamente, guardei a lanterna reserva peguei a lanterna anterior e coloquei no modo economico. Já avisei minha equipe de apoio que precisaria de uma bateria reserva para chegar até o final da prova. Esse processo de tirar a mochila das costas, abrir, fechar e colocar nas costas parece simples mas não é, é demorada e suficiente para esfriar o seu ritmo.
Nas descidas eu me sentia um pedaço de carne passando pelo moedor. Nas subidas, os passos estavam demasiadamente lentos, me comparava a um carro subindo a ladeira com o freio de mão puxado. Mas eu não deixava de pensar: vamos adiante, um passo na frente do outro, que esse mal estar vai passar. Por algumas vezes parava para respirar e em uma dessas paradas, enviei uma mensagem para a minha esposa, com um texto curto e direto: “Não vai dar, está dificil. Rezem por mim”. E dela eu só recebia palavras de incentivo: “Vai dar sim. Você é guerreiro. Não desista. Estamos aqui torcedo por você”.
Naquele momento, uma série de imagens e pensamentos vinha a minha mente: a imagem do meu falecido pai, da minha esposa, dos amigos e principalmente da minha filha Valentina, que me disse quando viajei para França “papai, você vai trazer a medalha pra mim?”. Eu disse: “papai não voltará sem essa medalha”. E também não dava para esquecer o conselho do meu amigo Thiago Mini Cooper: “Velho, você termina essa prova nem que seja engatinhando, rastejando, mas vai terminar”. Valentina, uma das minhas inspirações (e minha futura corredora).
Já eram mais de 7 horas de prova e eu me sentia muito forte, foi quando cruzei pela primeira vez a minha equipe de apoio. Tinha chegado ao km 50, na comunidade francesa de Bourg St Maurice. Alí eu teria a primeira troca de roupa, encheria o compartimento de água da minha mochila, escovaria os dentes (você não sabe o peso que isso tem, rs. Amir Klink disse certa vez, ao perguntado do que mais sentiu falta em uma expedição na Antardida: “ter esquecido a minha escova de dente”). Em St Maurice foi uma parada rápida, pois além de não ter muitos corredores, tratei de dar agilidade às minhas ações, foram 31 minutos contra os 90 de 2010 (tempo gasto no km 50 no CCC).
A maior injeção de ânimo, no entanto, foi o fato de encontrar pessoas queridas, ouvir da sua família palavras de carinho é uma dose de calor e de incentivo que te faz recarregar as energias. Mas talvez ali, o fato de não ter dado atenção a um pequeno sinal de desconforto estomacal, poderia ter feito com que eu não tivesse tido problemas nos quilômetros seguintes. A ingestão de um simples sal de frutas seria uma boa solução, mas como estava energizado pela minha Equipe-Família, resolvi seguir em frente deixando para resolver este problema na próxima parada, 40 km para frente. Meu primeiro erro.
Saindo do checkpoint no quilômetro 50, em St Maurice.
Sabia que dali em diante, a prova ficaria muito mais dificil. Já se passara os 50 km, tinha feito calor durante todo o dia e a temperatura iria cair tão logo o entardecer chegasse. Dei sequencia na minha estratégia até o quilômetro 66, em Cormet Roselend, era o posto de troca dos Ultras que tinham enviado suas roupas para a montanha via organização (talvez por dois motivos: esses corredores não tinham uma equipe de apoio ou, simplesmente, usaram demais esse recurso para dar sequencia a sua prova). Era um posto importante, pois podiamos nos alimentar, nos hidratar e, para quem precisasse, descansar um pouco.
Aqui algo bem inusitado aconteceu: chegando neste posto, dei de cara com um coordenador/ animador de prova que, ao ver que eu era do Brasil, começou a falar Brésilll ao microfone. E eu não tive dúvida, me aproximei do microfone e gritei para todos BRASIL IS HERE (rsrsrs), isso me fez encontrar alguns amigos, entre eles o Giovanni, conhecido de outras provas no Brasil, e o Decio, ambos extremamente gentis em suas palavras de apoio, além de terem segurarado a minha mochila enquanto eu comia e me hidratava. Pode parecer bobagem, mas quando se chega a um checkpoint, você fica meio desnorteado com tantas coisas que é preciso cuidar ao mesmo tempo, além de manter o foco na prova, por isso toda ajuda é sempre muito bem vinda.
Uma diferença importante das provas de rua e das ultramaratonas é que, nesta segunda, o respeito e a cooperação são muito mais importantes do que pontos e posição. É comum ver alguém “prejudicando” o seu tempo para auxiliar um colega de prova.
É muito justo dizer que o Décio é um corredor muito mais experiente do que eu, ele já fez o TDS e era sabedor do tamanho do desafio, as palavras dele foram de total acalanto quando disse: “Cição essa prova é dura meu velho, mais você está bem demais continue assim”. Já o Giovanni, um querido, me reconheceu como amigo da grande Paula Narvaez: “Você não é o Cição Pau no Cat?”.
Décio e eu: apoio e boas risadas no KM 68.
Vamos, Allons, Andiamo, Go Brasil!
Acordamos em Chamonix, França, às 3h30 e nos dirigimos ao ponto de partida dos ônibus que levariam os atletas para Courmayer, na Itália. São 20 km de distância, cerca de 30 minutos, que separam atletas do mundo inteiro do local da largada.
Sentando ao meu lado, um francês que mais parecia um jogador de basquete, gigante e simpático perguntou de onde eu era. Quando falei que era do Brasil, ele abriu um sorriso e me indagou se no Brasil existiam montanhas como estas que íamos enfrentar. Sorri e disse que existiam lindas montanhas no Brasil, mas não com neve (rs).
O início do TDS é diferente de tudo que já experimentei na América do Sul. Imagine uma festa gigantesca, um mar de pessoas, música no volume máximo e uma dança maluca puxada pelos coordenadores da prova. Imagine ter 1500 corredores – qualificados, loucos, experientes – que partiriam em debandada rumo aos Alpes em direção a França. Ansiedade, tensão e diversão misturadas.
Corri aqui em 2010 e sabia que teria que ajustar a minha velocidade para que eu pudesse ir um pouco mais rápido e não pegar muita “muvuca” nos checkpoints (onde é preciso registrar a sua chegada, obedecendo às regras da prova com limite de tempo que podem te desclassificar).
Momentos antes da largada em Chamonix: Temperatura 5°C.
Start! Comecei num ritmo confortável, porém mais forte que em 2010 não deixando que meu batimento subisse demais e procurando aproveitar a incrível energia das multidões, das belas paisagens e da minha experiência adquirida nos últimos anos.
Os primeiros 19 km passaram num piscar de olhos, pois estava preocupado com o tempo de corte no primeiro checkpoint. A primeira barreira de horário estava localizada em La Combal e o horário máximo para cruzar era 11h30, eu passei por lá às 9h26, o que me deu tranquilidade.
Nas subidas, eu constantemente seguia num ritmo muito bom, tomando cuidado para não atacar demais as descidas e preservar minhas pernas para tudo o que ainda viria. O meu plano previa uma corrida mais confortável de forma que na somatória geral tivesse um bom ritmo de prova de montanha.
Carregava em minha mochila muitas coisas, entre elas as minhas pílulas de incentivo: foto do meu pai, escapulário de Nossa Senhora e uma pequena bandeira do Brasil pendurada.
A natureza e o lindo dia colaboram para uma prova com ainda mais garra.
Não sei exatamente o motivo, mas me sentia um atleta importante, representando o meu país com toda a garra de um campeão. Éramos dez brasileiros naquele desafio e era um orgulho imenso só o fato de estar ali. Por todos os pontos em que passava, as pessoas gritavam no bom francês, italiano ou em inglês: Allons, Andiamo, Go Brasil! É gratificante e emocionante ouvir palavras de incentivo e saber o quanto somos queridos, cheguei a ouvir a Aquarela do Brasil em francês. Foi ótimo.
Cheguei a Chamonix uma semana antes da prova. Foi como viver um sonho, viver no paraíso: o estilo de vida é perfeito para quem goste de viver em plena harmonia com a natureza e com os demais seres humanos, já que a cidade prevê o respeito máximo ao próximo.
Chamonix é uma pequena cidade francesa encravada entre as montanhas dos Alpes, entre as fronteiras da Suíça, Itália e França. Atrai todos os anos milhares de turistas, pela beleza singular da região, pela gastronomia e pelos esportes. Atualmente é a capital mundial dos montanhistas e trekkers, amantes do esqui alpino e das montanhas. Alguns dos maiores esquiadores e alpinistas mundiais nasceram ali ou praticam anualmente na região.
Fiquei aguardando na fila a entrega pro cerca de meia hora e rapidamente milhares de corredores do mundo inteiro formavam uma imensa fila. Algo comum na fila eram as expressões de sorriso com uma certa apreensão. Existe uma vistoria rigorosa nos itens obrigatórios de prova.
E a Retirada do kit: mistura de emoção e excitação.
A retirada do Kit é como um ritual sagrado da prova. É quando você sente que chegou o momento de realizar o sonho, que agora é a hora de colocar em prática tudo o que foi duramente treinado. E lá vou eu!
Ter uma equipe de apoio é fundamental para encarar o TDS. A minha equipe era a melhor de todas: minha família. Convidei os meus sogros e levei comigo a minha esposa Adriana, minha grande incentivadora, apoiadora em tempo integral.
Tivemos algumas reuniões sobre o planejamento da prova para acertarmos os detalhes logísticos, como a identificação dos postos, trocas de roupa, alimentação especifica entre tantos outros detalhes.
Equipe de apoio formada pela minha família sogros e esposa.
Já estávamos afiados com as necessidades da prova. E lá fomos nós!
Nos 3 anos que separaram a minha primeira ida ao Mont-Blanc da edição 2013, eu praticamente abandonei os treinos em terreno plano, bem como as provas de rua. Virei um apaixonado por terrenos irregulares e sempre que possível saía em busca de alguma trilha para treinar.
As provas que fiz neste intervalo de tempo serviram pra que eu pudesse ganhar mais corpo e experiência como corredor de trilha. Não sou atleta profissional, sou um atleta amador que corre por diversão e prazer, mas que se empenha ao máximo.
Chegada dos 100km do Cruce de Los Andes em 2013 ao lado da minha esposa.
Foram 8 meses de preparação, abdicando horas de sono, as saídas com os amigos e encontros familiares. Ao fazer uma opção como esta, a nossa vida fica extremamente regrada e com um planejamento rígido para tudo: dormir, comer e treinar.
Com treinos de segunda a domingo, alternando com sessões de massagens, acupuntura e muitos KMs acumulados em treinos duplos, manhãs e noites no mesmo dia… alcancei em algumas semanas, praticamente 200 quilômetros rodados.
Unindo determinação, foco e treino não tem como não “chegar lá”!
Completar o UTMB 2013 era um desafio pessoal. E eu me preparei como nunca.
Três anos se passaram. Muitas provas depois e mais experiente, decidi que no ano em que faria 40 anos, era hora de voltar ao Mont Blanc para fazer o CCC.
Para estar qualificado para o Mont-Blanc, é preciso de pontos conquistados em provas similares. Eu já tinha os pontos dos 80k do Desafio das Serras, de 2012, em São Paulo. Eis que, em novembro passado, ao tentar fazer a inscrição para o CCC, acabei não conseguindo por não ter sido sorteado. Restou-me fazer a inscrição para a temida TDS: 119k, saindo da Itália e chegando a França com 7.250m de desnível acumulado.
É uma das provas mais “linha-dura” do planeta. E confesso que borboletas pairaram no meu estômago – só quem conhece as trilhas do Mont-Blanc sabe a dificuldade que uma prova desta nos impõe -, mas isso não impediu que abrisse um tremendo sorriso no rosto e aceitasse esse desafio.
A partir deste momento, tudo muda. Treinos ainda mais intensos, mais determinação e muita garra. E não tem como não lembrar o apoio do amigo João Noya e de meu Pai, que falecera duas semanas antes da prova qualificatória, me dando ainda mais força. Sempre foi e sempre será uma das minhas grandes inspirações. Obrigado ao João pela paciência e por ter lhe colocado pela primeira vez numa prova de trilha.