Exemplo de superação, dedicação, alegria e amor. Ela nunca se escondeu atrás do problema auditivo, sempre vê o mundo de forma leve e sincera. Dizem que por trás de um grande homem, existe uma grande mulher. No meu caso, este ditado ficou de ponta cabeça: pois ela vem a frente. Grande mulher, esposa, mãe, doceira e esportista, enfim, é uma Pau no Cat Girl. Me dá um autógrafo? Adorei a matéria, pois a sua história serve de inspiração para milhares de pessoas.
Quem quiser, basta ler aqui abaixo ou na Revista o2, edição 128.
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Você sabe o que é Neuroma de Morton? A lesão, que tem causa desconhecida, acontece, geralmente, em pessoas que usam sapatos apertados na ponta dos dedos ou pessoas com uma biomecânica ineficiente, como por exemplo, os atletas de corrida que forçam muito as pontas dos pés durante as passadas.
O Neuroma de Morton é uma pequena massa que se forma ao redor do nervo plantar comum, aquele que passa em baixo do pé. Também conhecido como “metatarsalgia de Morton”, “neuralgia de Morton”, “neuroma plantar” ou “neuroma intermetatarsal”, a lesão é um neuroma benigno no nervo plantar interdigital. Este ocorre comumente entre segundo e terceiro dedos, raramente entre terceiro e o quarto dedo do pé.
Esses neuromas são mais frequentes no lado esquerdo e raramente são bilaterais. Além disso, 86% dos pacientes acometidos são do sexo feminino. A incidência no terceiro espaço é de 80% das vezes, enquanto no segundo espaço é de 16%.
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A principal queixa das pessoas com este tipo de lesão é uma dor no antepé ao andar ou ao ficar de pé. Essa dor se origina no metatarso e se irradia para toda extensão do pé. A pessoa pode sentir uma queimação no antepé e, algumas vezes, amortecimento dos dedos. A hiper extensão dos dedos durante a descarga de peso, como ocorre no agachamento, na subida das escadas ou na corrida, podem aumentar os sintomas.
O diagnóstico se dá por exames clínicos (histórico do paciente e tipo de dor), ou físicos (apalpando o local de dor). Também é possível fazer exames complementares que servem para afastar a possibilidade da dor ser originária de alguma fratura.
Tratamento
O tratamento clínico deve ser feito sempre com orientação médica especializada. Os anestésicos geralmente aliviam razoavelmente os sintomas. Já os corticoides associados aos anestésicos locais dão um resultado mais duradouro.
Outra saída é a utilização de órteses para a planta do pé que eleve o arco plantar. Esse tipo de tratamento tem sido muito eficiente. Em alguns casos a trava no calçado, na sola do sapato também permite uma melhora da dor.
A fisioterapia também é de extrema importância para o alívio da dor. Para isso utiliza-se correntes analgésicas, laser, ultrassom, alongamentos, entre outros métodos. Somente quando estes tratamentos não dão resultado a cirurgia é recomendada.
 
Texto cedido pelo amigo e coordenador do Setor de Fisioterapia do Instituto Cohen, o Dr. Maurício Garcia.
Imagens: Site WebRun e Uol Esporte

Minha primeira ultramaratona foi na edição de numero 8ª do Cruce de Los Andes, em 2009. Neste ano, o desafio começou na fria cidade de San Martin de Los Andes, na Argentina, com fim na cidade chilena Mamuil Malal (“no meio do nada” – rs). Meu parceiro André e eu, percorremos cerca de 100 k pela Patagônia. Com o passar dos anos essa prova tornou-se uma das mais famosas da América do Sul, o que me faz ter fortes sentimentos em relação a ela. Foi nessa prova que passei admirar ainda mais a natureza, e vi o quão pequeno somos e, ao mesmo tempo, o guerreiro que existe em cada um de nós.
Foi nesse Cruce, que cresci como atleta e aprendi a ter uma relação de sentimento especial com as montanhas: é um tipo de corrida que envolve respeito ao próximo e ao meio ambiente. É uma corrida que tem na sua essência, ensinar aos corredores de primeira viagem a vivenciarem uma série de sensações, nas quais você precisa estar maduro para enfrentar: percorrer uma ultradistância pela primeira vez, dormir em barraca, tomar banho gelado em rio, usar banheiro químico, etc. Cá entre nós, não é para qualquer um. Por outro lado, tudo isso faz parte de um ambiente, onde o contato com a natureza é diário e quando se está correndo pela montanha, você entra em um estágio único de contemplação ao que de mais belo existe. E te proporciona uma constante conversa consigo mesmo.
Em 2009, eu ainda cheguei a participar desta prova na versão “old school”. O que isso significava: a prova só existia na versão em dupla e eram no máximo 500 duplas, tínhamos que montar e desmontar a nossa barraca (minúscula diga-se de passagem), cada atleta só podíamos pegar 1 tipo de comida, optando por massa ou frango além de outras regrinhas.
O Columbia Cruce nasceu em 2002, a fim de unir à Argentina com o Chile, por 3 dias, através dos Andes. E já na sua primeira edição, reuniu 300 participantes que atravessaram a fronteira destes países sobre montanhas e maravilhosos senderos.
Cruce é uma corrida destinada a pessoas que querem iniciar nas provas de trilha. É um evento sob medida para pessoas que viajam nas montanhas por uma questão de renovação pessoal e espiritual. A prova valoriza o bem estar das pessoas e das paisagens muito mais do que tempos e registros (vale lembrar que os brasileiros são multicampeoes nessa prova, cito, como exemplo a Cris Carvalho).
Então, quando eu visitei pela primeira vez o Cruce em 2009, o desafio se tornou físico pelo fato de eu ter me machucado logo no primeiro dia e ter conseguido terminar a prova, como se acendesse uma chama e uma paixão de guerreiro dentro de mim. E junto disso, cresceu a humildade, além do respeito pela natureza. Respeito aquelas montanhas, humildade para ver atletas superando a minha performance e superando as próprias marcas, e garra para enfrentar as minhas dores e os meus medos durante aqueles 100 k.
Quatro anos se passaram e tive a oportunidade de fazer novamente essa prova, em 2011 e em 2012. Mas era um novo Cruce de Los Andes, com uma infraestrutura de dar inveja a qualquer maratona de rua do mundo: helicópteros, fotógrafos, drones, camping já montados, comida e bebida a vontade, barracas de atendimento médico de alto nível, e gora você pode até fazer o percurso na versão solo. Hoje, o Cruce possui inúmeros patrocinadores podendo atrair quase 3000 corredores de dezenas de países.
Temo apenas que o Cruce não cresca demais e não vire uma prova que atraia milhares de corredores que venham por modismo e não entendam a essência da corrida em trilha. Temo que o Cruce vire uma “loteria” no futuro, onde que os amantes da trilha tenham que lutar por uma vaga. Quero continuar tendo admiração pelo Cruce, quando vemos e torcemos para que os últimos finalistas cruzem felizes pelo pórtico de chegada com a garra estampada nos rostos. Esse é o espírito que faz corrida de montanha ser tão especial. E é o espírito para a qual devemos permanecer fiéis.

Grandes companheiros. Grandessíssimos esportistas.
Grandes companheiros. Grandessíssimos esportistas.
Acampamento do Cruce de Los Andes 2009.
Acampamento do Cruce de Los Andes 2009.
Amigos e eu após o Pórtico de chegada.
Amigos e eu após o Pórtico de chegada.

Poderia ser uma dica de como decidir pelos eventos e compromissos de final de ano e aliviar a correria e o estresse. Mas nesta matéria de hoje do Jornal Valor, Seção Carreira, colaborei com as minhas experiências. Mais uma vez, falo sobre o quanto a corrida contribui para a minha vida profissional (e para a maratona de final de ano). Vale a leitura!Jornal Valor, 28/11/2013, Página D3, Seção Eu&Carreira

Jornal Valor, 28/11/2013, Página D3, Seção Eu&Carreira

E você, qual sua estratégia para sair “ileso” da maratona de fim de ano?
 
 

Na maioria das vezes olhamos a lesão esportiva pelos fatores físicos causais como periodização, sobrecarga de treinamento, acidentes, fadiga, mas negligenciamos o fator psicológico e emocional do atleta.
É quase impossível separar as consequências físicas de uma lesão com a assimilação mental do que ela pode causar ao atleta. De imediato, o atleta enfrenta a dor física e quer se ver livre dela o mais breve possível, mas logo se apresentam as respostas emocionais, questionando “Porque tem que acontecer comigo?”, “Justo agora?”, “Eu sabia!”, e estas abordagens tomam controle da situação.
Sem perder o foco, a procura de um médico especialista, fechará um diagnóstico preciso e fará um tratamento clínico adequado e um programa de reabilitação que respeitará o tempo biológico da recuperação do tecido afetado, lembrando que não há “mágica” na recuperação de uma lesão esportiva.
O que observamos claramente nestes períodos que o atleta fica afastado das atividades esportivas, é que há uma reflexão profunda de alguns conceitos de treinamentos e metas, que o recolocam dentro de uma realidade mais palpável e quebra de paradigmas que o afastam do que é considerado ideal da pratica esportiva.
As reações do atleta às lesões esportivas são previsíveis e devem ser trabalhadas e respeitadas pela equipe de reabilitação, onde os comportamentos emocionais do pós-lesão são inevitáveis. A negação, a raiva, a pena e a depressão são momentos de reflexão que darão subsídios para as fases de reintegração e reabilitação, onde o equilíbrio emocional e novas metas trarão de volta a autoestima e a alegria de viver.
Texto cedido pelo amigo e coordenador do Setor de Fisioterapia do Instituto Cohen, o Dr. Maurício Garcia.
Imagens: Site CorredorTrainer

É uma doença degenerativa da cartilagem articular da superfície posterior da patela, que produz dor e desconforto ao redor ou atrás da patela. É comum em jovens adultos, especialmente em jogadores de tênis, futebol e corredores.
Quais são os sintomas?
Os principais sintomas são dor na região anterior do joelho ao subir e descer escadas, ao permanecer sentado por tempo prolongado e levantar (Sinal de Cinema), ao correr principalmente em terrenos íngremes, ao agachar; “ruídos” na região da patela ao flexionar e estender o joelho; edema que são decorrentes pelo excesso de líquido na articulação.
Quais as causas?
As causas da condromalácia estão relacionadas ao mau alinhamento da patela, ocasionando desgaste da mesma, desequilíbrio muscular – quadríceps VMOxVL, encurtamento muscular – região posterior da coxa, alterações anatômicas tanto do fêmur quanto da patela – patela alta, pronação do pé, rotação interna do fêmur etc. Existem também os microtraumatismos de repetição, comuns em esportes de impactos e o uso inadequado de aparelho de ginástica como step, leg press, miniagachamento, o que acaba sobrecarregando a articulação femoropatelar.
Quais as indicações de tratamento?
O tratamento inicial deve ser baseado nas causas da lesão. Após diagnosticada, é iniciado o tratamento fisioterápico com o objetivo de diminuir o quadro de dores e anti-inflamatório, além do ganho de flexibilidade e reequilíbrio muscular. É importante durante o fortalecimento muscular avaliar o limite de extensão e flexão de joelho, para não piorar o estado da cartilagem na patela. Durante o tratamento é preciso tomar algumas precauções como, por exemplo, evitar exercícios e esportes de impacto, evitar subir e descer escadas, colocar gelo na região após os exercícios e longa permanência sentado ou com a perna cruzada. Se não houver melhora do quadro após o tratamento conservador, será necessário realizar a cirurgia através da artroscopia, que restabelece a biomecânica da articulação. Hoje existem medicamentos condroprotetores, para prevenir ou regredir a lesão na patela.
Condromalacia-Patelar
Para ter o diagnóstico e tratamento certos, sempre consulte o seu médico e fisioterapeuta. Segurança é tudo.
O Dr. Maurício Garcia, do Instituto Cohen, colaborou com esta dica.
Imagens: InfoEscola e WebRun.

O Mountain Do 2013 – Circuito de Charme é um conjunto de corridas individuais de montanha realizadas em diversas cidades da América Latina, que apresentam variações em sua altimetria e que reúnem, ao mesmo tempo, belezas naturais e uma excelente infraestrutura. A escolhida da vez foi a etapa de 18k de Campos do Jordão, justamente porque essa cidade, além de ter seu charme, é um verdadeiro parque esportivo a céu aberto.
Como treino todos os dias, me senti preparado para esta prova, sem precisar de um treino específico (a meta do ano eram os 119k do UTMB, e ela já está realiza). Fui pela vibe do lugar e por estar correndo com grandes amigos: o Gus, o Vasco e a Cris Faccin.
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No dia da prova, 9 de novembro, saí de SP por volta das 9h e cheguei a Campos do Jordão às 11h30, indo direto para o centro de Capivari retirar o meu kit, onde fui impressionado pela estrutura e educação dos staffs da prova. Agora só bastava fazer coisas boas até a hora da prova… De almoço, uma pasta bem leve. Na sequencia, fui à casa do meu amigo Vasco para bons papos e ‘fazer hora’ até a largada.
Fazia naquele sábado, um calor da Bahia na “Suíça brasileira”, algo em torno dos 30°C, acabei errando na vestimenta. Daí que vejo alguns atletas, inclusive um dos meus amigos, preparando-se para correr sem camisa. Pensei “um dia chega o meu dia de Anton Krupicka (famoso ultramaratonista americano que corre no melhor estilo minimalista… e sem camisa)”. Pouco antes da largada, iniciei o ritual pré-prova: me besuntei  – rs – de protetor solar, pus a faixa na cabeça, coloquei os óculos e disse pra mim mesmo “corra no seu limite, foque na prova, mas curta a natureza em todo percurso”. Por fim, desejei boa sorte aos meus amigos, procurei um som que se enquadrasse naquele momento (neste caso, The Seed 2.0, do grupo The Roots) e pernas pra que te quero.
Costumo a dizer que a trilha nos coloca em nosso devido lugar, é muito bacana você ver atletas de diversas idades, peso, altura e sexo correndo lado a lado com você. De cara, os corredores “tops” montaram um primeiro pelotão e sumiram da minha vista. No quarto pelotão, não sei ao certo, saía eu e mais uns 8 atletas. E na medida em que a corrida ia se desenrolando esse grupo foi se desfazendo: uns porque saíram forte demais e “quebraram”; outros porque usavam tênis de rua numa prova de trilha, não garantindo segurança em suas passadas e tinham que acabar reduzindo; e outros mantinham o ritmo do inicio da prova e acabavam abrindo dos demais.
Como disse, ia correr no meu limite e o instinto me fez, por toda a prova, atacar as descidas, subi forte as pirambas e, no plano, dava um “pau no cat” ao ponto de sentir o coração saindo pela boca. Ultrapassei alguns corredores e fui ultrapassado por outros. E a cada ultrapassagem, nos cumprimentávamos com olhares, sorrisos (uma das coisas mais bacanas neste tipo de prova).
Corri lado a lado com o Seu Mario, um cara de 54 anos e que faz 10k em 38min (da assessoria do Adriano Bastos), foi uma honra chegar a poucos segundos dele em uma prova bastante técnica, pois encontramos tudo que uma prova de trilha precisa ter.
Fechei a prova em 1h34, o Vasco em 1h31, o Gus em 1h26. A Cris Faccin foi o nosso elemento surpresa, terminando a prova em 5° lugar no geral feminino e em segundo lugar na categoria, levando mais um troféu para casa. Voltei de Campos com uma sensação boa… de ter curtido a prova, ter reencontrado grandes amigos e ter vistos grandes figuras do Trail, como a Tomiko, ultramaratonista; o Tião, fotografo; o locutor “maquininha” que enlouquece e emociona a todos com o seu grito de ‘parabéns’ para cada atleta que cruza a linha de chegada; o Emerson Bisan, o rei das maratonas e um batalhador na luta contra o diabetes. Enfim, tem como não amar realizar um esporte como este.
Mensagem para os meus amigos leitores: Nunca deixe ninguém lhe dizer que você não pode fazer uma coisa.

Mais um - feliz - fim de prova.
Mais um – feliz – fim de prova.

A TOP Magazine é um publicação que traz matérias incríveis sobre o life-style de luxo. Acho tudo muito incrível nela, de matérias a publicidade. E é por isso que fiquei imensamente feliz e honrado em receber um convite para falar da minha mais desafiadora experiência (até agora, claro) no esporte.
Leia abaixo a minha entrevista. Mas se preferir ler pelo site, é só clicar aqui.
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Em breve, receberei imagens de uma outra entrevista dada à TOP, quando completei o Cruce de Los Andes. Em breve, também estará aqui. 😉

Eu não corro para ganhar a vida. Treino para correr em montanhas e fazer provas de longa distância. Em muitos aspectos, isso é uma delícia. As coisas exigidas por este hobby são, na maioria das vezes, as que eu mais amo fazer. Posso correr, percorrer trilhas, escalar montanhas e viajar pelo mundo. É o tipo de hobby que sempre sonhei em ter e quero mantê-lo por um longo tempo. Sinto que sou o cara mais sortudo do mundo.
Mas ser um corredor “amador” não é nada fácil. Trabalhando em um emprego formal, cumprindo horários, resta a mim, assim como para outros milhares, treinar nas extremidades do dia e aos finais de semana. Tudo isso é bem divertido, apesar de necessitar de tempo, esforço e dedicação.
A única coisa que os meus familiares e os meus amigos me pedem, geralmente, é que eu vá bem nas corridas. Isso não é uma coisa tão razoável de pedir, pois cada prova é uma prova, cada treino é um treino. Não que eu me sinta forçado a fazer algo, mas me cobro em realizar um certo número de corridas com qualidade. Por mim e por eles.
Não existe pressão alguma vinda do lado de fora, mas uma pressão que vem do meu interior. Estou em casa – é 1h da madrugada -, tentando processar as provas que realizei neste ano e pretendo compartilhar todas aqui neste espaço. Muitas coisas vão passando pela minha mente. São intensas as emoções que atravessam o meu coração.
Me sinto mal quando me inscrevo para uma prova e desisto sem nem ao menos ter ido competir. Aquela pressão interna aparece de forma cavalar. Eu me sinto mal por não terminar o que comecei. Valorizo os corredores que, se estão num dia mau, optam por desacelerar e acabam terminando a prova no meio ou final do pelotão. No final do dia, eu quero ser o tipo de pessoa que termina o que começa, pois o desafio é mais do que ganhar.
Trata-se de experimentar as diferentes variáveis que uma corrida de montanha pode apresentar.
E me sinto mal por decepcionar meus familiares e meus amigos. Quando eu disse que não tinha conseguido terminar o CCC, em 2010, as perguntas eram sempre “Oh! Por quê? O que houve? O que aconteceu?”. Não porque eles não me apoiaram ou deixaram de acreditar em mim, mas não sabiam, até então, o motivo do fim da prova, já que essa foi uma corrida totalmente diferente, na qual a montanha deu as cartas e poucos conseguiram ir adiante.
Por isso, fiz da corrida de trilha um estilo de vida e não uma obrigação que me garante o sustento. É se é por puro prazer, me sustenta, mas de outras formas: de inspiração, de garra e de dedicação. E se todos nós optarmos por dedicar algum tempo e esforço para atividades que nos interessam, teremos sim o sustento, mas de nossas necessidades interiores.
Hoje sou incrivelmente feliz por ter a oportunidade de realizar um sonho em um nível amador, mas com uma agenda de semiprofissional. E quero acreditar que tanto eu, quanto as pessoas que acreditam em mim, possamos melhorar a cada dia.
Por fim, minhas experiências até agora me mostraram, que os melhores aprendizados vêm de falhas, por isso não tenho medo de seguir em frente, sempre esperando ser brindado com alguma sabedoria, seja no curso dos meus treinos ou nas exigentes provas de montanhas.
Sorte (na vida e nas corridas) para você que teve paciência de ler até aqui.  ; )

Foto: AdventureMag
Foto: AdventureMag
A pequena Valentina.
A pequena Valentina.

Minha querida Valentina,
Estou sendo honesto por causa de você e da Rebecca e sempre serei. Eu já tinha visto essa pergunta em seus olhos algumas vezes, mesmo antes dela sair da sua boca.
Mais do que seguir em frente para a próxima corrida, os meus sentimentos e as minhas preocupações têm dois nomes: Valentina e Rebecca.
Muitas vezes as palavras ficam paradas no ar. Aos cinco anos de idade, esperar duas horas por mim é algo interminavelmente longo. E isso, é claro, permite apenas em curto prazo, que eu compare com as horas de trabalho, onde saio pela manha e volto à noite, talvez a resposta seja a mesma para a pergunta que você acabou de me fazer: Filha, papai vai sair para fazer algo importante e volta depois.
Quanto mais velho fico, as horas mais felizes são aquelas em que estou com vocês no meu colo, ou fazendo algum tipo de brincadeira: pega-pega, esconde-esconde, desenhando ou vendo um desenho. Qualquer coisa com vocês.
A consciência de tempo ou de prazo de validade é algo que as crianças têm muito menos em relação aos adultos, e que bom que seja assim. Graças a Deus. Eu realmente fico aliviado em saber que essa noção do tempo não é palpável para você filha. Eu comemoro isso, mesmo sabendo que um dia você saberá que o tempo é implacável e não para um só segundo.
Pelo olhar em seu rosto, eu posso dizer que você já decidiu que eu não estava lhe ouvindo. Ou que eu não tenho qualquer intenção de responder a sua pergunta, mas eu respondo: Estou tentando responder melhor todos os dias, ou melhor, eu tento ser melhor todos os dias.
Muitos outros filhos, maridos, esposas, parceiros, pais, amigos fazem essa mesma pergunta aos corredores espalhados por todo mundo. Cada um deles tem merecido uma resposta honesta, assim como cada pessoa que é indagada é igualmente merecedora de seu direito de não fornecer uma resposta. Mas estou tentando para você.
Grande parte da minha resposta eu encontro nas sensações que você e sua irmã me enviam. Sabe como? Quando as vejo correndo pela casa ou pelo quintal. São as mesmas emoções que experimentei quando toquei em suas mãozinhas quando vocês nasceram. É a mesma emoção quando eu e a sua mãe testemunhamos seus primeiros sorrisos, as primeiras palavras, os primeiros passos, enfim testemunhamos as etapas exploratórias e são sentimentos semelhantes que me tocam quando corro por aí. Todas essas revelações iniciais e descobertas inspiradoras são ligações com um mundo tão impressionantemente belo, quanto este mundo que me é revelado por você, de  apenas cinco anos.
Sorrisos verdadeiros e genuínos e o coração feliz é a norma entre ultramaratonistas e isto ocorre sem sermos politicamente corretos, é como se tivéssemos nossos 5 anos, sedentos por descobrir novas paisagens, novas sensações, novos sentimentos. Esse franzir na sua pequena testa revela sua frustração em tentar, mas não conseguir compreender esta minha última frase. Mas eu não poderia estar mais feliz do que saber que você não precisa se preocupar com as restrições que este mundo nos impõe.
Eu vou dizer isso de outra maneira. Você não gosta de escuro, não é? Eu ouvi você falar com a sua irmã para que não apagasse a luz, observei sua postura quase exigindo que a luz fosse acesa imediatamente. Mas a vida é cheia de lugares escuros, Valentina, e eu também me canso desses lugares escuros. Por favor, não confunda o meu desejo e a minha paixão pela corrida como uma necessidade de fugir do mundo.
Há tanta coisa para amar… a nossa família, nossa casa, nossos vizinhos, a escola e o trabalho.
Você e eu conversamos muito sobre equilíbrio, tanto no sentido físico de evitar uma queda no parquinho ou para subir em sua bicicleta, mas para receber o segundo tipo de equilíbrio, que ajuda a nos sentirmos bem, que nos faz aproveitar ainda mais os momentos que estamos juntos é preciso acrescentar algo em nossa rotina que amamos muito fazer, assim como você ama suas brincadeiras, a escola, suas atividades, em meu caso, isso significa a corrida. Ao invés de servir como uma fuga, o ato de correr me impede de ficar tonto e de perder de vista tudo o que há para amar em um mundo às vezes muito louco… me dá este segundo equilíbrio. Posso até perder meu equilíbrio físico dando um passo em falso e cair durante uma descida, mas o resto da vida parece girar um pouco menos fora de controle, graças ao tempo que dedico na trilha.
Eu suspeito que não faz muito sentido o que estou falando, não é minha filha? Mas é verdade.

Valentina e Rebecca.
Valentina e Rebecca.

As Crianças
Lembrando o quanto eu amo a sua mãe, você e a são fáceis e não requer nenhum lembrete, mas as outras coisas podem ser esquecidas tipo: pagar as contas, ir ao supermercado, até mesmo o fato de não poder apreciar a nossa casa…
Duas, Quatro, Oito, Doze, 24 ou mais horas correndo e nos meus pés muitos quilômetros de esforço, faz com que eu tenha um jeito engraçado de fazer a minha casa parecer algo muito mais muito precioso.
Gosto das corridas solitárias, tanto quanto gosto daquelas compartilhadas. Tudo há perspectiva, tudo traz um benefício maravilhoso de correr muito, mas ainda não cheguei na resposta honesta à sua pergunta.
A resposta, voltando ao meu ponto anterior, é a alegria. A Inocência. Que, infelizmente, é passageira. Um compromisso irrestrito dos sentimentos com a natureza é o que mais me aproximam da inocência, que ajudam a restaurar a ingenuidade, que faz com que cada nova descoberta seja um milagre.
Estar correndo já é o suficiente, mas o acoplamento do ar livre com a corrida, me deixa ainda mais gratificado. Quando corro, não estou cansado. Quando corro, tudo posso ver, ouvir e sentir. Se vi, ouvi e senti de novo, experimento pela primeira, segunda, terceira vez… uma de cada vez.
Quando eu corro, Valentina, eu me sinto feliz. Eu realmente gosto de correr. Eu fico totalmente imerso na corrida, sem qualquer interferência. Não é algo que eu estou lendo ou vendo na tela da televisão e reconhecendo como felicidade. Está acontecendo ali dentro de mim. Dentro de mim e ao meu redor.
É a mesma alegria desimpedida que você experimentou – e seus pais amáveis – com os primeiros sorrisos, as primeiras palavras, os primeiros passinhos. É o brilho surpreendente em seu olho quando você acenou para mim antes do seu primeiro dia no jardim de infância e o orgulho correspondente que me trouxe lágrimas aos meus olhos.
Lembre-se de como você estava animada para me mostrar que você pode pintar sua família numa folha de papel ou de fazer uma linda coreografia no Dia das Mães. É isso, filha, a alegria que a corrida me dá.
Corrida para baixo, corrida para pintar novas trilhas ou percorrer antigas trilhas. É como voltar a ser criança e brincar de pega-pega ou de esconde-esconde.
Não é maravilhoso, Valentina?
Por favor, filha, nunca perca a sua mais recente conquista, a sua mais recente descoberta. Nunca deixe ninguém dizer que o seu sonho não será possível de ser alcançado. O mais importante pra mim é estar ao seu lado e da Rebecca, para ver o sorriso de cada descoberta e apoiá-las em cada momento difícil. Talvez vocês encontrem no tempo o prazer de correr e saber que a corrida será uma das fontes para que vocês possam voltar a serem crianças, que possam encontrar uma conexão, equilíbrio e amor. E eu vou estar lá para ajudá-las a comemorar.
Ahhh como estou ansioso para um dia lhe perguntar “por que você faz tudo isso?”, e quero ajudá-la a decidir melhor e como fazer muito mais.
Amo você para sempre e em cada momento.
 
Papai.